Finalmente reconhecido cidadão pela terra que venera – não tanto quanto a sua Itapé –, o advogado Carlos Eduardo Sodré exercita, há anos, o papel do observador desinteressado da política itabunense. Nesse aniversário de 110 anos da terra amada, topou conceder essa entrevista ao blog O Trombone, para expor seu olhar diferenciado sobre a realidade da terrinha, especialmente nesse momento de pré-campanha. A constatação é um golpe na titela: “É preciso levantar a espinhela de Itabuna”, sentencia. A cidade, a seu ver, “cresce como rabo-de-cavalo”, e sua população deve ficar atenta aos nomes postos até agora.
Leia os principais trechos.
Pergunta – Recentemente o senhor foi agraciado com o título de Cidadão Itabunense. Que mensagem o senhor deixaria para a cidade que o adotou, pelos seus 110 anos de emancipação?
Resposta – Itabuna é parte de minha vida. A ela estou ligado pelo nascimento, em seu território, eis que mostrado ao mundo em Itapé, aquela atual cidade era distrito de Itabuna. Ligam-me a ela, também, os deveres decorrentes de cidadania outorgada já que a sua Câmara de Vereadores, recentemente, fez-me “Cidadão Itabunense” com uma das mais concorridas celebrações. Nela, estudei os cursos ginasial e clássico, execrei múltiplas funções e cargos inclusive, a Subsecretaria do Gabinete do Governador Roberto Santos, que permitiu carrear para esta cidade numerosos benefícios que datam daquela profícua gestão estadual (Colégio Polivalente; sistema de esgotamento Sanitário; as URBIS I, II e III; iluminação Estádio Luiz Viana Filho e muitos outros).
Isso me faculta direitos e me impõe, ao mesmo tempo, deveres para zelar por sua sorte, interferir no seu destino e interceder em todo debate que se faça ou deva se fazer derredor da vida de nossos conterrâneos sobretudo, quando o município experimenta tão vertiginosa decadência.
O senhor fala de uma Itabuna que já foi mais romântica. Mas, como disse, há responsabilidades envolvidas. Como o senhor vê a realidade de Itabuna nos dias atuais?
Salta aos olhos que uma simples comparação da realidade atual em qualquer campo da vida de Itabuna é fácil conquanto doloroso constatar-se que as coisas vão de mal a pior.
Há sinais visíveis de que Itabuna não vem crescendo, faz tempo, pois as deformidades sociais e urbanas não indicam desenvolvimento, mas, sim, inchação, nada mais que isso. Ou se quiserem, “cresce como rabo-de-cavalo”, por isso que não constitui exagero afirmar-se que Itabuna está de “espinhela caída” para usar-se uma linguagem real e popular.
Diante de dificuldades assim tão diagnosticadas o que seriam as providencias para o soerguimento de Itabuna – ou levantar-lhe a espinhela?
O que fazer? Muito a fazer, tudo a corrigir.
Primeiro, juntar o que resta de gente idealista, séria, competente, recrutada onde quer que se encontrem pessoas com esse compromisso e perfil, e reuni-las em torno de uma plataforma de trabalho e luta para “levantar a espinhela” de Itabuna.
Há homens e mulheres ainda com esse sentimento, mas que, isolados e postos à margem, não se sentem motivados para fazerem qualquer esforço ou sacrifício pela terra. No entanto, a uma clarinada e em derredor de propostas sérias ainda é possível se mobilizar gente para um grande mutirão que promova a retomada de um processo que faça Itabuna se reencontrar com o seu destino. Primeiro, para a reconstrução do município e, na sequência para retomada do progresso de outrora.
A doença que acometeu a comunidade itabunense é pior do que a pandemia do vírus em voga. Esta mata alguns – o que já é doído. O mal que atingiu Itabuna, na sua vitalidade comunitária que há muito lhe minou as forças e corroeu-lhe o orgulho grapiúna, a autoestima cidadã, atravancando-lhe a marcha do progresso.
Quem deve ser responsabilizado por esse quadro tão desalentador?
A responsabilidade desse quadro caótico é de todos. E é pior, já disse, que o mal virótico que ora vergasta o nosso povo, pois a pandemia, mais dias e menos dias – e é bom que seja logo! – passará como passam as tempestades. Estancar a marcha-à-ré do progresso de Itabuna depende de decisão de sua gente, de muito brio e coragem para vencer a mediocridade, o individualismo nefasto e a incompetência política.
Agora mesmo, quando o povo é chamado a escolher os seus novos dirigentes é imperioso que se reflita, que se pense grande, que se debatam as questões essenciais da cidade e dos seus habitantes fazendo-o com elevação, grandeza e espírito público.
É preciso que, nesta campanha que se avizinha, o eixo das discussões, dos debates, seja deslocado para a busca de um ponto que una, em convergência, mais que separe ou desuna, substituindo-se os debates estéreis e imbecilizados, que não somam, não congregam e nada resolvem, por discussões desfulanizadas, despartirizadas, desideologizadas que, ao menos neste momento de decadência, devem ceder lugar para se discutir projetos grandiosos, ambiciosos, restauradores a serem conduzidos por gente experiente na gestão pública (nada de aventuras com neófitos que nunca administraram nada). Itabuna em sua situação tão difícil em que está mergulhada, não pode se dar o luxo de eleger ninguém por meros caprichos e interesses meramente individuais.
Vejamos aqui: liderança – Itabuna não tem gerado novos valores, gente com embocadura e vocação para liderar. Para dentro e para fora.
