Por Fausto Pinheiro

O setor Cacau-Chocolate no Brasil, na atualidade, reúne verdadeiras condições de retomar e firmar-se como referência mundial de desenvolvimento da cadeia produtiva.

O forte espírito empreendedor de seus atores, a existência de diferentes modelos de produção, sejam eles grandes, médios e ou familiares, e a presença de infraestrutura de grande moagem e de transformação de amêndoa em chocolate em associações e iniciativas individuais, demonstram a pujança da cadeia e um dos elementos de força da área.

O franco desenvolvimento do mercado consumidor de cacau-chocolate de qualidade, orgânico, fino ou especial, agregando valor ao produto caracteriza mais um significativo segmento a ser explorado e ampliado.

As condições de clima, solo, desenvolvimento de novas tecnologias através de pesquisas públicas e privadas, plantio em regiões tradicionais e não tradicionais, a exemplo do oeste baiano, São Paulo, Minas Gerais, Ceará e Tocantins, conferem à cacauicultura nacional potencial de aumento de produtividade e competitividade na produção de matéria prima e de chocolate.

A geopolítica da produção mundial de cacau nos leva a considerar que países considerados maiores produtores do mundo, concentrados no continente Africano a exemplo da Costa do Marfim, Nigéria e outros, enfrentam dificuldades nas questões climáticas, no pouco cuidado com o meio ambiente, aspectos sociais com forte impacto sobre a produção e problemas com pragas e doenças. Ainda, com um modelo expansionista com fronteiras limitadas e baixa incorporação de tecnologias e pequena produtividade, sinaliza um cenário de escassez do produto dessas origens e abre uma grande oportunidade para o Brasil.

Recentes e motivadoras notícias de novos mercados compradores conquistados em mais cinco países do leste Europeu e da Ásia ( Rússia, Belarus, Armênia, Casaquistão e Guirquistão) só aumentam nossas reais oportunidades de crescimento do setor. Os países tradicionalmente conhecidos como consumidores também demonstram disposição e resiliência para o aumento do consumo, apesar da alta recente dos preços. A ampliação também dos produtos derivados de cacau e suas diversas utilizações, tais como maquiagem, hidratantes, gastronomia, medicamentos, além do valor adicionado como alimento promotor de saúde e bem estar, consolidam novas formas de consumo.

O estado da Bahia detém a liderança nacional na produção de cacau, com 60% do volume produzido no Brasil e adiciona um aumento no volume produzido em amêndoas de qualidade para produção de chocolates finos, já reunindo 100 marcas em fase comercial. Reúne também pujante estrutura científica e tecnológica instalada no que denominamos de Estrada do Conhecimento dispondo de universidades e centros de pesquisa como UESC, CEPLAC, Centro de Inovação do Cacau -CIC, IFBAIANO, IFBA E UFRB, conferindo ao estado protagonismo e liderança para acreditar em novo e continuado modelo de desenvolvimento da cadeia produtiva.

Estes fatores dão sinais ao Brasil, e destacam a Bahia em particular junto a outros estados, trazendo estímulo e mostrando que vivenciamos um momento singular e estratégico para dar assistência a tais requerimentos.

É um setor que movimenta a economia de forma significativa, com uma dinâmica própria, gerando emprego e renda, contribuindo para a produção conservativa e de alto valor agregado. Representa faturamento estimado de 24 bilhões de reais e exige atitude proativa dos entes envolvidos na busca contínua de produção de conhecimento e concertação de políticas para o setor que possam fazer o enfrentamento dos novos desafios que se colocam em nossos caminhos.

Isto posto há de se retomar o fôlego, aumentar o investimento público e privado em pesquisa, recuperar o crédito e financiamento para a lavoura (em particular na Bahia), investir no aumento de produtividade, ampliar o diálogo com os setores e entes envolvidos fortalecendo a governança do setor, acreditar que estamos estruturando um modelo viável de desenvolvimento e que caminhamos para um novo ciclo de sucesso. Necessário ser breve na decisão pois trata-se de uma cadeia geradora de emprego, renda, tecnologias e divisas para os estados produtores de amêndoas e de chocolate fazendo frente à nova realidade.

Fausto Pinheiro é produtor rural e Presidente da Câmara Setorial de Cacau da Bahia