Quando o tema se esgota em si mesmo, um rodapé define tudo e pode ir um pouco além.
Adylson Machado
Se gritar PEGA! não fica um!
De Carlos Chagas, na Tribuna da Imprensa eletrônica de 18 de setembro, tratando das trapalhadas atribuídas a Erenice Guerra: “E não se diga que tudo aconteceu apenas no governo Lula, porque buraco ainda maior foi aberto e tapado no governo Fernando Henrique, com as privatizações”.
Razão tem o jornalista, especialmente depois da matéria de CARTACAPITAL acusando Verônica Serra de quebra de sigilo de 60 milhões de correntistas e associação à nebulosa Verônica Dantas, irmã de Daniel Dantas – beneficiário de privatizações.
Ouvidos moucos
E falando em espionagem e corrupção, andam esquecidas no noticiário as ações da Governadora Yêda Crusius do Rio Grande do Sul (PSDB) e o escândalo no Distrito Federal (DEM).
Coincidências à parte, não são administrações petistas. Apenas enganos de uma tucana e de um democrata – anunciado vice para José Serra até ser afastado do Governo do Distrito Federal.
Esperar
Eduardo Anunciação (POLÍTICA, GENTE, PODER, Diário Bahia, 16): “Brilhante escrevendo, os livros de Cyro de Mattos não têm repercussão, não vendem”. Para o articulista, o escritor “não consegue pagar suas despesas, não consegue sobreviver, não consegue viver dos direitos autorais de seus romances, de suas poesias, de seus contos”.
Caro Eduardo, não se surpreenda se, a partir de suas considerações, o Presidente da FICC promover manhãs de autógrafos.
Ouça o povo de Ferradas
Daniel Thame, no mesmo Diário Bahia: “Fundação Cultural de Ilhéus, em parceria com instituições públicas e privadas, está se mobilizando para comemorar em 2012 os 100 anos de nascimento de Jorge Amado”, destacando “a homenagem dos ilheenses” ao escritor “que levou Ilhéus e a Região Cacaueira para os quatro cantos do planeta”. Louva a praieira pela “permanente divulgação” da obra amadiana, Ilhéus e Jorge “nomes indissociáveis”, enquanto “na cidade onde Jorge Amado nasceu, a memória do escritor é solenemente ignorada”.
Certamente Daniel Thame não estava no Brasil ou se encontrava impossibilitado de ouvir rádio, acessar internet ou assistir à TVI, nem leu jornais locais.
É que, exatamente no dia 9 de agosto, em Ferradas, fora lançado pela ACODECC e a ACARI, presente o Prefeito Municipal e alguns Secretários, o projeto voltado para a celebração do centenário de nascimento do ilustre ferradense, com cobertura da imprensa, inclusive de O TROMBONE (ver “Jorge, 100 anos Amado” e “Não aprendeu a lição”, de 10 de agosto).
Muito antes de Ilhéus!
Exonerações
O Prefeito Nilton Azevedo assinou decretos exonerando comissionados, alguns muito próximos de sua campanha. Sinalização de que as finanças municipais não andariam nos trilhos.
Caro Prefeito, quando se trata de finanças públicas, o problema não está na falta de recursos, mas na ausência de controle e planejamento. Ou no excesso de amizades.
Se alguém duvidar e engrossar o choro de muitos prefeitos, recomendamos uma conversa com Padre Agnaldo, Prefeito de Firmino Alves.
(A propósito do Prefeito Nilton Azevedo, disponibilizamos, para releitura, Azevedo, o secretariado e o futuro, publicado em dezembro de 2008 e reproduzido aqui).
Equidade
Inegavelmente, o maior frisson nestes dias o sai-não-sai de Geraldo Simões, encenado no palco do TRE baiano. Correligionários, tensos, rezando para que a decisão fosse revertida; adversários acendendo velas e acumulando farofa em encruzilhadas, exultantes com o indeferimento.
Afastado o mérito da causa, seria uma injustiça o indeferimento da candidatura de Geraldo, tantos os semelhantes gatos pardos no escuro, já absolvidos por esse mesmo TRE.
Elimine um ficha suja perto de você
O melhor julgador do político deve ser o próprio povo. Para verificar se este ou aquele político lesa o erário bastaria o eleitor verificar os sinais exteriores de riqueza do candidato e familiares.
