Pontes e estradas destruídas. Postos de saúde e escolas ainda sem funcionar. Esse foi o saldo da passagem das fortes chuvas no final do ano passado em algumas cidades do sul e extremo sul da Bahia.
Três meses depois, algumas comunidades ainda estão isoladas ou com dificuldade de acesso. Mais de 2 mil quilômetros de estrada para recuperar. Este foi o saldo das chuvas de dezembro para a população de Guaratinga, no extremo sul do estado.
Até agora, a prefeitura recuperou com recursos próprios cerca de 20% das estradas e poucas pontes. O município recebeu pouco mais de R$ 260 mil do governo federal, quantia que ainda não é o suficiente conforme explica Raimundo Matos, secretário de administração.
“As casas também caíram. Nós temos um povoado que foram mais de 30 casas. Até o momento nós não tivemos nenhuma análise que essas casas vão ser recuperadas e agente precisa que o governo do estado ou federal sinalize com essa possibilidade”, explica
Somente em Guaratinga, 25 pontes foram danificadas ou carregadas pela enxurrada. A prefeitura consertou algumas pequenas, mas as três maiores não tem sequer previsão de revitalização porque a prefeitura não tem dinheiro pra recuperar. Uma das pontes dá acesso ao povoado de Monte Alegre. Ela foi interditada porque as duas cabeceiras cederam, mas os moradores improvisaram uma ponte de madeira para que carros pudessem passar e ajudar no escoamento da produção.
“Monte Alegre está isolado de Guaratinga, um carro pesado não tem condições de passar, inclusive a ponte [de madeira] já está interditada. Não tem ponte, não tem estrada, não tem nada”, diz o agricultor Abel Reis.
A ponte e as estradas danificadas têm prejudicado até o retorno das aulas presenciais. O transporte escolar não tem chegado em muitas comunidades rurais.
“A minha filha está há dois anos em atividade remota. Tenho vizinhos que não sabem ler, como esse filho está sendo ensinado? Ele só está sendo induzido a passar de ano”, desabafou a dona de casa Miralva Silva.
A professora Fátima Gonçalves informou que algumas estradas já estavam deterioradas e a chuva piorou. Além disso, a situação atual de ensino das crianças é considerada por ela preocupante.
Outras cidades
Em Jucuruçu, a ponte que dá acesso a comunidade de Coqueiros está quase em ruínas, mesmo assim motoristas se arriscam. Na cidade vizinha, em Itamaraju, no trecho da BA-284, a ponte para o povoado D’alho está danificada e o acesso está comprometido.
As obras já começaram na ponte que liga os bairros Baixa Fria e Várzea Alegre, que teve as cabeceiras levadas pela força da água, mas só passam pedestres e motos.
Em Itamaraju as chuvas comprometeram também uma escola municipal que fica no povoado de Nova Alegria e atende cerca de 165 alunos.
A estrutura foi danificada e a escola não resistiu. A secretaria da instituição de ensino está funcionando em uma das salas do posto de saúde.
“A gente conseguiu recuperar toda a parte de computadores, impressora, estabilizadores e toda a documentação escolar”, detalha Janilda Fagundes, a diretora da escola.
Em Dário Meira, das 25 escolas municipais, cinco foram afetadas pela cheia do rio Gongogi. Documentos importantes foram arrastados pela enxurrada. Pastas com histórico escolar dos alunos se perderam na lama.
Itabuna
Na área da saúde, também há as consequências da enchente. Em Itabuna, o posto de saúde do bairro Mangabinha, atingido pela cheia do rio Cachoeira ainda não foi reaberto. Do lado de fora, não há placas indicando reforma. A população está sendo atendida nesse salão da igreja católica.
“A gente vai procurar um médico e a gente fica perdido” desabafa o autônomo Eron Reis Santos.
‘Saúde é prioridade sempre, mas nesse caso nosso não está sendo. Eu acho que é descaso, dava para pelo menos começar a mexer [na estrutura]”, diz a aposentada Dinalva Feitosa.
O que dizem as autoridades
Com relação ao dinheiro destinado à recuperação das cidades atingidas pelas chuvas, o governo do estado disse que está investindo mais de R$ 50 milhões em obras em quase 13 km de estradas atingidas pelas chuvas. Informou ainda que e que a Secretaria Estadual de Infraestrutura (Seinfra) atuou com os consórcios públicos municipais para reabrir o acesso a cidades que ficaram isoladas e possibilitar a chegada de ambulâncias e alimentos.
Já o governo federal disse que está realizando uma série de ações integradas para reduzir os impactos da chuva.
Sobre o retorno das aulas presenciais nos povoados que ainda não tiveram os acessos reconstruídos, a prefeitura de Guaratinga disse que deve acontecer nos próximos dias e que os alunos com dificuldades de acesso continuarão com o ensino remoto.
Já a prefeitura de Jucuruçu informou que a reconstrução da ponte que dá acesso a comunidade de Coqueiros custa um valor alto e precisa de apoio financeiro do Governo Federal, por isso, foram feitos apenas reparos provisórios.
Com relação à BA-284, a Seinfra disse que o trecho está com obras de pavimentação em andamento, e devem terminar em dezembro.
A prefeitura de Dário Meira informou que as aulas já foram retomadas no município. E a prefeitura de Itabuna disse que o posto de saúde do bairro Mangabinha ficou muito danificado e que ainda não foi reaberto porque está em reforma. (Com informações do G1)