Por Walmir Rosário
O Brasil passou por grandes mudanças com a eleição de Tancredo Neves e a chegada de José Sarney à Presidência da República. E o PMDB começa a atuar para impor o ideário do partido conforme vinha prometendo por anos a fio. A proposta era transferir os recursos do Estado Brasileiro para a promoção do desenvolvimento. E as torneiras financeiras de Brasília começaram a jorrar com força total.
Eleito com uma expressiva votação, o médico ilheense Jorge Viana se mostra um deputado federal atuante e, de forma incansável, consegue transferir recursos federais para as cidades do sul da Bahia. Os parcos recursos para custeio e investimentos de antes mudaram da água para o vinho e os mais diversos setores da economia começaram a receber dinheiro para fazer a roda da economia girar.
E a ação do deputado federal peemedebista Jorge Viana de destrancar o cofre federal se transformou numa fertilização constante para e economia do agro, principalmente a cacauicultura e a dendeicultura, dentre outras. Esforços e recursos não faltariam para o soerguimento da agricultura. De início, Canavieiras e Una foram contempladas para dar o famoso pontapé na industrialização do dendê.
Na direção da Ceplac, Joaquim Cardozo não media esforços para diminuir o tamanho da instituição e promovia o emagrecimento das atividades, prometendo privilegiar apenas agricultura, transferindo as demais para outros órgãos estatais. E um forte aparato na comunicação para acompanhar as atividades políticas na economia foi implantada, no sentido de mostrar o “novo Brasil”.
E num desses sábados um grande comitiva do Ministério da Agricultura, capitaneada pelo deputado Jorge Viana e Joaquim Cardozo se deslocam para as cidades de Una e Canavieiras para a solenidade de transferência desses recursos. Com a inflação galopante daquela época não consigo lembrar o valor exato dos recursos, só lembro que era múltiplo de 5 (50, 500,?) nem se eram milhões ou bilhões de cruzados.
Porém minha memória não esquecerá – jamais – as solenidades realizadas para repassar os recursos aos municípios contemplados. Por obra do destino, Tyrone Perrucho exercia a chefia do Núcleo de Comunicação (ex-Dicom) e seu pai Wallace Mutti Perrucho era o atual prefeito de Canavieiras, o anfitrião principal dessa grande festividade que poderia dar uma guinada na cultura do dendê.
E uma efeméride dessa magnitude não poderia passar em branco, deixar de ser realizada com todos os requintes para atender e ressaltar o trabalho dos benfeitores da economia regional, que a partir de então olhavam com bons olhos o antes desprezado sul da Bahia. Seria realizada uma recepção digna das promovidas pelo Itamaraty aos chefes de Estados estrangeiros e seus representantes, sem esquecer os mínimos detalhes.
Para prestar um serviço de primeiro mundo, o jornalista Tyrone Perrucho assessorou o prefeito Wallace Perrucho, contratando a equipe de garçons da Ceplac, comandada pelo maitre Mário, com as recomendações de que deveria ser um serviço perfeito. Outra equipe ficou responsável para decoração do Clube Social, bem ao estilo do Baile da Ilha Fiscal, o último dado pelo Imperador Pedro II, no que se refere ao luxo e ostentação.
No cardápio, somente frutos do mar (o que não era do paladar de Tyrone Perrucho), com ostras gratinadas, de moqueca e cruas, servidas ao azeite português e suco de limão; patinhas de caranguejos a milanesa, a famosíssima cabeça de robalo, que era a mais nova atração da gastronomia canavieirense; moquecas de robalos; polvos e lulas defumados, em vinagrete; mexilhões, lambretas e outras refinadas iguarias da rica costa marinha brasileira.
Não me sai da memória a carta de vinhos e os vários tipos de whisky, como Chivas Regal e Old Parr, todas acima de 12 anos, e cervejas extras. Assim que entramos no clube, uma mesa localizada em frente a saída da cozinha estava reservada para a equipe da comunicação da Ceplac. Deve ter sido escolha pessoal do nosso chefe Tyrone Perrucho, no intuito de privilegiar seus comandados, entre eles, eu.
Confesso que fiquei surpreso com tamanho requinte e sofisticação em Canavieiras, mas não economizei esforços para demonstrar minha elevada satisfação aos anfitriões, que não mediram esforços em receber os visitantes e benfeitores. E como dizem Deus escreve certo por linhas tortas, pois seu Perrucho, como chamávamos Wallace, até pouco tempo era apenas vereador, quem sabe, vice-presidente da Câmara. Ainda bem que se tornou alcaide.
E foi um golpe de sorte, como dizem: O prefeito Boinha Cavalcante, não ia bem na administração e estaria ameaçado de cassação. Porem quis o destino que ele sofresse dois acidentes: vítima de capotamento de veículo na praia e outro ao mergulhar no rio, o que lhe afetou a coluna. Como o seu vice-prefeito Holmes Humberto de Almeida (do então distrito de Santa Luzia) tinha morrido recentemente, o substituto sairia do Legislativo.
E aí Wallace Mutti Perrucho tira a sorte grande, com a desistência do presidente do Legislativo em assumir à Prefeitura, pois reconheceu que não estaria preparado para uma empreitada desta magnitude. Abdicou do cargo de presidente e, por maioria, os vereadores fizeram valer o regulamento, escolhendo e dando posse a Perrucho como presidente da Câmara e, subsequentemente, ao cargo maior do Executivo canavieirense.
Voltando à nababesca recepção, logo após, vozes descontentes da oposição tentaram desqualificar a sublime festa, sobre o pretexto de que o evento teria custado mais do que os recursos transferidos pelo Governo Federal ao município de Canavieiras. Não cheguei a fazer os cálculos, até porque a matemática não é meu forte, mas acredito mesmo que se tratava apenas de uma ação política para tentar desqualificar a qualidade da festa promovida com muito esmero por seu Perrucho.
Walmir Rosário é radialista, jornalista e advogado