Quando o tema se esgota em si mesmo, um rodapé pode definir tudo e ir um pouco além.
Adylson Machado
São Paulo – Brasil
Sem maiores aprofundamentos sobre o que acontece em São Paulo, fica-nos o cheiro de que algo anda errado. As cracolândias são o caos da atualidade, seja-o pelo que representam em si de degradação social, seja-o por alimentar o que há de mais deletério: o tráfico e os traficantes, que deram de andar protegidos por aparato do Estado, como no Rio (a segurança do traficante Nem se constituía de policias fazendo um “extra”).
Mas, sem proselitizar o uso de qualquer droga (lícita ou ilícita), o caso da USP deixa um quê de estranho, quando o Estado, sob o pálio da proteção à comunidade acadêmica, se volta para prender “perigosos maconheiros” que andam usando o objeto do particular hedonismo no campus da tradicional universidade paulista.
Ainda que anárquico, ficamos com o chargista diante do que aparenta ser uma nova organização criminosa. Por sinal tão antiga como uma velha profissão, mudado apenas o caminho para a estesia. E, como aquela, presente em todas as camadas sociais desta contemporaneidade.
Palavra técnica
Não está fora de propósito a observação de Walter Fanganiello Maierovitch no Terra Magazine – “A hora e a vez da Rocinha e o campus da USP: Rio prende traficante e, São Paulo, universitários usuários de maconha” – postado por Luis Nassif Online, desta sexta 11:
“A propósito, enquanto o Rio de Janeiro enfrenta a criminalidade organizada com uma adequada política de segurança (substituiu a militarizada e populista posta em prática irresponsavelmente pelo governador Sergio Cabral), a do governador Geraldo Alckmin optou, com apoio na linha neofascista da Lei&Ordem, pela perseguição a universitários que fumam maconha no campus da Universidade de São Paulo (USP). Isto com finalidade lúdico-recreativa (não medicinal)”.
“Em tempo de imunidade penal pelo mundo civilizado, como se nota por vários institutos premiais (plea bargaining, delação premiada, pattegiamento, bagatela, remição, desassociação etc), investe-se em São Paulo no de menor potencial ofensivo, enquanto o Primeiro Comando da Capital (PCC), uma organização criminosa que já desmoralizou as polícias paulistas, espalha-se e difunde o medo na periferia da capital”.
Para refletir I
À Polícia Federal, na madrugada de quinta-feira, o traficante Antônio Bonfim Lopes, o Nem, chefe do tráfico na Rocinha, Rio de Janeiro, afirmou que “Metade do dinheiro que eu ganhava era para o ‘arrego’” (propina), que em alguns momentos lhe tomava 100% de tudo. (De Antônio Werneck – [email protected] – n’ O Globo.com.
Ainda que não confirmado, o faturamento do ilustre Nem chegava a 100 milhões de reais ano.
A matéria diz que o traficante deu nome aos bois – policiais civis e militares e “agentes públicos”.
Ansiamos pelos nomes. Pelo menos dos agentes públicos não policiais.
Para refletir II
Em São Paulo um acusado de tentativa de furto teve a prisão decretada imediatamente pela Magistrada. O atrasado, que não chegou a tempo para audiência, por morar no outro extremo da “vila”, não foi perdoado pelo atraso, ainda que tenha chegado ao fórum, o que ocorreu três horas depois de condenado a um ano e seis meses de reclusão em regime fechado.
O crime cometido: tentativa de furto de três latas de atum e de uma lata de óleo, que, juntos, somavam 20,69.
Celeridade judicial é isso! E para azar do infeliz, não tem como impetrar habeas corpus ao Ministro Gilmar Mendes no STF.
Comunicação
Ainda que seja melhoria na comunicação a presença do PT na administração municipal de Ilhéus sinaliza eficiência. A presença do prefeito Newton Lima, acompanhado do deputado Josias Gomes, ocupa o noticiário.
Noticiário positivo.
Descobrindo a pólvora
Muitos pepistas itabunenses andam empolgados com campanhas contra a corrupção.
Para não perder o embalo seria oportuna a presença de lideranças nacionais no movimento local.
Começando por Paulo Maluf.
Cultura I
O Ministério da Cultura – ou simplesmente Minc – viveu fase de propostas inovadoras, tendo Gilberto Gil como Ministro, sucedido por Juca Ferreira. Baianos que redimensionaram a visão de como construir projetos tendo a cultura e as tradições de nossa gente como alavanca da identidade nacional.
Ficaram famosos os “Pontos de Cultura” e “Cultura Viva”.
E uma pretensão de Lula estava em andamento: uma espécie de “vale cultura”, incentivo ao consumo cultural. Quem o portasse poderia trocá-lo por livros, revistas, teatro, cinema, DVDs, discos.
Cultura II
No governo do nordestino retirante e ex-metalúrgico, Luís Inácio Lula da Silva, os recursos – por ele prometidos para alcançar 1% do Orçamento – saíram de 397,4 milhões, em 2003, para 2,29 bilhões em 2010.
