Por Walmir Rosário
A cada jogo da Seleção Amadora de Itabuna a torcida comemora duas festas: a vitória dentro de campo e as intermináveis festanças pelas ruas das cidades, tanto em Itabuna ou nas casas adversárias. Não importavam o local, os efusivos festejos eram garantidos pelos resultados positivos. Nos terreiros alheios Itabuna sempre “cantava de galo”.
E esses rituais eram sagrados e garantidos pela força da torcida que acompanhava o escrete alvianil. Um substancial exemplo foi a festança em comemoração à conquista do Hexacampeonato Baiano de Futebol Amador, em Alagoinhas. Embora a festa tivesse sido preparada pelo adversário, os itabunense festejaram até o dia raiar como se estivesse em casa.
E dentre a grande comitiva que acompanhava a Seleção de Itabuna, dirigentes e torcedores dos mais diferentes níveis sociais, o que fazia a diferença. Como queria o escritor francês Alexandre Dumas em Os Três Mosqueteiros, era “um por todos, e todos por um”. E assim as festas rolavam até que voltassem a Itabuna, onde a comemoração continuava sem horário para encerrar.
No Campeonato Baiano de 1964, a Seleção de Itabuna disputou a final com a Seleção de Feira de Santana. No primeiro jogo, realizado em Itabuna, Feira de Santana foi goleada pelo placar de 4X0, três gols de Gajé e um de Santinho. Foi um passeio completo. Para ficar com a taça, poderia até perder para o selecionado da Princesa do Sertão por um placar menor.
Em Feira de Santana, Itabuna perde para o selecionado local por 1X0, após o árbitro, caprichosamente, anular três gols do craque Fernando Riela. Como o regulamento do campeonato foi modificado, as duas equipes teriam que disputar uma terceira partida, justamente no estádio Joia da Princesa. Mais um osso duro de roer. Menos para Afrânio Souza Lima.
Para os craques itabunense nada faria diferença e o que somente importava era ganhar o jogo e levar mais uma taça para Itabuna. No terceiro jogo, Itabuna entra em campo para ganhar e pouco se importou com a pressão dos feirenses que lotava o estádio. Apesar de pequena, a torcida itabunense fez muito barulho e incentivou a seleção em mais uma brilhante vitória por 3X1.
Se em campo a guerra era intensa, nas arquibancadas não era diferente e os itabunenses confiavam na vitória. Um deles era Afrânio Lima, cacauicultor e pecuarista que acompanhava a Seleção de Itabuna em todos os jogos. Mais do que a simples presença, gostava de desafiar os adversários, os chamando para apostar. E ainda oferecia vantagem.
Era a hora da festa e ninguém sabia comemorar mais que Afrânio Lima. Saiu na frente e chegou primeiro na boate contratada para a comemoração da vitória da Seleção de Itabuna. E entre as primeiras providências tomadas o fechamento da casa e lavá-la por inteiro com a melhor e mais gelada cerveja. Estava tudo pronto para comemorar o Pentacampeonato Baiano de Amadores.
Assim que os jogadores e comissão técnica iam entrando, passavam pelo banho de cerveja. A festa na boate feirense atravessou a madrugada. Cedo, embarcaram no ônibus fretado da Sulba e uma nova parada para o café da manhã em Sapeaçu. E assim a comemoração continuava em cada uma das sucessivas e providenciais paradas.
Em Itabuna a multidão aguardava a Seleção Pentacampeã Baiana, em plena segunda-feira, transformada em feriado pelo prefeito Félix Mendonça. Mas os vitoriosos jogadores ainda tinham uma obrigação, entrar em Itajuípe e participar do banquete promovido pelo presidente do Bahia local, Oswaldo Gigante.
Em Itabuna aguardavam os jogadores e torcida na praça Adami uma multidão, com charangas a postos para batucar no desfile pelas duras da cidade. Carro de Bombeiros a postos, os itabunenses se rendiam aos eternos campeões. Já Afrânio Lima, assim que chegou se despediu dos jogadores e rumou para ver e comemorar com os amigos no Bar Avenida, de Olímpio, onde abriu a valise para mostrar a vultosa aposta que ganhara dos feirenses.
Walmir Rosário é radialista, jornalista e advogado