Adylson MachadoQuando o tema se esgota em si mesmo, um rodapé pode definir tudo e ir um pouco além.  

Adylson Machado

                                                                              

Festas cívicas I

Vem-nos um passado distante. Não aquele decorrente da inexorabilidade que nesta dimensão conflita espaço-tempo. Os anos são alguns, muitos para curta existência.

E nos vimos desfilando, calça azul-marinho e camisa branca, pelas ruas da província para enaltecer a República, cantando seu hino. Recitávamos poemas, fazíamos discursos. Quando alcançamos o ginásio, nos idos de 1960, aprendemos a solfejá-lo, como conteúdo da disciplina Canto Orfeônico. Em outras datas o Hino ao Dois de Julho, o da Independência, o da Bandeira etc.

E nos víamos, como parte viva deste País, no hinário que expressávamos com alegria.  

Festas cívicas II

Defendemos a necessidade da unidade nacional. Esquecemos que não se pode nela pensar sem história, sem memória, sem a música hinária que nos fazia orgulhosos de ser brasileiros.

Hoje pouco sabemos de nossa História, ainda que aquela capenga oriunda da literatura oficial. Mais nos debruçamos sobre o importado. Até o Hino Nacional muitos cantam em outro andamento, como se fora o americano. Aliás, nossos Saci, Boitatá, Curupira perdem espaço para o Halloween.

Onde a luz, onde a escola?

Da mesquinhez ao aprendizado

A gana das redes de televisão, acentuadamente a Globo, por tornar fatos menores em tragédia ocorreu com o modo de tratar o problema que envolveu cerca de 0,003% de candidatos que prestaram exame para o ENEM. Menos que a previsível circunstância (exames para OAB, para vestibulares e concursos vários tem padecido de idêntica mácula) o fato foi transformado em ação deletéria do Governo Federal, capaz de detonar toda uma política oficial de inserção de parte da população no universo da graduação.

Não fora a entrevista concedida (ver vídeo) pelo Ministro da Educação Haddad e não saberíamos muita coisa. Que o IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) da ONU – tornado cavalo de batalha pelo PiG (Partido da Imprensa Golpista, como o diz Paulo Henrique Amorim) – dispõe de duas vertentes para análise da Educação, uma que avalia dez anos anteriores e outra o último decênio. Desta forma o avanço de 3 pontos conseguido pelo Brasil adquire mais méritos, o que a grande imprensa – secundada por nanicos a fora – não quer enxergar.

No fundo, tivemos oportunidade, com a entrevista do Ministro ao Bom dia Brasil de terça-feira 9, de descobrir atabalhoados entrevistadores invadindo seara que demonstraram desconhecer, emudecidos diante do desafio para um debate com quem entenda de educação.

E vamos aprendendo que não ver a Globo pode contribuir para uma melhor informação.

Luta necessária

Construir a identidade nacional sem desconstituir o amálgama das diversas identidades culturais que existem no Brasil são lições e sonhos de Darcy Ribeiro, Manoel Bonfim, Caio Prado, Joaquim Nabuco, Sérgio Buarque de Holanda à espera de ações concretas da sociedade e através do governo federal nas políticas de Estado.

A maioria das redes de televisão e rádio centralizadas no Sudeste têm pouco contribuído para essa construção. Buscam o controle hegemônico para submeter os vários e variados brasis ao Brasil pensado sob a ótica do sudeste. Ou paulista particularmente.

Não à toa que saímos de uma eleição que adquiriu foros segregacionistas. A não aceitação de resultados por um punhado de expressões que têm muito mais a pretensão à submissão alheia que do desenvolvimento de todos demonstra a existência ainda de uma casa-grande ensaiando aflorar quando a senzala há muito despertou e descobriu a sua força.

Diferentemente daquela, não para subjugar, mas para participar.

Preconceito

Vemos por trás do massacre ao ENEM, inclusive com o que temos como precipitada decisão judicial que suspendia o certame e a publicação dos resultados, uma vitória de setores privilegiados (a elite branca, de Cláudio Lembo) que imaginam que os menos aquinhoados estão fadados a permanecer como reserva de mão de obra.

E que alcançar a universidade é coisa somente para privilegiados que possam ingressar em cursos preparatórios.

Naturalmente particulares!

Em defesa do ENEM

enemA sociedade precisa organizar-se para enfrentar os que trabalham contra conquistas alcançadas pelo povo. O ENEM, ao possibilitar ingresso na Universidade Pública sem carecer de “cursinhos” particulares, incomoda a indústria que fatura com educação.

A quem interessa cercear o ingresso de alunos em universidades públicas? Essa a resposta que a minoria não quer oferecer. A anulação de provas atenderia interesses desta minoria, que vive de fomentar a indústria do vestibular, de cursinhos etc., sem compromissos além da certificação

Vincular o ENEM ao PROUNI, por exemplo, incomoda muita gente. Eis um dos “xx” da questão.

Omissão

As grandes redes de televisão esconderam da sociedade o seminário internacional, em solo brasileiro, voltado para discutir as comunicações eletrônicas e convergência da mídia. Palestrantes da UNESCO, dentre outros temas, defenderam a necessidade de uma regulamentação e responsabilidade social em torno do assunto.

Para o PiG isto seria censura.

Preferimos aguardar a regulamentação dos artigos 221 e 222 da Constituição.

De conceitos à realidade

Debruçado sobre alguns blogs, durante a semana (destacando o de Nassifi e o de Paulo Henrique Amorim), chamaram-nos a atenção duas matérias – “As Famílias do Judiciário” e “Justiça condena Protógenes e deixa Daniel Dantas solto”.

