Por Walmir Rosário

Calma, eu explico: Nem morreu nem morrerá tão cedo, pois ouvir dizer que está imortalizado no álcool. Também não confundam o título acima com uma matéria que ele mesmo escreveu – há anos no saudoso Tabu –, descrevendo sua morte. Não, o cabra – Tyrone Perrucho – está e continuará “vivinho da silva” por muitos e muitos anos, pelo menos em nossa memória. O problema é outro e muito sério, como passarei a descrever.

É que anos passados o jornalista desocupado Tyrone Perrucho deixou sorrateiramente Canavieiras por duas vezes em direção a Barra Grande, município de Maraú, uma delas na companhia de Alberto Fiscal, lá conhecido como Alberto Coletor. Nesta primeira viagem, de cunho eminentemente turístico, se divertiu a valer e até provou da cerveja Heineken pelo alvissareiro preço de R$ 10,00.

Já na segunda turnê, saiu à francesa, sem se despedir ou dar um simples até logo a nenhum dos amigos, criou uma comoção nos diversos estabelecimentos do ramo etílico devido ao seu sumiço. Num belo dia, quando ainda estagiava nas artes do whatsapp, disparou dezenas de postagens em que registravam visitas suas às igrejas chamadas popularmente de evangélicas.

Se por um lado despreocupou os confrades d’O Berimbau e do Clube dos Rolas Cansadas, deixou as cabeças de outros totalmente baratinadas, dado a esse interesse mais que repentino em frequentar as chamadas “Casas de Deus”. Assim que chegou à Confraria d’O Berimbau no sábado seguinte, o confrade Raimundo Tedesco decifrou o enigma, informando ser uma ideia fixa dele, ainda dos tempos de rapazote.

E discorreu sobre sua primeira incursão numa igreja evangélica, prontificando-se a congregar com os irmãos, chegando a receber o sacramento do batismo em um sábado solene. Toda essa religiosidade – segundo o amigo Tedesco – estaria fundamentada no interesse numa das irmãs em Cristo, a quem prometera casamento, desde que a conhecesse mais intimamente, proposta tida como indecorosa pela quase futura noiva.

O “Batizado do Irmão Tyrone” deu o que falar naquela Canavieiras de ontem e rendeu uma poesia, distribuída fartamente (e ainda guardadas até hoje) em todos os recantos da cidade, com a foto do inusitado acontecimento. Desfeita a quase união, Tyrone Perrucho não deixou o hábito – há quem diga que é tara – de se bandear para igrejas, com segundas intenções.

Alguns dos seus amigos sempre disseram que esse comportamento não era normal, haja vista que volta e meia arrumava uns arranca-rabo com os padres, o que lhe rendeu uma promessa de excomunhão. Para uns confessava ser ateu, aquele coitado que não crê em Deus ou outro ser superior; para outros seria apenas um agnóstico, daqueles que não dizem que sim nem que não, muito menos pelo contrário.

Entretanto, as fotos chamavam a atenção, pois as igrejas estavam todas fechadas, no que mais uma vez Tedesco revelou a questão: “É que um sujeito pernicioso daquele chama a atenção e os pastores mandam fechar as portas com medo que venha junto o satanás”. Mas a pergunta que não quis calar foi: O que Tyrone Perrucho queria nessas igrejas, de forma tão insistente?

O tempo passou mas a questão ficou no ar até que mais algum tempo, confabulavam Tyrone e Alberto sobre a possibilidade de um retorno a Barra Grande logo após a folia momesca. Flagrados por Panela de Barro, a conversa se encaminhava sobre a possibilidade de abrir uma franquia de uma dessas igrejas em Canavieiras, e que funcionaria justamente ao lado do bar Mac Vita.

Pelo que Panela de Barro ouviu – e contou aos confrades –, o local escolhido já se encontrava pronto para funcionamento de uma dessas igrejas, faltando apenas o investimento no mobiliário e num grande e chamativo letreiro em frente e o serviço de som. De mais, bastaria formar alguns obreiros para atrair os fiéis, ao encarnarem as figurações de fé e recolher os óbolos pelas curas e milagres.

Não sei se Tyrone Perrucho sabe o motivo do fechamento da igreja no local em que ele pretende abrir o seu estabelecimento religioso. Caso não saiba e nem lembre, conto aqui: Numa dessas noites chuvosas a Coelba se esmerava em transformar as luzes da cidade em pisca-pisca, deixando às escuras os clientes do Mac Vita e da igreja ao lado, numa tentativa de fazer com que todos retornassem as suas casas.

Foi aí que então o pastor desceu do seu púlpito e se dirigiu ao bar Mac Vita para o espanto da seleta freguesia que, entre uma cerveja e outra, acompanhava as promessas de milagres. Educado, saudou a todos com um empolgante boa noite e perguntou se alguém da seleta clientela dispunha de um isqueiro ou fósforo para que ele pudesse acender as velas e continuar operando os milagres em seu culto.
Sem pestanejar, um dos clientes, Batista Gama Neves, emendou de primeira:

– Por que mesmo o senhor quer isqueiro ou fósforo?

No que o pastor respondeu:

– Para acender as velas e continuar o culto.
Foi aí então que Batista não deixou por menos:
– Pastor, nós estamos aqui ouvindo o senhor operando milagres, fazendo aleijado andar, surdo ouvir e expulsar satanás. Com todo esse poder o senhor não sabe fazer um milagre mixuruco de acender uma vela? Pode ir embora, aqui não tem não –.

Para surpresa dos clientes do Mac Vita, no raiar do dia seguinte parou um caminhão em frente a igreja, retirou todo o mobiliário, encerrando os cultos até hoje.

E apenas contei essa história com a finalidade de alertar o quase-pastor Tyrone Perrucho de que Batista continua sendo um dos clientes mais assíduos do Mac Vita, e para que ele não se poupe na sua vida mundana, brinque outros carnavais e não corra esse tipo de risco. Igreja ao lado de bar é concorrência desleal e sempre poderá passar por sérios dissabores e insolúveis problemas.

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Walmir Rosário é radialista, jornalista e advogado