Caíram para 2,13 bilhões em 2011 e despencam para 1,79 bi em 2012.
Esperávamos de Ana de Hollanda que, caso não avançasse com o “vale cultura”, pelo menos não retrocedesse nas políticas implantadas durante o governo Lula.
Cultura III
Coisas deste Brasil. Tem gente que envereda na área cultural só pela exposição. Alguns, também pela remuneração.
No fundo, edificar o álbum pessoal com fotografias ao lado de famosos torna-se mais importante.
Itororó I
Duelo singular vai sendo travado na terra da carne de sol. Enquanto o ex-companheiro Milton Marinho desanca a administração municipal Itororó vai conseguindo lauréis nacionais e internacionais.
Como as premiações não podem ser atribuídas a “agrados” do premiador, dá a entender que Milton enfrenta mesmo é uma briga pessoal com Adroaldo.
Itororó II
Chegam informações de que em Itororó, muitos dos pretensos adversários de Adroaldo não poderão candidatar-se. Problemas com a Justiça Eleitoral. Ainda que por irregularidades banais – mas fatais – como filiar-se em partido sem desfiliar-se do anterior.
Tempos mornos I
Ultrapassada a fase de filiações, marcada por arregimentação de novos quadros ou cooptação de nomes de expressão aqui e ali trazidos para siglas de maior expressão, a eleição de 2012 se encontra em fogo brando.
As conversas de bastidores vazam, dando o rumo desta ou daquela liderança a procura deste ou daquele candidato em potencial que possa cerrar fileiras com seu projeto. Não mais como filiado, mas como integrante de uma “grande coligação” para salvar Itabuna.
Tempos mornos II
Nada mais se ouviu de Geraldo Simões sobre o teatro e o centro de convenções. Acabou o “amor” pelas artes e cultura local, traduzido nas falas há pouco com Fernando Gomes, intermediadas por Raimundo Vieira.
Dissemos, em algum instante, que beirava o nonsense imaginar que Geraldo defendesse a continuidade das obras em terras de Fernando por simples altruísmo.
Tempos mornos III
GS tentou atrair parcela do PMDB através de FG que, como descobriram alguns, nem mesmo filiado estava ao partido. Mas o via com peso e densidade eleitoral para seu projeto político. Inimigo (não mais tanto) útil.
Deu com os burros n’ água até esse instante. Fica para um segundo momento. Caso Roberto Barbosa não descole para uma campanha capaz de derrotar Azevedo.
Tempos mornos IV
O PCdoB afirma candidatura própria em Itabuna. O PT de Ilhéus está melando a possibilidade de apoio do PP itabunense ao PT local. Dissensão interna afasta Vane do partido.
PMDB com candidatura própria ou aliado a Azevedo (no primeiro instante).
Geraldo corre para repor as perdas, já que não pode juntar os cacos.
De apoio concreto, a rejeição de Azevedo.
Tempos não tão mornos
No entanto, para muitos, difícil mesmo será Geraldo Simões inverter o conceito que lhe atribuem no momento político: de pensar só em seu projeto pessoal.
Itabuna Faz parte dele: pela a fatia de votos. Ainda nada desprezível.
a.M – d.M
Assim vemos a CEPLAC sob a nova chefia: antes e depois de Maynart.
Leituras de viola
Assim titulamos o rodapé passado, tratando a viola de Jayme Alem, para nós um “cultor qualificado”. Dando sequência às “leituras” hoje trazemos uma geração que marcou os anos 60, transitando de modo irreverente pela caipira: Os Mutantes (Arnaldo Baptista, Rita Lee e Sérgio Dias). A música “Dois mil e um” (Rita Lee-Tom Zé), apresentada no Festival da Record de 1968, utiliza todos os motivos da “rebeldia” do experimentalismo daqueles anos, desde estereotipar o sotaque das duplas caipiras tradicionais a enveredar por arranjos impressionistas que definiram o estilo Rogério Duprat, mesclando instrumentos não tidos como naturais à natureza musical, como guitarra e contrabaixo elétricos, linha melódica traduzindo uma arquitetura que é marca de Tom Zé.
A proposta estética da geração faz falta nestes dias. E como faz! Ainda que sujeita a chuvas e trovoadas.
Cantinho do ABC da Noite
Cabôco Alencar não se basta em servir uma batida ao cliente fiel ou ao que descobre o ABC da Noite. Acompanha os diálogos da freguesia, conhece suas idiossincrasias.
Depois de fechada a última banda de porta e o cadeado sacramentado o encerramento do expediente, descia o Beco do Fuxico rumo à Cinqüentenário, gastando assunto com o aluno que lhe fazia companhia e fazia crítica à intervenção feita por um freguês, que se mostrara erudito nos primeiros goles e “desembestara na burrice” depois do quarto.
– É preciso compreender, “Cabôco”. E perdoar – encerra Alencar, com o sorriso no canto da boca, conciliador e magnânimo – é ainda aluno do ABC.
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Adylson Machado é escritor, professor e advogado, autor de “Amendoeiras de outono” e ” O ABC do Cabôco”, editados pela Via Litterarum