Refletem preocupações neste Estado de Direito singular, que é o Brasil. Particularmente temos concluído que muitas instituições não têm servido ao povo, mas aos privilegiados. E não há radicalismo ou maniqueísmo na afirmação.

A propósito, Norbeto Bobbio já sinalizou que a Democracia muito deve à sociedade: a isonomia conceitual que não alcança, na prática, os menos favorecidos.

Do ridículo à palhaçada

promotorAlguns agentes do Ministério Público, sob o pálio da defesa da sociedade, estão beirando o ridículo.

O Promotor de Justiça Maurício Lopes, que exigiu comprovação da escolaridade do palhaço Tiririca, não está satisfeito com o resultado da avaliação, aceito pelo Juiz (estadão.com.br,). Segundo ele, por considerar que o acerto do avaliado no ditado foi inferior a 30%. Pretende recorrer.

No conceito do ilustre Promotor escrever e errar torna o individuo analfabeto. Ainda que demonstre capacidade para ler, como ocorreu com o palhaço.

Em tempos de permanente FEBEAPÁ (precisa-se reeditar com urgência a obra de Stanislaw Ponte Preta) entre o Promotor e o Tiririca não sabemos quem mais está dado a palhaçadas.

Com o palhaço correndo sério risco de perder o emprego.

O lado positivo da palhaçada

Por outro lado, considerando a imperiosa necessidade de reformulação do conceito de analfabeto, como o insinua a postura do Promotor Maurício Lopes, disporíamos de oportunidade ímpar para melhorar a qualidade intelectual de uma gama de políticos deste Brasil varonil: avaliação nos moldes do Promotor Maurício!

Que poderia aproveitar a oportunidade e arranjar um jeitinho de avaliar muitas toupeiras, começando por algumas encasteladas no Congresso Nacional.

Didático

Uma relação de nomes e valores publicada por Nogueira Lopes na Tribuna da Imprensa on line de quinta 11, nos despertou para uma provocação: a publicação pelos diversos candidatos oriundos desta intimorata Região, que tende a deixar de ser cacaueira, do total dos gastos na campanha e  a fonte dos recursos, se do fundo partidário, se da iniciativa privada.

Com a palavra Josias Gomes, Geraldo Simões, Rosemberg Pinto, Félix Jr., Coronel Santana, Augusto Castro.

Para facilitar ousamos disponibilizar O TROMBONE para a publicação.

Cremos que será muito didático. Inclusive para uma discussão que se avizinha: o financiamento público de campanhas políticas.

Lições do didático

A publicação acima, que destacou dez políticos eleitos no Rio de Janeiro, traz dados interessantes: Jandira Feghali (PCdoB) superou 1,8 milhão em gastos; Romário (PSB), beirou 400 mil; Chico Alencar (PSOL) quase alcançou os 190 mil; Anthony Garotinho (PR), ultrapassou 2,5 milhões; Eduardo Cunha (PMDB), mais de 4,7 milhões.

Deduzimos que no plano financeiro, com dinheiro público do fundo partidário ou com recursos da iniciativa privada, partido político não tem cor.

Tem verdinha, amarelinha…

Rede nacional e realidade local

nblogsSomos dos que defendem o fortalecimento da realidade regional. Não podemos entender como um país plural em decorrência em muito da vastidão territorial que possibilita abrigar uma gama de culturas distintas entre si, interagidas pela unidade nacional, não encontre um meio de fortalecimento da realidade local.

A idéia de rede nacional (de rádio e TV) tem construído distorções justamente por delimitar para todo o Brasil a realidade do eixo Rio-São Paulo, que encontrou adiantado avanço por concentrar o Poder que durante décadas privilegiou aquela região.

Sob este prisma tem singular significação o programa N BLOGS, que estreou nesta sexta 12, pela TV CABRÁLIA. Um evidente reconhecimento ao que é produzido pela internet local.

Cabe-nos apenas levantar uma dúvida: o horário disponibilizado faz parte da cota local ou da nacional? Se da nacional, corremos o risco de vê-lo desaparecido, como aquela saudosa programação da pioneira.

Ainda o inacreditável

Até que enfim a imprensa regional sinalizou divulgação em torno da agressão de prepostos da Polícia Militar a uma comunidade rural do município de Ilhéus. Entretanto, à exceção do “Repúdio” de Ramiro Aquino em sua coluna do DIÁRIO BAHIA, todo o divulgado estava no script do release do Governo do Estado. Refrescando a memória, o fato correu no dia 23 de outubro e foi noticiado neste O TROMBONE logo no dia 30.

A defesa da sociedade contra abusos de qualquer espécie não pode depender de release, mas de jornalismo investigativo.

Bilhete único

Anunciadas mudanças na área de transporte coletivo da cidade de Itabuna, incluindo a possibilidade de instituição do bilhete único. A iniciativa, experimentada em outras oportunidades Brasil a fora, sempre encontrou uma barreira: concessionárias de serviço público de transporte ou, simplesmente, as empresas de ônibus.

Marta Suplicy, quando prefeita de São Paulo comeu o pão que o Diabo amassou ao instituir o bilhete único, não pela unidade tarifária, mas pelos desdobramentos, como o de exigir melhor atendimento ao consumidor do serviço.

Se não houver uma participação efetiva da comunidade em defesa da inovação, continuaremos com serviço sofrível e oneroso para o bolso do usuário.

Depois de tudo

Rir pra não chorar!

traças

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Adylson Machado é escritor, professor e advogado, autor de “Amendoeiras de outono” e ” O ABC do Cabôco”, editados pela Via Litterarum