“A Educação e a Porta de Saída”: livro escrito por internos do Conjunto Penal de Itabuna conta histórias de superação e de esperança

por Redação
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Por Daniel Thame

O poder transformador da Educação, num ambiente em que a privação da liberdade significa portas fechadas que nem sempre são reabertas mesmo quando a pena é cumprida, está mudando vidas no Conjunto Penal de Itabuna.

São histórias de superação para pessoas para quem a esperança não passava de um sonho em meio ao pesadelo das celas de uma prisão. Uma mudança de vida e de perspectiva que possibilitou que internos que mal sabiam ler e escrever hoje estejam cursando o ensino superior na Universidade Federal do Sul da Bahia. Mais de 160 internos do CPI já foram aprovados através do Enem/SiSU, sendo que mais de 70 foram efetivamente matriculados, a maioria na UFSB, que acaba de formar uma nova turma.

Histórias que agora são narradas no livro “A Educação e a Porta de Saída”, coordenado por Alex Giostri, Débora Consuelo Neves Queiróz e Rute Praxedes dos Santos Korol. O livro foi escrito por 15 internas e internos do Conjunto Penal, que narram suas histórias de vida, com medos, angústias, alegrias, sonhos e um desejo que é comum a todos: reconquistar a liberdade e reescrever o próprio destino.

São depoimentos emocionantes, narrados de forma simples, admitindo erros, mas deixando claro que a Educação pode e será a porta de saída da prisão e a porta de entrada para uma nova vida.

“Nunca pensei que um dia ia escrever um livro, ainda mais estando aqui onde estou. Foi uma experiência que me fez ver a vida de outro jeito. Escrever me ajudou a pensar nos meus erros e ver que eu sou capaz de fazer algo bom. Nesse processo de ressocialização, a escrita foi tipo uma ponte entre o que eu era e o que eu quero ser. Me senti escutado, valorizado e com mais vontade de seguir em frente”, afirma Genildo Rodrigues Santos.

Stefane Santana Costa destaca que “consegui vencer barreiras que carregava há muito tempo e escrevi sobre partes da minha vida familiar que nunca tive coragem de contar. Através da escrita, comecei a me entender melhor e a querer mudar. Hoje estou nesse caminho, buscando me transformar e valorizando mais a educação. Estou lutando pra conquistar meu diploma universitário”.

 

O livro “A Educação e a Porta de Saída” é fruto do Programa de Remição pela Leitura Asas da Imaginação, promovido pela Secretaria Estadual da Administração Penitenciária e Ressocialização (SEAP), e executado pela empresa Socializa, cogestora da unidade prisional.

O programa estimula a leitura, por meio da redução de quatro dias da pena a cada livro lido – comprovado por meio de um relatório, que deve ser aprovado por uma banca avaliadora, e conta com a participação de mais de 200 reeducandos em sala de aulas, e mais de uma centena que realizam nos pavilhões e seus anexos.

Minha participação no livro é uma mistura de alegria, orgulho e inspiração. Fiquei feliz de descobrir que tenho talento para escrever, uma coisa que eu nem imaginava. Tive orgulho de ver meu texto num livro, e inspiração para querer mudar minha história. Escrever me fez pensar nas minhas escolhas e acreditar que posso ser uma pessoa melhor. Hoje vejo que a educação é o caminho pra transformação”, diz Wagner José de Santana.

Para além do benefício da redução da pena, a leitura se tornou um prazer para a maioria deles. A coordenadora do programa de Remição pela Leitura, a pedagoga Rute Praxedes revelou que abatimento de quatro dias da pena só é possível para a leitura de um único livro por mês, mas muitos leem mais de três livros nesse período, mesmo sem o benefício.

SUPERAÇÃO E TRASFORMAÇÃO

“É uma honra integrar a equipe de organizadores deste livro. Uma obra que nasce do chão da realidade, trazendo à tona relatos intensos, sensíveis e profundamente reais de pessoas que, em algum momento da vida, cometeram erros, mas que hoje encontram na educação uma chance concreta de recomeçar. São histórias marcadas por superação, transformação e, acima de tudo, humanidade. Histórias que fortalecem, todos os dias, minha convicção no poder da educação como instrumento de libertação, dignidade e reconstrução de vidas”, afirma a professora Rute Praxedes.

“Essa obra é um convite à reflexão e que as ações da unidade e os olhares e ensinamentos das pessoas que a escreveram sirvam de lenha para aumentar e muito a busca de boas saídas sociais e a garantia da dignidade das pessoas”, ressalta o editor Alex Giostri.

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