Por Walmir Rosário

Nesta sexta-feira (10) acordei preocupado com chuvas que se abatem por toda a região Sul da Bahia e áreas limites configuradas no Alerta Vermelho emitido pelos institutos de meteorologia. Em casa, tudo em ordem, embora as incessantes chuvas nos deixem preocupados. Afinal, mesmo que diretamente não sejamos atingidos, muitas famílias sofrem com o desabrigo e a perda de bens móveis, semoventes e imóveis.

A todo instante nos chegam – via redes sociais – notícias com imagens de áreas inundadas, casas, pontes e estradas submersas, impedindo o ir e vir. Pelo que sei, os eventos da natureza não são obrigados a respeitar os ditames da nossa constituição e somente nos resta a chorar pelas desgraças que abatem os que habitam nessas áreas tristemente atingidas.

Desde menino que ouvia e até aprendi serem as chuvas o sinal de bonança, muita fartura na agropecuária, comemoradas exaustivamente pela população, o que teria criado os festejos a São João. Os mais velhos asseguravam que as mudanças em tempo de chuvas representavam bons augúrios, felicidade na nova casa, na cidade escolhida, enfim, garantia de sucesso na futura empreitada.

Mas nem sempre isso acontece. Basta recordarmos a lição feita em forma de canção deixada por Gordurinha (Waldeck Artur de Macedo, cantor compositor, radialista), em sua grande obra Súplica Cearense). “Oh! Deus, perdoe este pobre coitado/ Que de joelhos rezou um bocado/ Pedindo pra chuva cair sem parar/ Oh! Deus, será que o senhor se zangou/E só por isso o sol arretirou/ Fazendo cair toda a chuva que há…”

Mas as coisas não acontecem exatamente como queremos, de acordo com nossas vontades, que mudam a cada momento, de acordo com nossas necessidades, sejam elas prementes ou não. Pedimos chuva para não faltar água, criar animais e a plantação; sol para o cumprimos o vai e vem nosso dia a dia, não nos molhar no ir e vir, ou simplesmente irmos à praia, pegar um bronzeado.

Mas como na música de Gordurinha, nunca sabemos como pedir: “Senhor, eu pedi para o sol se esconder um tiquinho/ Pedir pra chover, mas chover de mansinho/ Pra ver se nascia uma planta no chão/ Oh! Deus, se eu não rezei direito o Senhor me perdoe,/ Eu acho que a culpa foi/ Desse pobre que nem sabe fazer oração…”. E arremata: “…Desculpe eu pedir a toda hora pra chegar o inverno/ Desculpe eu pedir para acabar com o inferno/Que sempre queimou o meu Ceará”.

Baseado na premissa de que a chuva traz felicidade, quero homenagear outro colega radialista, desta vez o operador de som (sonoplasta) itabunense Luiz Carlos Barroso, de apenas 58 anos, que faleceu na noite desta quinta-feira (9), no Hospital de Base de Itabuna. Ele foi acometido da Covid-19, que lhe deixou algumas complicações cardiovasculares, deixando a mulher (Márcia) e os filhos Roberto e Roberta.

Há muito que não nos encontramos para aquele bate-papo comprido, relembrando coisas do passado, em que trabalhamos juntos na apresentação do Programa De Fazenda em Fazenda, na Rádio Difusora de Itabuna. Àquela época cumpríamos um ritual ímpar, pois éramos quem abríamos a programação da emissora às 4 horas e seguíamos até as 7 da manhã, com um programa líder em audiência. De segunda a sábado, às 3h20min passava o carro da Ceplac em minha casa e seguíamos para a casa de Barroso.

Separados por uma parede com um painel de vidro, mais do que cumprir um roteiro do programa com sintonia, tínhamos uma cumplicidade nas ações, ao ouvir os ouvintes ao telefone e colocá-los no ar, para dar os famosos recados para as fazendas. Final do programa, numa simples conversa escolhíamos a programação musical do dia seguinte e qualquer mudança era como se fosse telepatia.

Outra ocasião trabalhamos juntos numa campanha eleitoral em que escrevi e dirigi o programa de rádio de um candidato a prefeito em Itabuna, apresentado por outro grande do rádio de Itabuna, Paulo Vicente. Fizemos um trabalho maravilhoso, tanto assim, que os temas apresentados passaram a ser discutidos em toda a cidade, principalmente os quadros humorísticos com Paulo Leonardo e Florentina Jerimum.

Um certo dia, ao ouvirmos o horário eleitoral, aconteceu o inusitado: o programa do adversário, apresentado antes do nosso candidato, respondia algumas denúncias que seriam feitas em seguida. Após analisarmos todas as questões, descobrimos que nosso programa era ouvido ao ser entregue na emissora responsável pela veiculação, por um operador que trabalhava na campanha desse adversário.

E mudamos nossa estratégia: Em vez de entregarmos à noite, como fazíamos, passamos a entregar a fita cassete às 4 da manhã, impedindo que a produção do candidato adversário pudesse fazer qualquer manipulação. E era o Barroso que, antes de abrir a Rádio Difusora, onde trabalhava, passava, de motocicleta, na outra emissora para entregar a fita do programa que iria ao ar logo mais às 7 horas. Nem precisamos recorrer à Justiça Eleitoral, pois nosso candidato estava melhor colocado e ganhou a eleição.

Enquanto a chuva continua caindo incessantemente, minha mente reproduz imagens das enchentes, das pessoas que estão sofrendo com os dissabores e choro por todas elas, como choram a família, os amigos e colegas por Luiz Carlos Barroso. Como diz o ditado: É triste o momento da partida, mas prefiro acreditar que o “velho Barroso” se muda deste mundo com o presságio de que os augúrios das chuvas lhes acompanhe nesta mudança.

Walmir Rosário é radialista, jornalista e advogado