O Hospital Materno-Infantil Dr. Joaquim Sampaio, em Ilhéus, realizou ontem (24) à tarde uma roda de conversa com autoridades e colaboradoras da instituição para falar sobre o Agosto Lilás, mês dedicado à conscientização e o enfrentamento à violência sofrida por mulheres. A iniciativa teve a missão de motivar a realização de denúncias, estabelecer parcerias, unir esforços em prol da efetivação dos direitos da mulher no sul da Bahia – área de abrangência do hospital – e aproximar entidades representativas e a sociedade civil no intuito de fortalecer uma assistência assertiva na política de saúde integral da mulher.
A violência doméstica começa de uma forma muito sutil, destacou a representante do Centro de Referência de Atendimento à Mulher (CRAM), Lídia Melo. Psicóloga e terapeuta integrativa, ela lembra que as agressões geralmente começam com processos de desvalorização e de desrespeito às mulheres, sob a ótica masculina de que elas jamais conseguem chegar ao patamar da capacidade deles. “Por isso o que fazemos no CRAM é resgatar, escutar e mostrar possibilidades para estas mulheres”, afirmou.
Grave
De acordo com dados da representante da OAB, advogada Talita Gomes Teles Soares Magalhães, presidente da Comissão da Mulher, dos 53 feminicídios registrados na Bahia, este ano, três ocorreram em Ilhéus. Mas um outro dado foi revelado pela representante da Frente Parlamentar das Mulheres, vereadora Enilda Mendonça. Em Ilhéus, de acordo com levantamento feito nas Companhias 68 e 70 da Polícia Militar, 155 mulheres vivem na condição de Medida Protetiva determinada pela justiça. “É importante lembrar que quando se chega a este ponto é por que a mulher já se encontra na condição de vítima e que há uma subnotificação neste número, já que muitas, por medo, sequer lutam por esta proteção”, destacou a parlamentar.
Humanização e respeito
Médica há 25 anos e há 20 trabalhando na humanização do nascimento, Carla Bastos Daher, da equipe do HMIJS, destacou a necessidade de se combater a violência obstétrica e, também, passar a ter um olhar cada vez mais acolhedor para situações que chegam à unidade hospitalar. “Algumas mulheres chegam ao hospital com partes do corpo roxo, dizendo que foi apenas uma pancada, uma queda. Muitas vezes parece ser muito mais que isso e parece ser uma forma silenciosa de pedir ajuda”, alerta. A delegada Katiana Amorim, da 7ª. Corpin, lembrou que a violência doméstica contra a mulher atinge ainda gênero e causa transfobia e transfeminicídio e que é preciso chamar a atenção da sociedade para este fato grave. Defensora Pública, Cristiane Barreto, destacou a necessidade de lutar para que a sociedade enxergue desde as mais simples situações de violência contra a mulher como crime. “A rotina, muitas vezes, faz com que muita coisa a gente termine naturalizando. E isso não pode acontecer”, alertou.
Lei Maria da Penha
O movimento “Agosto Lilás” traz uma referência ao aniversário da Lei Maria da Penha, criada em 7 de agosto de 2006 e que, em 2023 completa 17 anos. Para a direção do HMIJS, a iniciativa de realizar essa roda de conversa no ambiente do hospital surge de uma necessidade de quebrar barreiras e romper paradigmas do modelo obsoleto hospitalocêntrico, no qual o hospital apenas presta assistência de saúde aos necessitados.
“Temos também o compromisso de disseminar informações e realizar ações que possam contribuir para o combate à violência obstétrica, doméstica e familiar contra a mulher, conscientizando a sociedade e os nossos colaboradores sobre a importância de valorizar e defender as mulheres e de incentivar a realização de denúncias como forma de salvar vidas”, destaca a diretora-geral, Domilene Borges. O Agosto Lilás do HMIJS é uma realização da Fundação Estatal Saúde da Família (FESF SUS) e contou com o apoio da Faculdade de Medicina Santo Agostinho.