Por exemplo, Ilhéus reivindicou e ganhou obras do Estado (ponte, hospital e outras…), no valor de algumas centenas de milhões de reais. Itabuna, não passou de 10% desses valores, a demostrar, que nem saber pedir, está sabendo; Educação – Os índices no plano educacional caíram tanto nos últimos 15 a 20 anos que do patamar de terceiro, do Estado, IDH conquistado naquela época não passamos hoje, do sétimo patamar para ao qual, recuamos humilhantemente sendo, que nesse período, afora a Universidade Federal arrancada, para Itabuna a “fórceps altos”, não se contabiliza nenhum avanço. Não se contabiliza também nenhum avanço nos planos do ensino básico, mormente no ensino público. O progresso que se nota está no terreno do ensino particular que não atende à massa popular, obviamente.
Na saúde, tirando a Policlínica (que contempla Itabuna como a outras cidades de maior porte) a situação é lastimável e vergonhosa. Atendimento de péssima qualidade (para os que podem pagar e pior para os que não têm onde tombar mortos) seja na medicina clínica, da baixa à alta complexidade, à deficiência da rede hospitalar, realidade que a presente pandemia exibiu a todas as luzes. O troca-troca de tantos secretários de Saúde em um único governo, quer dizer o quê?
Precisaríamos de prova mais contundente e inquestionável? Vergonha total!
E agora, diante de um pleito eleitoral, qual deve ser a atitude do eleitorado?
De algum tempo para cá, tenho conversado com pessoas de Itabuna, de níveis sociais culturais e de faixas etárias diferentes, recolhendo impressões para uma reflexão, a mais isenta possível, sobre essa vergonhosa e triste realidade. Cada vez mais tenho me espantado. Mas como aprendi, com o apóstolo Paulo, que se deve até mesmo “esperar contra toda a esperança”, considero que é próprio esperar que o povo itabunense – pelo menos uma vezinha que seja! – pense em Itabuna em primeiro lugar e que os políticos tenham um pouco de piedade (nem falo em senso ético, espirito público) por nossa cidade e nosso povo e, pondo de lado os interesses pessoais, partidários e ideológicos, coloquem ITABUNA – suas carências e angústias de nosso povo – em primeiro lugar, isto é, no centro dos debates, para que o eleitorado saiba a quem vai entregar os destinos de nossa terra.
O que o senhor pode dizer das pré-candidaturas postas até aqui?
A rigor, não há candidatos, como tal escolhidos por partidos, legalmente. Os que vierem a ser, o serão sagrados em convenções partidárias que, pelo calendário eleitoral, se realizarão, entre 31 de agosto e 16 de setembro.
Há nomes postos, aí, de montão. Uns com proposito de ir à final, outros em sede de preliminar, com ou sem “farinha no saco” estes, para fazer preço para uma “mercadoria” que não tem, à cata de negociar dinheiro agora ou ”nacos” de poder na futura gestão. A mesma água barrenta de sempre…
Mas, dá para sentir alguma coisa. Um giro (mais virtual que físico, por causa da pandemia) dá para servir e sentir que: a) O Prefeito – talvez causando ou perscutando derrota – com um raquítico candidato, som que não reverbera… b) um ex-prefeito sem grupo, ainda com espaço no campo conservador, apenas pelo fracasso da atual gestão; c) um “messias” que, como escoteiro, não acredita em alianças, nem as que, com quem fizer, o aliado deve saber que não cumpriria acordo nenhum, se vencesse, isto sem referir que, como médico fez-se omisso (postura imperdoável à luz de “Juramento de Hipócrates”), e a quem se pretende líder nesta pandemia, que é tempo de guerra, ocasião em que a omissão é igual à deserção, nem dando para explicar, nem tentando conserto agora; d) por vontade divina, na batalha pela vida, com boa aprovação como representante parlamentar, no que deve perseverar (em 22, ninguém merecerá mais) ex-deputado, simpático, ligeiro, embora com experiência administrativa zero; outro ex-prefeito duas vezes, igualmente ex-deputado federal e estadual, ex-secretário de Estado, curtido na gestão pública inclusive, de grande empresa, nome limpo, ao que percebi em momento de visível crescimento nas pesquisas, a apontar que tem tudo para ir para o final da disputa; e) um amontoados de pretendentes, todos “marinheiros de primeira viagem” que dizem os velhos analistas da política itabunense “não dão um”, no entanto, dignos, a maioria, com toda legitimidade na busca, cada qual, do seu “lugar ao sol”, fazendo ensaios para o futuro.
Fora de tudo isso, há que lembrarmo-nos de duas coisas: a primeira, perguntar-se qual deles tem a boa interlocução com o Governo do Estado – o atual e o futuro, de quem já se vislumbra o perfil – para que Itabuna, tendo competência política (ajuda para teatro é importante mas, é menos do que a nossa vizinha cidade soube conquistar), possa exercer um papel reivindicatório eficiente que propicie em favor do nosso povo não só o que conseguiu (que foi positivo, sem duvida), porém muito mais…; a segunda, é que afunilamento do processo pré-eleitoral, com a saída dos aspirantes, enseje um debate em alto nível tendo Itabuna como eixo principal.
Que Deus, nesta quadra de decisões do destino da nossa terra, faça infletir o seu olhar misericordioso para o futuro de Itabuna e dos itabunenses, porque já chega de atropelos e equívocos na sua trajetória.
O povo precisará de seu turno, identificar o nome, bons propósitos e experiência, o gestor que levante a “espinhela caída” de Itabuna no seu 110º ano!