Quem ainda conseguia prestar atenção, lá pelo 36º minuto, no discurso de quase uma hora do superintendente (substituto) da Bahia, Antonio Zugaib, ouviu um rompimento público do orador com o diretor-geral, Juvenal Maynart. A esses sortudos, soou como um lapso (mais um, num discurso em que ele chegou até a acusar a própria Ceplac de trazer a vassoura-de-bruxa), e poucas pessoas comentaram o ocorrido e a gravidade daquilo.
Mas, qual nada.
Tudo parece ter sido de caso pensado, embora pessimamente falado. O super substituto tinha em mãos um discurso redigido, que abandonou, para desespero da plateia, assim que chegou no púlpito. Ou seja, algo que ele soube, na coxia, o animou a falar de improviso. O rompimento – traição? – com Juvenal não estava no script até a sua chegada ao recinto. Quem o teria influenciado? Qual guru, entre tantos meteorologistas amazônicos que ali pululam? Não importa.
O fato é que agora todo o bolodório, sem nexo, por vezes, era um sinal de uma guerra interior, entre a razão – como romper com um amigo tão chegado? – e a emoção, representada pela suposta encomenda recheada com uma informação de bastidor: "Juvenal cai essa noite".
Ora, só quem conhece os meandros da política ou quem conviveu minimamente naquele paraíso, um verdadeiro éden , onde já faltam maçãs (mas tem sobrado veneno), sabe o que significa uma queda de um diretor-geral da Ceplac. Um mundo de oportunidades se abre.
Se ainda não está nítido para o impaciente leitor, peço mais um cálice de tolerância e explico com alguns fatos que corroboram a tese: depois do rompimento público, ao perceber que ele – Zugaib – não caíra, o próprio deu início a um festival trapalhadas administrativas que, ou denotam uma sandice ou um desafio à autoridade maior.
Exemplo: o super substituto, invertendo a ordem hierárquica e extrapolando a jurisdição administrativa, está querendo deliberar sobre a contratação de pessoal para a Ceplac, competência que cabe, primeiro, ao ministério da Agricultura e, depois, à direção-gereal. Pois ele fez isso: já intimou uma comissão para cumprir ordem de serviço nesse intento.
Pois vejamos se é ou não uma extrapolção de competência ou uma trapalhada administrativa. O que dirá o Pará, estado que segue em passos acelerados para ultrapassar a Bahia em produção de amêndoas, ao ver a Bahia contratando sozinha pessoal, enquanto eles penam para fazer daquela região o novo eldorado do cacau e do chocolate? E ainda ameaçado pela monilíase… E assim seriam todos os outros estados, com suas gerências e superintendências.
Mas a Ceplac tem dessas peculiaridades adminstrativas. Na gestão imediatamente anterior à de Juvenal, o diretor decidiu que um setor de pessoal na superintendência da Bahia se sobreporia a uma divisão administrativa. Criou uma pérola administrativa: um derivado maior que o derivador.
Resumindo: Zugaib falou de improviso porque não daria tempo escrever um discurso como o que ele cometeu, diante de uma plateia que queria comemorar o sexagésimo aniversário de uma grande instituição. E até ver protestos contra a diretoria, o que é praxe em todos os aniversários do órgão nos últimos anos.
Apenas uma explicação é possível para a permanência de um superintendente, ainda que substituto, que brade um grito de desobediência administrativa contra a direção-geral em plena celebração de um aniversário da instituição que dirige regionalmente: invocou-se o princípio da insignificância. Ou: Brasília tem mais o que fazer.