Por Walmir Rosário

Um lateral-direito que botava ordem na casa sem precisar apelar para os famosos pontapés nos adversários, embora soubesse entrar firme quando necessário, desarmar e sair jogando. Esse era Vadinho, também conhecido por Vadinho Bombom de Mel, assim chamado por ter vendido esses doces na juventude, jogador dos primeiros a ser escolhido nos babas nos muitos campinhos de futebol do bairro da Conceição, em Itabuna.

Daí para o futebol amador foi um pulo, chamado que foi para integrar a equipe do Botafogo do bairro da Conceição, pelo seu presidente o gráfico Rodrigo Antônio Figueiredo, e por lá ficou por cerca de cinco anos. Seus quase dois metros de altura e corpo atlético lhe garantiam ganhar a maioria das jogadas e passar a bola para o meio de campo ou diretamente para os jogadores do ataque.

Torcedor doente do Flamengo até hoje, Vadinho não podia comemorar as vitórias do time carioca, desde os tempos de menino e já homem feito, por ordens expressas de sua mãe, dona Euflosina, vascaína de quatro costados, que não permitia esses devaneios em sua casa, com a complacência do pai, o seu Júlio, o competente guarda-freios da Estrada de Ferro Ilhéus-Vitória da Conquista.

Para Vadinho pouco importava e suas comemorações pelas vitórias do Flamengo eram festejadas fora de casa, com os muitos amigos, na praça dos Capuchinhos, ou nos inúmeros bares que povoavam o bairro. Naquela época – como até hoje –, o futebol era assunto de interesse nacional e todos sabiam de cor e salteado a escalação de seus times, aprendidas nas resenhas esportivas das grandes rádios do Rio de Janeiro.

Após os cinco anos a serviço do Botafogo, Vadinho se muda para o Fluminense, uma das grandes equipes de Itabuna, formando a defesa com dois baixinhos de grande impulsão, a exemplo do zagueiro Ronaldo e do lateral-esquerdo Humberto. Mesmo na categoria amadora, os times de Itabuna disputavam os bons jogadores, tirando-os dos times adversários com somas em dinheiro ou grandes presentes, chegando aos carros.

E numa dessas transações Vadinho se transfere para o Fluminense, equipe em que jogou por seis anos consecutivos e se sagrou campeã no histórico campeonato do Cinquentenário de Itabuna (1960). No tricolor itabunense, Vadinho jogou ao lado de craques como os irmãos Lua, Leto, Carlos e Fernando Riela; Santinho, Betinho, Jonga, todos titulares da vencedora Seleção Amadora de Itabuna.

Semiprofissionais, os jogadores daquela época tinham que recorrer a empregos para sobreviver com sua família, muitas vezes conseguidos pelos diretores dos clubes de futebol nos quais jogavam. E Vadinho se especializou em pintura, na empresa de ônibus Viação Sul Baiano (Sulba), na qual trabalhou por muito tempo, profissão em que até pouco tempo ainda exercia.

Vadinho também era bastante conhecido pela sua participação nos desfiles do Tiro de Guerra de Itabuna por cerca de 10 anos, como corneteiro, instrumento que se especializou e se notabilizou. Os comandantes do Tiro de Guerra, a exemplo dos à época, sargentos Paulo, Fagundes, Santos e Genival, não abriam mão da brilhante participação nas apresentações do Dia da Cidade (28 de Julho), 7 de Setembro, dentre outros eventos.

Com sua saída do Fluminense e ainda se considerando com muito “gás” nas condições físicas, Vadinho passou a jogar em times de Itabuna e cidades circunvizinhas, no regime de freelancer, contratado para jogos determinados. Contatado, nos fins de semana os dirigentes mandavam um carro buscá-lo em Itabuna, se apresentava nos jogos e voltava para casa à espera do próximo compromisso.

Ao parar de jogar o futebol, Vadinho passou a atuar em campo, agora como árbitro, por muitos anos, encerrando a carreira nos estádios quando acreditou que já tinha contribuído com o esporte. Mesmo assim, não desprezava os babas de fim de semana, nos quais encontrava os amigos e confraternizavam após os jogos com os bate-papos sobre o futebol, sempre regados a cerveja e tira-gostos.

Há 10 anos se aposentou dos campos de várzea, mas não despreza os jogos do seu Flamengo e outros grandes clubes, assistindo, pelo televisor em casa ou nos bares com amigos. E Vadinho não deixa de tecer suas críticas ao futebol jogado hoje, sem o amor ao clube, como era antigamente. Para Vadinho, as camisas que vestiam eram sagradas e ganhar um jogo, um campeonato, era a glória.

Com saudade, Vadinho lembra da enorme quantidade de craques com quem conviveu e jogou em Itabuna, os quais, garante ele, teriam vaga assegurada nas maiores e melhores equipes do Brasil. Vadinho acredita que, apesar das diferenças de treinamento físico e técnico, o futebol arte que jogavam era muito bonito de assistir, principalmente após o desenvolvimento da tecnologia de imagens. Mas, enfim, a cada época, seus artistas.

Walmir Rosário é radialista, jornalista e advogado