Ricardo Ribeiro | [email protected]
Tive a grande satisfação de conhecer José Alencar e foi há quase nove anos, antes dele se tornar vice-presidente do Brasil. Em 2002, na campanha pela sucessão presidencial, o grande brasileiro esteve em Itabuna para um encontro com lideranças locais. Lembro-me da reunião marcada para uma sala do hotel Imperial, onde quase não couberam prefeito, vereadores, secretários municipais e jornalistas. O calor era absurdo e intensificado pelas luzes dos equipamentos de filmagem.
Alencar não demorou a chegar, com aquele sorriso de gente boa e cumprimentando todo mundo. Ora, o homem vinha em campanha, devia estar fazendo média, mas havia algo diferente naquela expressão, no jeito de falar pausado, simples, ponderado, no olhar humilde. A diferença tinha jeito de ser sinceridade e dignidade. E era, como a história comprovou.
O político e empresário, que se foi nesta terça-feira, 29 de março, teve uma infância pobre e cresceu na base da determinação. Mas a maneira como venceu na vida, apesar de rica em exemplos, não é o que mais marcou a história de José Alencar. Foi a forma como ele enfrentou a morte, sem temor, que realmente definiu o homem que em tantos momentos nos causou espanto e emoção, por sua coragem e vontade de viver, ainda que não manifestasse nesta disposição um apego inexorável a este mundo.
Alencar enfrentou 17 cirurgias em 14 anos, não tinha um rim, possuía apenas um terço do estômago. No entanto, depois de cada alta no hospital, ele saía com aquele sorriso que nos encabulava e matava de vergonha. Era como se mostrasse a cada um de nós que, se ele podia desdenhar da morte e sorrir diante dela, o que justificaria os nossos queixumes por causa de problemas tão insignificantes.
A frase mais bonita de Alencar revelou o que realmente o amedrontava: “não tenho medo da morte, tenho medo é da desonra”. Lapidar, irretocável, sabedoria de quem entende que a importância da vida não se mede pelo tempo, mas pelo caráter, as atitudes e os exemplos.
Imagino Zé Alencar chegando no céu, com aquela simplicidade mineira dele. Perante os anjos de Deus, sempre com o riso escancarado de menino, ele aparece cantarolando baixo o samba de Nelson Cavaquinho: “Tire seu sorriso do caminho, que eu quero passar com a minha dor…”
Um dos anjos o interpela: “sossega Alencar, que já não dói “. Ele, mineiríssimo: “uai, mas agora é que dói, sô! Dói de saudade”… E segue sorrindo.
Ricardo Ribeiro é um dos blogueiros do Pimenta e também escreve no Política Etc