Quem defenderá o povo
Quando se enaltece a “ficha limpa” (como se caráter e vergonha na cara decorressem da edição de lei) veremos a Câmara dos Deputados pior no que diz respeito à representação de anseios populares.
Por estranho que pareça, ao tempo em que a eleição de Dilma Rousseff sinalizaria para a ideia de tomada de consciência do eleitor, teremos – segundo levantamento do DIAP – a bancada ruralista sendo ampliada na Câmara dos Deputados. Com ela, certamente, a dos banqueiros, a dos especuladores etc. Que esperar das reformas que tanto precisamos?
Endoidou de vez
Zé Serra anuncia, no programa eleitoral: aumentará para 600 reais o salário mínimo, a partir de 1º de janeiro; no interior de São Paulo: que cuidará de todas as estradas vicinais do País.
O salário mínimo, que vige a partir de janeiro, está vinculado à futura Lei Orçamentária Anual elaborado sob o manto da Lei de Diretrizes Orçamentárias. Não fora o impacto fiscal decorrente da diferença, entre 538,00 (previsão que pode alcançar 550/560) e os 600,00 prometidos, somente depois de sua posse Serra poderia viabilizar a promessa, por Medida Provisória.
A complicada engenharia (legal e fiscal), para quem se declara planejador, soa mais para demagogia do que para efetiva competência. Até porque não declina a fonte dos recursos.
Se o fizer, com base na expectativa do PIB 2010, ano que ainda não terminou, seria reconhecer o sucesso do atual governo.
Demagogia
Por outro lado, José Serra sabe que estradas vicinais (as que cortam o interior de cada município), são de responsabilidade de cada um deles, desde a construção à manutenção. Inserem-se no universo da iniciativa municipal, dentro dos limites fixados pela Constituição Federal (art. 30), para a organização e o ordenamento do seu território.
Considerando a crítica em torno da manutenção da malha rodoviária do País, de responsabilidade do Governo Federal, seria incluir nas despesas federais responsabilidades financeiras atinentes aos municípios.
Não fosse a ingerência e intervenção da União em assuntos locais.
Dialetizando
Acompanhar a campanha para presidente da República comparando a proposta de cada candidato com o expressado no noticiário pode contribuir para a construção dialética do eleitor.
O transporte ferroviário, mostrado no programa de José Serra como decorrente de sua atuação, parece um sonho inalcançável para as capitais brasileiras, despertando uma nova forma de turismo interno: ir a São Paulo para ver de perto a maravilha do transporte de massa paulistano.
A televisão, no entanto, no dia 15 de setembro, mostrava o caos na Zona Leste de São Paulo, na Estação Guaianazes. A revolta da população com os atrasos exigiu a presença da Polícia.
Mais necessária no programa de Zé Serra.
Quando a realidade fala mais alto
O programa eleitoral de Dilma, mais humano, coloquial, fala mais próximo do eleitor que o de Serra. Em que pese técnicas de marketing presentes em ambos o de Serra não convence.
Para nós, a realidade derrota o marketing. Não há marketing que convença a mudar o que o povo entenda como dando certo.
Supremo Tribunal Federal
A decisão do STF (Diário Oficial de 13 de setembro, primeira página), na ação proposta pela Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão, considera inconstitucionais os incisos 2 e parte do inciso 3 do artigo 45, além dos itens 4 e 5 do mesmo artigo da Lei Eleitoral.
Assim, o STF não só liberou os programas de humor envolvendo os candidatos, como permitiu a colocação de opiniões favoráveis ou contrárias a pessoas e partidos em programas jornalísticos e mesmo em novelas e minisséries.
Na verdade, uma abertura muito grande, ainda não percebida pelas redes de televisão e emissoras de rádio, que vai dar pano prá manga no futuro, quando o mesmo Judiciário for instado a se manifestar em relação aos abusos da imprensa com a manipulação da opinião travestida de informação.
Ou seja, quando tiver que distinguir escancarada propaganda difamatória de opinião.
Depois de tudo
Rir pra não chorar!
Adylson Machado é escritor, professor e advogado, autor de “Amendoeiras de outono” e ” O ABC do Cabôco”, editados pela Via Litterarum