convênio assinado na tarde da última sexta-feira (30) entre Prefeitura de Itabuna, Caixa Econômica Federal (CEF), e a FM Construtora está assegurando o acesso de jornalistas e radialistas sindicalizados ao Programa de Financiamento Habitacional "Minha Casa, Minha Vida". (grifo meu)

Ou seja, não é pra qualquer um jornalista. Tem que ser sindicalizado – nem é bom perguntar o que eles têm para blogueiro, visto que nosso Trombone tem classificação ‘livre’. Mas vamos nos ater ao caso dos jornalistas e radialistas "tradicionais". Melhor, vamos ficar apenas com o caso dos jornalistas, uma vez que identifico maior facilidade para os companheiros do microfone na seara em que quero meter o bedelho.

Voltemos ao final dos anos 1990, exatamente aos idos de 1998/99, quando eu e uma turma de novos jornalistas ainda tínhamos ilusões quanto ao ‘nosso’ sindicato, o Sinjorba. Lembro que um grupo de fedelhos, todos com menos de 80 quilos – composto por este que vos escreve, além de Davidson Samuel e Ricardo Ribeiro (Pimenta), Simone Nascimento (Diário Bahia – licenciada) e, logo após, Ailton Silva (A Região) – partiu em busca da "legalização" na profissão, e procurou o glorioso Sinjorba.

Não eram, ainda, os anos de chumbo que hoje vivemos, a ditadura do diploma  – ou a síndrome da certificação, como define Adylson Machado, em seu ABC do Cabôco. Havia certa liberdade para sindicalizar os profissionais que já atuassem no mercado, que não tivessem problemas com a Justiça – tentativa de expurgar os picaretas – estivessem em vias de serem contratados por algum veículo e, regra estranha, declarassem não haver jornalista desempregado na cidade. Preenchíamos todos os requisitos – até rezávamos para que o Agora e o A Região não demitissem nenhum de nossos colegas, como Daniel Thame, Luiz Conceição, Joel Filho… Eles não sabem, mas foram alvos de nossos clamores.

Mas, também no jornalismo, existe um dispositivo ilegal – embora praticado a torto e a direito – chamado "reserva de mercado". No nosso caso era pior, uma vez que não havia nenhum jornalista sindicalizado desempregado na cidade – nossas orações eram fortes! -, e enfrentávamos uma "reserva de mercado futuro!", caso um desses filhos de Deus tomasse uma tábua de graxa durante nossa luta pelo registro profissional.

Resultado, fomos enrolados pelos sucessivos delegados sindicais que por aqui apareceram, entramos pelos anos 2000, participamos – para fazer número – de encontros de jornalistas no interior (valia pela cachaça), onde se debatia o fim da sindicalização de jornalistas como eu e como meus companheiros. Sacanas…

E hoje, invadindo minha caixa de email, me vem o Sinjorba com esse nhenhenhém de que "a parceria [para a aquisição da casa própria] é um ato de justiça porque irá assegurar um benefício social, com o acesso a moradia, para profissionais de três setores importantes da economia do município de Itabuna e da região", nas palavras de seu atual representante regional, Valério de Magalhães. Arre!

Torço para que os companheiros do rádio consigam ter acesso ao programa, assim como os comerciários. Torço até para que os jornalistas sindicalizados consigam sua casa própria, e que o Sinjorba não estipule uma regra do tipo "desde que não haja nenhum jornalista diplomado sem-teto na cidade" – sim, porque essa agora é a bandeira do nosso sindicato, mesmo sem esquecer a reserva de mercado para quem já estava dentro até o momento do boom dos cursos de jornalismo em nosso estado.

Ah, só pra não ser injusto com o magnânimo Sindicato dos Jornalistas Profissionais da Bahia – gostei desse termo ‘magnânimo’, com que a Ferrari premiou Felipe Massa, o sonso, depois da vergonha da corrida da Alemanha: após o início do período dos anos de chumbo, o Sinjorba concedeu, sim, um registro profissional e o direito de sindicalizar-se a um jornalista itabunense – Ednei Bonfim.

Mas este nunca pertenceu àquele nosso grupo.

Domingos Matos é jornalista sem registro e sem sindicato; é blogueiro e escreve quando quer