Por Walmir Rosário
O ano da graça de 1962 foi uma glória para o futebol brasileiro. Em Santiago, no Chile, a Seleção Brasileira se sagrou bicampeã mundial, aplicando o placar de 3X1 contra a então Tchecoslováquia, com gols de Amarildo, Zito e Vavá. O receio de jogarmos a Copa do Mundo sem Pelé foi superado ainda no primeiro jogo, após o rei do futebol sofrer uma fortíssima contusão, justamente contra a Tchecoslováquia.
No Rio de Janeiro, mais exatamente no Gigante do Maracanã, como era chamado pelos locutores de rádio, o Botafogo triunfa sobre o Flamengo e ganha mais um título de Campeão Carioca, pelo placar de 3X0. Neste jogo, Garrincha humilhou o Flamengo e ainda fez dois gols. O outro foi de Vanderlei, contra. No nosso estado, o Esporte Clube Bahia ganhou os dois turnos do campeonato e se tornou campeão baiano de profissionais.
Mas o que nos interessa mesmo é falar da Seleção de Amadores de Itabuna, a que entrava em campo para ganhar. Nossos torcedores não perguntavam se a esquadra azul e branco ganharia, mas, sim, de quanto seria o placar. Claro que a nosso favor. Para tanto, mais de 22 craques convocados estavam sempre prontos para dar aquele baile de bola nas seleções adversárias. Dentro e fora de casa.
A Seleção de Itabuna ostentava o título de Campeã Baiana Intermunicipal de amadores, invicta, diga-se de passagem, no ano de 1957. Após três anos sem o certame, em 16 de outubro de 1961, o campeonato é reativado e a Seleção de Itabuna estreia em Itajuípe, contra o selecionado da casa. Resultado: Vence a partida pelo placar de 3X1, com dois gols marcados por Zé Reis e mais um por Florizel.
Já sentíamos no ar o cheiro do bicampeonato. No segundo jogo, este disputado contra a mesma Seleção de Itajuípe, no Campo da Desportiva, a Seleção de Itabuna vence os itajuipenses pelo placar de 3X2. Foram três gols assinalados por Florizel. E a próxima vítima abatida foi a Seleção de Belmonte, em Itabuna, por 2×1, dois gols de Florizel. No jogo em Belmonte, mais uma vitória itabunense, pelo placar de 3X1, com gols assinalados por Santinho, Zé Reis e Florizel.
Classificada para as quartas de finais, a Seleção de Itabuna vence a seleção de Jequié, na casa da adversária, por 3X2, e no jogo de volta, no Campo da Desportiva, sequer toma conhecimento do selecionado da Terra do Sol e aplica uma goleada por 4X0. Nas semifinais, empata por 0X0 com a Seleção de São Félix, na casa adversária, e despacha o selecionado de São Félix no Campo da Desportiva, por 1X0, gol de Santinho.
E chegam os jogos finais do campeonato. Na primeira partida, em casa, no campo da Desportiva, Itabuna aplica uma acachapante goleada na Seleção de Feira de Santana, por 6X0. No segundo jogo, agora na casa adversária, empata por 1X1. E nem precisava mais para levantar a Taça de Bicampeã do Campeonato Baiano Intermunicipal de Amadores de 1961. Mas que fique bem claro, o último jogo foi disputado em 28 de janeiro de 1962.
Ainda em 1962, já classificada, a Seleção de Itabuna estreia no Campeonato Baiano Intermunicipal de Amadores na fase seminal, contra a Seleção de Ilhéus, no Campo da Desportiva e empata em 1X1. O jogo seguinte, em Ilhéus, foi um dos mais difíceis e os gols de Tombinho e Gajé selaram a vitória por 2X0. Nesta partida, Fernando Riela deu um passeio em campo, e o seu marcador, o lateral-direito Coquita foi expulso de campo.
E eis que mais uma vez a gloriosa e invencível Seleção de Itabuna chega à fase final e tem como adversário o selecionado de Alagoinhas. Mas como os itabunenses não brincavam em serviço, aplicaram 3X0, nos domínios da seleção adversária, e deixaram para decidir junto aos seus torcedores, no Campo da Desportiva: Bastou 1X0, marcado por Zé Reis. Era o dia da graça de 17 de dezembro de 1962. Data em que Itabuna se sagrou Tricampeã Baiana Intermunicipal de Amadores.
Ser Tricampeã já era pouco para esta Seleção de Itabuna que chegaria ao hexacampeonato (seguido). E nosso entusiasmo, júbilo, arroubo, era a inspiração dos nossos craques, que entravam em campo com a determinação de vencer, trazer mais um título para o itabunense, mostrar nossa superioridade no futebol. Afinal, jogávamos em igualdade de condições com qualquer equipe brasileira.
Além de partir para o abraço e todas as formas de comemorações, nos inspiramos numa música de Jackson do Pandeiro, Frevo do Bi, concebida para exaltar o Bicampeonato Mundial de Futebol: “Vocês vão ver como é/ Didi, Garrincha e Pelé/ Dando seu baile de bola/ Quando eles pegam no couro/ O nosso escrete de ouro/ Mostra o que é nossa escola/ … Quando a partida esquentar/ E Vavá de calcanhar/ Entregar a pelota a Mané/ E Mané Garrincha a Didi/ Didi diz que é por aqui/ Aí vem o gol de Pelé!”
E para comemorar a vitória do Tricampeonato, cantávamos pelas ruas da cidade a paródia: “Vocês vão ver como é/ Zé Reis, Tombinho e Gajé/ Dando seu baile de bola/ Quando eles pegam no couro/ O nosso escrete de ouro/ Mostra o que é nossa escola/ … Quando a partida esquentar/ E Fernando de calcanhar/ Entregar a pelota a Gajé/ E Gajé a Santinho/ Santinho diz que é por aqui/ Aí vem o gol de Gajé!”.
Não lembro se a “nossa” letra era exatamente essa. Busquei entre os vários desportistas da época a confirmação, porém eles tinham apenas uma vaga lembrança, e assim, com os fragmentos que eu reuni, aí está para lembramos da época áurea do nosso escrete azul e branco.
Walmir Rosário é radialista, jornalista e advogado