Por Walmir Rosário
A criação da redes sociais foi um passo definitivo para a democratizar a informação e disso ninguém mais duvida. O problema da comunicação não está na história presente e nem na do futuro, que será bem mais moderna do que se imagina. Nosso calcanhar de Aquiles está na comunicação do passado, na qual se gastou muito papel, tinta, fitas magnéticas de áudio e vídeo e outros meios de gravação que vão se perdendo no tempo.
Em Itabuna, Ilhéus e região não é diferente e muitas dessas memórias foram parar na lata do lixo, após ter servido para embrulhar peixes e outras mercadorias nas feiras livres, sem que não nos déssemos conta que jogávamos – e ainda jogamos – fora a nossa história. Os livros – por sí só –, podem ser parâmetros de um tempo, mas não mostrarão os acontecimentos diários de uma sociedade.
É de conhecimento público e notório minha preocupação com o passado. O que vivenciei faço questão de repassar, para que não caia no esquecimento por não ter registro digital, já que no papel está suscetível a todos os tipos de intempéries, ataques de traças e de humanos (o pior). E o arquivo do jornal Agora corre esse sério risco, conforme nos lembrou o escritor Clóvis Silveira Góis Júnior, no artigo “O acervo do jornal Agora”.
É muito comum ouvirmos e falarmos que somos um povo sem história, embora pouco façamos para reverter esse pecado comportamental. Merece registro e louvor o jornalista Ramiro Aquino ao publicar “De Tabocas a Itabuna: 100 anos de imprensa”, trabalho de pesquisa responsável pelo resgate da comunicação desde os seus primórdios. Hoje merecem destaques as publicações “História de Itabuna” e História Grapiúna”, digitais, dentre outras.
Uma das preocupações de José Adervan – que fundou em 1981 o Agora com Ramiro Aquino – era a recheada edição anual do Agora a cada 28 de julho, data da emancipação político-administrativa de Itabuna. Um planejamento minucioso envolvendo jornalistas, historiadores e memorialistas nas pesquisas e grandes reportagens, esperadas ansiosamente pelos estudantes e a população como um todo.
Nos orgulhávamos das edições com cerca de uma centena de páginas apresentadas aos leitores, contendo reportagens e opiniões sobre Itabuna – desde que era Tabocas –, abordando os aspectos econômicos, políticos, históricos, sociológicos, geográficos, esportivos, antropológicos e religiosos. A cada edição, novas descobertas eram apresentadas aos ávidos leitores itabunenses.
E o leitor me pergunta: Por que, então, as próprias empresas não dispõem esses arquivos nos modernos meios de comunicação digitais hoje existentes? Simples: muitas das empresas de comunicação, a exemplo do jornal Agora, não mais existem, e as que ainda sobrevivem não têm condições de tocar um projeto dessa envergadura por falta de condições financeiras.
Os grandes conglomerados de comunicação até que disponibilizam esse serviço em troca de pagamento por assinatura, serviço que se torna inviável para pequenas empresas. Mas a realidade é que muitas delas já não existem e apenas conservam o arquivo em papel, no caso dos jornais. Por se tratar de um serviço de interesse da comunidade, esse múnus deveria ser transferido a um ente público.
Geralmente as prefeituras de maior porte contam com centros de documentação (cedocs), que poderiam assumir acervos menores. Mas esses centros não contam com orçamento disponível para tanto, ou vontade dos governantes. Em nossa região a Universidade Estadual de Santa Cruz (Uesc) tem prestado relevantes serviços nesta área e acredito que teria condições de assumir esse ônus.
Aqui já instalada temos, ainda, a Universidade Federal do Sul da Bahia (UFSB), que poderia se envolver com esses relevantes projetos que beneficiariam substancialmente a educação e o conhecimento regional. Está na hora dos responsáveis por esses acervos iniciarem uma conversação para a manutenção do acervo original, a digitalização e publicação na rede mundial de computadores.
Para encerrar, comento aqui uma indispensável indiscrição: os jornais sempre abriram seus arquivos para a pesquisa, embora não tivessem pessoal disponível para acompanhar esse trabalho. Muitas vezes, alguns desses “pesquisadores” simplesmente – e sorrateiramente – rasgavam a página do caderno, levando-a, para prejuízo da empresa e de futuras pesquisas. Trocando em miúdos: cuspiu no prato em que comeu.
O acervo do jornal Agora é a cereja do bolo da comunicação do Sul, Extremo Sul e até do Recôncavo baiano. O pensamento e o labor do saudoso José Adervan, que foi professor de economia da Fespi (antecessora da Uesc), não pode e nem deve ficar relegado ao esquecimento. Hoje esse acervo representa a base para para o presente e a construção do futuro e disto ninguém discorda.
Como participei da equipe do Agora, tenho consciência de que não estou chovendo no molhado!
Walmir Rosário é radialista, jornalista e advogado