A sensação foi de receber uma cerveja choca, um chop aguado. No dia em que o Brasil alcançou a triste marca de 401.417 mortos pela Covid-19, o itabunense viu um grupo de empresários forçar o governo municipal a flexibilizar os horários de funcionamento de bares e restaurantes, inclusive nos finais de semana. Alguma coisa tá fora da ordem.
Foi um gol contra do prefeito Augusto Castro, justo ele, que sofreu na pele o que essa doença pode fazer, quando ataca em sua forma mais grave. Aliás, essa afirmação, de que o prefeito viu a face da morte, diz muito mais respeito ao que a doença pode fazer, mas não reflete o drama da pandemia em si. O prefeito teve um leito, ainda não havia um drama instalado pela falta de insumos, teve uma equipe médica e oxigênio à vontade. A face da pandemia é bem mais grave. Tem gente sendo intubada sem sedativos.
Mas, como gestor, seria obrigação dele se colocar no lugar do povo, antecipar-se ao sofrimento, e prover ações que minimizem essas dificuldades futuras. Ao contrário disso, Castro apostou no “libera geral”. Itabuna segue com números de contaminação nas alturas, a vacinação segue capengando, mas o que importa é que as pessoas poderão frequentar os bares, restaurantes, academias, cinema e igrejas até as 21h30min.
A previsão de quem entende do assunto é pessimista. Ex-gestor da saúde municipal diz, sob anonimato, que convém prestar atenção aos números da covid-19 a partir dos próximos 15 dias. Eles devem subir, afirma. Mais gente concentrada em locais fechados ou bebendo, mesmo ao ar livre, significa mais contaminação. O risco de mais mortes é uma consequência lógica. Simples assim.