Rosivaldo Pinheiro
Os últimos fatos envolvendo o desvio de suco de laranja na Prefeitura de Itabuna, bem como as denúncias de irregularidades no comando administrativo da Câmara Municipal, revelam a falta de responsabilidade e ética que alguns agentes públicos têm no exercício das suas funções, além de demonstrar a falta de limites na separação entre o "público e o privado".
Denunciam também o "espírito predatório" com que estes "vorazes devoradores da cidadania", ao serem movidos pelo "status" da função, se locupletam do erário, sem visualizar as responsabilidades que a sociedade lhes outorgou.
Nesses casos, o poder parece afastá-los das bandeiras que motivaram suas trajetórias, deixando-os insensíveis e tendenciosos a negar suas origens, bem como, mergulhando-os num mundo novo de "luxurias e excessos".
As ações destes incautos parecem movidas pela insensatez e seus impulsos cerebrais obedecem a padrões comportamentais que os aproximam dos mais cruéis psicopatas.
O sentimento de satisfação individual e a ausência de afeto alimentam a lógica pessoal de acumulação de patrimônio e poder.
Conseqüentemente, se instalam ao redor destes "tiranos" uma rede de oportunistas, verdadeiros parasitas, sanguessugas de sonhos, cujo maior legado é a prática do puxa-saquismo e o culto ao personalismo.
Dizem os sábios: "quer saber quem é o verdadeiro homem, dê-lhe dinheiro e poder". O problema é que esses desvios comportamentais acabam criando a cultura da "farinha pouca, meu pirão primeiro", contribuindo para a supremacia da idéia do "salve-se quem puder", que se alastra de forma endêmica pelos quatro cantos do país.
Os "barões do poder" alimentam e proliferam o "ciclo da miséria", mergulhando o país num "estado de convulsão social".
A insensibilidade destes "reis da esperteza" é justificada por eles como parte das ações necessárias para manter-se no poder. Para tanto, mantém a ótica segundo a qual o correto é a vantagem auferida, não importando os meios utilizados para sua materialização.
No caso do desvio dos sucos, lembremos que serviriam para abastecer o Restaurante Popular e alimentar pessoas de baixa renda, desempregados ou trabalhadores do mercado informal.
Na Câmara, a suposta crise pela falta de dinheiro é elemento de difícil justificativa, pois, mensalmente é repassado a título de duodécimo, R$ 563.736,43 (quinhentos e sessenta três mil, setecentos e trinta e seis reais e quarenta e três centavos), transferidos religiosamente dia 20 de cada mês para com as despesas daquela instituição, cuja estrutura principal é composta por nove funcionários efetivos e 13 vereadores.
A sociedade exige e espera que todos os fatos sejam apurados e esclarecidos para a opinião pública. Do contrário, estaremos contribuindo para a falência dos valores morais e implantando a "ditadura da impunidade".
Sem fazer pré-julgamentos, esperamos, em nome da esperança e do zelo pelos princípios da boa gestão, que haja uma resposta ágil por parte do Executivo e do Legislativo.
A sociedade fica na expectativa da participação do Ministério Público Estadual, em defesa do interesse coletivo e da elucidação imparcial dos fatos. A cidadania agradece!
Rosivaldo Pinheiro é economista e pós-graduado em Gestão de Cidades