PANELA VELHA É QUEM FAZ COMIDA BOA

por Redação
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Por Walmir Rosário

Imortalizada na voz do cantor paulista Sérgio Reis, a música Panela Velha, composta pelo Celmar de Moraes, o Moraezinho, deu o que falar e ficou famosa como um mote para vários significados. Desde a simples vasilha para preparar a comida, ou a experiência da pessoa em determinada função, muitas das vezes ditas em forma de gracejo.

Não temos como negar que é uma meia verdade se a dissermos na forma figurada, conotativa, do jeito como o povão gosta e entende. E tomo a frase para lembrar os bons tempos da Ceplac, melhor dizendo, do restaurante que a instituição manteve por muitos anos na sede da Coordenaria Regional, na rodovia Ilhéus-Itabuna.

Não tenho qualquer informação fidedigna da quantidade de refeições (almoços) que servia aos seus servidores no dia a dia. Posso assegurar que esse número passava e dos dois mil, incluindo as marmitas para os operários de campo. Alimentação saudável, balanceada, conforme os estudos do pessoal da nutrição, apropriada para todas as idades e regimes de trabalho a preços subsidiados.

Filas enormes eram formadas diariamente e nos admiravam os tamanhos dos pratos servidos para uma turma já conhecida e que pegava pesado. Ali comiam desde os diretores ao mais simples operário, conforme o padrão burocrático. E garanto: a comida era de boa qualidade, com cardápio que não se repetia na mesma semana. Com o sucateamento da Ceplac, o restaurante pereceu.

Esta semana soube por velhos colegas que a Universidade Federal do Sul da Bahia (UFSB) vai colocar em funcionamento um restaurante universitário para professores e estudantes. Animei-me com a informação, pois o local, hoje abandonado, voltaria a ter serventia, deixaria de ser um elefante branco, como são conhecidos os equipamentos públicos abandonados.

Mas como tudo o que é bom dura pouco, na sequência soube pelos colegas que não seria bem assim. A universidade iria construir um prédio novinho em folha e não aproveitaria o prédio antigo e seus equipamentos, por mais que continue imponente. De pronto achei, como os colegas, que seria uma aberração gastar nossos parcos recursos retirados a título de impostos.

Foi então que fui interpelado e questionado se meus conhecimentos técnicos e científicos seriam suficientes para analisar o aproveitamento de um prédio velho, se bem que em bom estado, para atender aos padrões de modernidade exigidos por um restaurante universitário. Quedei-me silente por instantes até recuperar a carcomida memória.

Fiz ver aos meus interlocutores que o nível dos clientes era o mesmo, pois serviria aos doutores, pós-doutores, mestres, especialistas, técnicos das mais diversas áreas, bem como outros em formação. E insisti que os clientes do futuro restaurante ganhariam muito mais com a rápida entrada em funcionamento, bastando alguns ajustes e a aquisição dos equipamentos.

Meus oponentes não deixaram por menos e voltaram a questionar quais os meus dotes nas áreas da gastronomia, nutrição, finanças, arquitetura e engenharia, me desqualificando para o debate de alto nível. Confesso que senti o golpe, mesmo assim exaltei minhas qualidades como chef de cozinha, sabendo lidar com forno e fogão, arrumação de mesas e outros tais ofícios.

Para não deixar os leitores aflitos, perdidos numa discussão alheia, dou algumas coordenadas, informando que hoje a UFSB funciona na mesma área em que a Ceplac, hoje doente terminal. E concedo todos os méritos ao ex-diretor Juvenal Maynart em engajar a luta de abrigo na área da Ceplac, projeto do qual me incorporei, com a finalidade de dar utilidade à área federal antes que fosse invadida.

Além do mais, nada mais justo do que uma instituição do governo federal seja implantada na área ociosa da outra. Quem sabe, poderiam trabalhar em conjunto em projetos de pesquisa, aproveitando os laboratórios e o cabedal de conhecimento da Ceplac, antes que os poucos cientistas que restam se aposentem e que as informações sejam perdidas, fique no limbo.

Área e prédios não faltam, dependendo apenas de ajustes básicos para sua adequação, inclusive na cozinha e refeitório, satisfazendo todas as necessidades da universidade. De minha parte peço todas as escusas por cair de paraquedas em seara alheia, dando intrometidos pitacos, mesmo sem ter sido convidado a tecer comentários poucos interessantes.

A finalidade dos meus questionamentos, por mais que desinteressantes sejam, apenas têm o fito de dar utilidade ao conjunto de prédios daquela área, quem sabe economizando os parcos recursos públicos. Somo à minha bisbilhotice sempre gastar menos, focado na maximização das obras e a minimização dos investimentos.

Não é bem uma reclamação e sim apenas saudosismo. Quem sabe a galinha velha poderá dar um caldo melhor…

Walmir Rosário é radialista, jornalista e advogado

 

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