* Por Arnold Coelho
Em 2009 fiz um artigo – e publiquei no então jornal A Notícia – onde enumerava uma série de fatores que apontavam que Ibicaraí passaria nos anos seguintes por falta de água nas estações mais quentes e uma provável crise hídrica. Na época fui taxado de pessimista, “pseudo ambientalista” e pouco conhecedor do assunto por não ter nenhum título acadêmico.
Na verdade, eu não tenho (e nunca tive) formação acadêmica para discutir ou afirmar nada nesse sentido, mas, por outro lado, sou um amante da natureza, que vive diariamente o município de Ibicaraí, andando pela zona rural, olhando e acompanhando todo o lento processo de ‘destruição’ das nossas áreas verdes e pontos de nascentes e por isso fiz o artigo. Em dezembro de 2015 tivemos uma das maiores crises hídricas da nossa história.
Faz cerca de 14 anos que comecei a fazer esse trabalho de ‘formiguinha’, andando, observando, falando e plantando árvores. Nesse período eu pude ajudar também no processo de catalogação das 64 nascentes na Serra do Córrego Grande, juntamente com Antonio Carlos (Katende), o saudoso Pedro Gama e Abel de Furtuoso. Vale lembrar que essas nascentes fornecem água para a barragem na Fazenda Tupã, que ajuda no abastecimento da cidade de Ibicaraí.
A questão hídrica é um problema de ordem mundial e em Ibicaraí vai além da falta de chuva. Mesmo chovendo sempre aqui, o problema não se resolve de forma definitiva, pois não temos barragens de acumulação, como em Floresta Azul e Itapé. Nossas barragens são pequenas e de retenção (Luxo, Tupã e Banha). Elas não acumulam, só retém a água das ‘chuvas’ e das nossas nascentes para a captação até a Estação de Tratamento de Água (ETA).
É importante dizer que quando chove, quem guarda boa parte dessa água que cai do céu são as nossas montanhas (que funcionam como gigantescas esponjas e precisam estar protegidas com cobertura vegetal), acumulando água e depois devolvendo para a natureza via nascentes ou ‘olhos d’água´ e os lençóis freáticos.
É fato que a falta de chuvas, em parte, é proveniente das mazelas do ‘bicho homem’, que a cada dia desmata, queima, polui e produz de forma irresponsável muito dióxido de carbono (CO2), metano (CH4) e óxido nitroso (N2O), entre outros gases letais à nossa camada de ozônio, sendo um dos fatores para essa loucura climática do planeta.
Outro ponto preocupante foi a chegada da pecuária (gado bovino) na nossa região, transformando áreas de mata cabruca em pasto, desprotegendo ‘nossas’ áreas de nascentes, além da iminente exploração de minério nessas mesmas áreas.
É fato que o ‘progresso’ precisa chegar e que a pecuária e a extração de minério trazem ‘riqueza’ para qualquer região. Fica difícil lutar contra a chegada de trabalho, emprego e renda, mas é necessário criar políticas públicas para a preservação do nosso ‘ouro branco’, a nossa água, esse bem comum essencial à vida humana e a proteção e reflorestamento de nossas áreas de montanhas, que estão sendo transformadas em áreas de pasto e futuros pontos de exploração mineral.
Já existe aprovado na Câmara de Vereadores de Ibicaraí o Pagamento por Serviço Ambiental (PSA), que precisa sair do papel. Sei que é preciso andar lado a lado com o progresso, mas é preciso ter responsabilidade, protegendo as áreas de nascentes e isso só será possível quando o ‘produtor de água’ receber para proteger essas nascentes e ter fiscalização nesses locais.
De que forma isso pode ser feito? Pagando o PSA para todo proprietário de terra ou ‘produtor de água’ que tenha ponto de nascente em sua propriedade rural. Com o pagamento vem a cobrança por parte do poder público, que precisa fiscalizar e cobrar responsabilidade e preservação das partes envolvidas. É preciso preservar essas nascentes e nossas matas, pois sem elas Ibicaraí estará fadada a se tornar uma cidade rica momentaneamente e pobre e deserta em um futuro não tão distante.