Mais de 90% dos casos envolvem profissionais mulheres

A Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji) divulgou, na última terça-feira, 8, um estudo inédito sobre violência de gênero contra jornalistas, realizado com apoio do Global Media Defence Fund, da UNESCO, em 2021. Segundo o levantamento, 127 jornalistas e meios de comunicação foram alvos de 119 casos de violência de gênero, dos quais mulheres jornalistas (cis e trans) representam 91,3% das vítimas.

 

O relatório “Violência de gênero contra jornalistas” aponta ainda que, em 2021, profissionais da imprensa e veículos foram alvos de 45 ataques direcionados, utilizando gênero, sexualidade ou orientação sexual como argumentos para a agressão. “Discursos estigmatizantes”, narrativas que utilizam agressões verbais com o intuito de hostilizar e descredibilizar jornalistas, representam 75% dos episódios identificados pela Abraji.

Outro dado revela que 71,4% dos insultos tiveram origem ou foram repercutidos em ambientes virtuais, como a rede social Twitter. Os principais agressores identificáveis foram homens, correspondendo a 95% dos abusos dentro e fora da internet.

O relatório da Abraji monitorou redes sociais como propagadoras de agressões a profissionais de imprensa e registrou 57 ataques sistemáticos envolvendo usuários. Dentro da análise, constatou-se que 59,9% dos casos de discursos estigmatizantes foram iniciados por publicações de autoridades de Estado e outras figuras proeminentes no campo político brasileiro. Como reflexo, em 60% dos alertas, a vítima cobria ou comentava questões relacionadas à política.

 

O levantamento também apurou o perfil das vítimas e sua atuação na imprensa. Do total de casos registrados, as hostilidades são predominantemente direcionadas a repórteres e analistas (85,7%) de meios de comunicação. Os profissionais mais atacados atuam na televisão (47%); jornais nativos impressos (20,1%); e jornais nativos digitais (14,3%), como aponta a plataforma online do projeto. A região Sudeste lidera o número de ocorrências, com 66,4% dos ataques, seguida por Nordeste (12,6%) e Centro-Oeste (11,7%).

“Os constantes ataques de violência de gênero contra jornalistas no país refletem o delicado momento que estamos vivendo. O nosso relatório dá visibilidade ao problema que acompanhamos diariamente. Nossa missão é unir forças e, com base nesses dados e indicadores, buscar soluções”, afirmou Leticia Kleim, assistente jurídica da Abraji e coordenadora do relatório.

Para Kleim, a naturalização dos ataques dificulta traçar um retrato desse tipo de violência. “O relatório vem para dizer que esses episódios são uma forma de violência que soma a censura à liberdade de imprensa a ataques machistas ou LGBTfóbicos e não devem ser normalizados”, completou.

O relatório completo pode ser acessado aqui. As versões em inglês e em espanhol também já estão disponíveis.

*Texto extraído do site da Abraji.