Nós, jornalistas, geralmente somos muito bons em relatar fatos, destrinchar dados, transcrever números, e até dar-lhes sentido. Alguns com estilo, outros com a secura que se convencionou a aceitar o que não é poesia – nem prosa –, mas todos cumprindo o papel de informar seus leitores, ouvintes, telespectadores e, agora, os seguidores. O problema começa quando os números passam a ganhar formas humanas, e mais ainda quando essas formas ganham proximidade.
Ontem fui surpreendido pela notícia da morte do amigo Robson Nascimento, que perdeu a batalha para a Covid-19. Amigo de longa data, dos idos do Jornal Grapiúna, que editei no início dos anos 2000, mas até “ontem” um colega de Redação. Sim, embora sempre ligado ao setor Comercial, era na Redação do Jornal Agora onde a resenha se dava. E ele era o mestre da resenha. Sempre com uma dica de “notinha” para apimentar a coluna Política & Políticos, do periódico.
Era amigo das horas sérias, também. Sempre aconselhando, indicando os melhores aspectos e abordagens que eu poderia dar a questões de discussões internas, mal-entendidos etc. O que, posso dizer, continuou a fazer, mesmo depois de interrompida a parceria no Agora. Seu sonho, desde então, era ver o amigo concluir a graduação em Direito.
Os encontros passaram a ser deliciosamente repetitivos para meus ouvidos: “Domingos, você vai ser um grande advogado!”, era, sempre, seu desejo sincero. Sempre respondia, para baixar-lhe a euforia, que primeiro deveria concluir o curso. Para ele, o curso já não existia como obstáculo em minha trajetória. “Qual curso, agora é só fazer a OAB“. Intimamente sei o quanto peno para seguir esse sonho.mas jamais o desapontaria, porque sabia que ele fazia a comparação consigo mesmo, que havia se graduado bacharel em Direito poucos anos atrás, já aos 60 ou quase lá.
Esse era o amigo Robson, um ser que não aceitava que uma vitória fosse apenas de uma pessoa, mesmo – ou muito menos – que fosse somente dele. Amigo gentil e generoso. Nosso último encontro foi nos corredores do Jequitibá. E nossa última conversa foi com ele me dizendo: “eu te ajudo“. Isso após um desencontro com minha esposa, em que ele se propôs a procurá-la por onde passasse, para promover nosso reencontro.
Pensando agora, que lindo. Vá em paz, amigo. Pena que não houve tempo para, de alguma forma, nos ajudarmos novamente.
Domingos Matos