Walmir Rosário | [email protected]
Aos poucos vou me acostumando com as propostas apresentadas pelos candidatos no rádio e na TV. Não preciso nem mesmo prestar a atenção sobre os cargos que pretendem se eleger. Nem precisa, não vou mesmo votar neles, mas, pelo menos, vou anotando os absurdos "vomitados" durante o horário eleitoral gratuito, "herança maldita" legada a nós pelo regime militar, num rompante de abertura.
Só que, naquela época, um dos ministros, mais precisamente o da Justiça, dizia, no rádio, jornal e na TV, não ter nada a declarar. E não tinha mesmo, quer dizer, pelo menos para que pudéssemos ouvir. Caso teimasse em dizer, não seria assunto para todos, teríamos que tirar os menores e as mulheres da sala, por serem impublicáveis os assuntos.
E o senhor ministro da época resolveu nos legar essa herança, só que, como ele, sem nada a declarar, pelo menos de viva voz, acho que para evitar constrangimentos maiores. Nesse caso, o ministro em questão estava coberto de razão (a rima é proposital), pois um locutor ou os caracteres na telinha fariam parecer menos piores.
Mas como a história somente se repete em forma de farsa – "A história se repete, a primeira vez, como tragédia, e a segunda, como farsa", para ser mais fiel -, eis que os democratas contrários às ações dos militares continuam "pongando nelas até hoje. Nem sonham em mudar o sistema, pelo contrário, se apoderam cada vez mais com afinco.
E nós aqui, esperançosos e ufanistas, teimamos em prestar a atenção nesses programas eleitorais, por termos o péssimo costume em acreditar que tudo, um dia vai mudar, e para melhor, imaginamos. Só que pensamos exatamente ao contrário desses senhores e senhoras useiros e vezeiros da prática de publicidade enganosa.
Não tivesse eu – mesmo um crente incorrigível – a capacidade de discernir a verdade de mentira, teria uma dificuldade enorme em escolher o candidato na próxima eleição. Teria que escolher os meus representantes num jogo ou qualquer tipo de sorteio, para não ficar com a consciência "doendo" por ter votado num cidadão qualquer, posteriormente considerado politicamente incorreto.
Ser eleitor pode nos causar esse tipo de problema. Ao se alistar na Justiça Eleitoral, os eleitores deveriam ser imunizados contra os inusitados candidatos, folclóricos, exóticos, abusadores da nossa paciência. Como não temos esse privilégio, nos resta, então, ouvir, ouvir, desconfiar, não levar a sério e dar boas risadas, para evitar um infarto ou qualquer uma dessas doenças da moda.
Não utilizar essa "fuga" é um "prato cheio" para se contaminar com as verborragias que fazem mal ao fígado, ao cérebro e ao nosso país, caso um elemento desses seja eleito. E o pior, diversos deles são levados aos cargos em todas as instâncias, sem executivo ou legislativo.
Mas, na democracia, esse é um risco que temos de correr, mesmo que continuemos inconformados. Um conselho: não se resigne, continue indignado, não tenha temor de ser chamado de radical, negativista, radical. Mantenha sua coerência, não esmoreça, aja com racionalidade, sendo intransigente sem perder a tolerância, se proteja das emoções, das lábias com discurso e elogios fáceis.
Confesso que minha vontade era dizer que você não tenha vergonha de comentar com os amigos que desligou o rádio, a TV e foi jogar conversa fora com o vizinho de casa ou da mesa ao lado. Mas não estaria sendo sincero comigo mesmo.
Aqui também faço um esclarecimento: esse artigo não foi elaborado num momento de depressão, desespero, abatimento moral, alucinação ou esquizofrenia, mas por não querer ser considerado um idiota por candidatos sem propostas e sem compromisso com a sociedade.
No dia 3 de outubro esterei lá cumprindo minha obrigação de cidadão na seção eleitoral em que voto.
E vou votar consciente, isso eu garanto!
Walmir Rosário é advogado jornalista e editor do site www.ciadanoticia.com.br, onde esse artigo foi originalmente publicado