Walmir Rosário | [email protected]
Após a cisão entre os vereadores Roberto de Souza (primeiro-secretário) e Clóvis Loiola (presidente), a Casa Legislativa de Itabuna se transformou num alvo corriqueiro das editorias de polícia das emissoras de rádio, TV, blogs e jornais. A gota d’água foi a exoneração dos diretores administrativo, Alisson Cerqueira, e de Recursos Humanos, Kleber Ferreira, ato assinado pelo presidente Loiola.
De um lado, os vereadores da situação; do outro, os oposicionistas. Enquanto uns questionam o decreto de exoneração, garantindo ser um ato da Mesa Diretora, os outros sustentam ser apenas ato de competência do presidente da Câmara, como foi feito e assinado por Clóvis Loiola.
Enquanto um lado, o que apoia Roberto de Souza, promete cassar o presidente Loiola, o outro, que tem o apoio do Centro Administrativo Firmino Alves, diz que é tudo "balela", "fanfarronice" e promete ir ao Poder Judiciário para manter Loiola no cargo, com todas as prerrogativas de presidente.
E mais: podem colocar em andamento um projeto antigo, resultado da queda-de-braço entre Roberto de Souza e a família Burgos, motivado pela falta de apoio ao nome da procuradora-geral do Município, Juliana Burgos, indicação do prefeito Capitão Azevedo. No judiciário, os Burgos levaram a melhor, mas ficaram sequelas, feridas que até hoje não foram cicatrizadas.
Como a vingança é um prato que se come frio, chegou a hora do troco a Roberto de Souza. Em pagamento à reprovação da procuradora-geral,surge a oportunidade de cassar o mandato de Roberto de Souza da Presidência da Câmara, antes mesmo dele ter assumido o mandato.
Sim, isso mesmo, Roberto de Souza, na visão da família Burgos, é uma espécie de "viúva Porcina", aquela da novela Roque Santeiro, da Rede Globo, conhecida por ser "a que foi sem nunca ter sido", numa alusão ao malfadado e não acontecido casamento.
Trocando em miúdos, querem que Roberto de Souza, eleito presidente da Câmara em junho de 2009, isso mesmo, um ano e meio antes, não assuma o mandato. Sem entrar na questão legal ou nas medidas judiciais cabíveis, a bem da informação, a chapa capitaneada por Roberto de Souza obteve 11 dos 13 votos possíveis. Dos dois contrários, um votou em branco e o outro nulo.
O mais incrível é que o próprio presidente Clóvis Loiola foi um dos que mais emprestaram apoio à empreitada de Roberto de Souza, mas da concepção de Kleber Ferreira, na visão dos entendidos nas questões nem tão legislativas. O certo é que o amigo Loiola de ontem é o Loiola inimigo de hoje, acrescido de mais alguns colegas de bancada.
As trapalhadas cometidas na Câmara de Itabuna não são privilégio dos atuais vereadores. Pelo contrário, aquela Casa Legislativa já serviu de palco de trapalhadas homéricas e atos que agridem a ética, a moral e os bons costumes. Todos se lembram de manchetes do tipo "Mar de lama invade Câmara de Itabuna", ostentadas em primeiras páginas de jornais e outros meios de comunicação.
Agora, o que se questiona é o seguinte: a luta pelo poder travada na Câmara de Itabuna é apenas e tão somente legítima por ter como sujeitos envolvidos os vereadores? Será que interesses externos estão de soslaio interferindo na autonomia entre os poderes garantidos na Constituição? Eis aí uma enxurrada de opções para povoar os cérebros mais criativos e permitir o enriquecimento do debate.
Pelo visto, os ânimos exaltados serão arrefecidos em breve, já que o Poder Legislativo é considerado um local apropriado para a troca de ideias, sejam elas de forma acaloradas ou fruto de negociações de bastidores. Como costuma dizer um velho amigo político: "Em Brasília, até mesmo a troca de farpas em plenário é combinada". Guardando as devidas proporções, lá, como cá, a pólvora que detona a bomba é mesma. Enquanto umas atiram, outras dão xabu.
Enquanto não se resolvem essas questões, um lado arrebenta portas, troca chaves e cadeados, ainda por cima com proteção policial. Mais uma vez a Câmara de Itabuna não repete as lições dadas por vereadores do tipo de Gerson Souza, Raimundo Lima, João França Santana, este aí vivo e são para contar as histórias, dentre tantos outros. Se quiserem personagens mais recentes podem recorrer ao professor Edmundo Dourado, ao radialista Orlando Cardoso e Eduardo Anunciação, eleito vereador quando não se percebia subsídio (ou salário) para exercer a vereança.
O conflito de interesses, antes escondido debaixo do tapete, agora chega à tona. Com o nível de denúncias feitas por cada lado, por certo não sobraria ninguém para contar a história se a Casa do Povo fosse levada a sério por quem de direito. Está ai uma boa causa para a fiscalização rigorosa do Ministério Público. Quanto ao que penso: me recuso a acreditar em tantos desmandos numa só instituição.
Walmir Rosário é advogado, jornalista, e editor do www.ciadanoticia.com.br