Daniel Thame | www.danielthame.blogspot.com
Afinal, há pelo menos duas décadas que se fala na duplicação da rodovia que une as duas maiores cidades do Sul da Bahia e que, além de ter em suas margens a Ceplac e a Universidade Estadual de Santa Cruz, é uma das portas de entrada para o crescente movimento turístico nas áreas litorâneas e possui um intenso fluxo de veículos entre municípios que se completam nas áreas de comércio, saúde, educação superior, prestação de serviços e lazer.
A duplicação da rodovia Ilhéus-Itabuna é, portanto, mais do que necessária e existem motivos para acreditar que, finalmente, a obra sairá do pantanoso terreno da promessa. Os recursos para a duplicação da rodovia estão disponíveis no PAC e o projeto final está em vias de aprovação.
A partir daí é, literalmente, colocar as mãos à obra.
O problema – e isso precisa ficar bem claro – é que a interminável lista de acidentes na rodovia Ilhéus-Itabuna, muitas vezes com vítimas fatais, não pode ser debitado necessariamente ao fato de que a rodovia possui uma única pista, com dois sentidos de direção.
Se há um fator preponderante nesses acidentes, que não ocorrem apenas na rodovia Jorge Amado (esse é o seu nome oficial), mas em rodovias de todo o Brasil, ele atende pelo nome de irresponsabilidade.
Uma irresponsabilidade que fica visível para quem trafega -e na prática arrisca a vida- num trecho de meros 28 quilômetros, que se pode fazer em 40 minutos numa velocidade razoável e respeitando-se as normas de trânsito.
No sábado, enquanto familiares e amigos ainda choravam as mortes do casal e do bebê de apenas um mês e dezoito dias e no local do acidente ainda se podiam ver as marcas da tragédia, motoristas continuavam cometendo as mesmas barbaridades de sempre: excesso de velocidade, ultrapassagens arriscadas, desrespeito à sinalização e até ausência do cinto de segurança.
A menos de 200 metros do posto da Polícia Rodoviária Federal (isso mesmo!) o motorista de um Fiat Uno, que retornava de Ilhéus, teve que jogar o carro no acostamento estreito para não bater de frente com uma Van, cujo motorista irresponsavelmente fez uma ultrapassem por vários carros e vinha, em alta velocidade, na contramão.
A duplicação da rodovia Ilhéus-Itabuna certamente desafogará o tráfego e dará um dinamismo ao fluxo de veículos, além de funcionar como vetor de desenvolvimento agregado a obras como o Porto Sul, a Ferrovia Oeste-Leste e o Gasene.
Mas não evitará acidentes e mortes enquanto os irresponsáveis que usam seus veículos como armas letais continuarem cometendo suas atrocidades ao volante impunemente.
A responsabilidade é uma via de mão dupla.
Já a irresponsabilidade parece trafegar (e matar!) em todas as direções.
Daniel Thame é jornalista e blogueiro