Quando o tema se esgota em si mesmo, um rodapé pode definir tudo e ir um pouco além.
Adylson Machado
À espera da prescrição
Insinuações da possibilidade de apuração, pela Polícia Federal, de indícios de crime a partir de empréstimos consignados celebrados através da Câmara Municipal. A sociedade exulta com a iminência da investigação.
A mesma sociedade que ainda espera o resultado de uma operação da mesma PF, que andou bloqueando entrada do Centro Administrativo e “assustando” muita gente, inclusive secretários da então administração de Fernando Gomes. Falava-se da existência de desvios de recursos da Saúde.
Investigar e apurar é sinal de maturidade em qualquer Estado de Direito. O risco é a prescrição, ou seja, deixar caducar a oportunidade de punição.
Com a palavra a Polícia Federal. Se o caso não estiver sendo apurado em segredo de justiça.
Lá e cá
Significativos os avanços trazidos pelas administrações petistas na implantação de políticas de governo, onde se destacam a distribuição de renda e a ampliação de oportunidades de ascensão social para camadas da população historicamente relegadas.
No entanto, no plano interno, o PT caminha, pelo andar de umas poucas carruagens – que repercutem negativamente na imagem do partido – para alcançar isonomia com uma gama de outras siglas partidárias no campo de desvios na moralidade.
Não bastasse o nepotismo de Erenice Guerra – lá, em Brasília – e nos debruçamos com denúncias de igual prática – cá, em Camamu (terra da prefeita Ioná Queiroz) – segundo o Pimenta na Muqueca 16 (“A grande Família”), com o singular desprendimento de sete parentes e dois contraparentes encastelados no erário da administração municipal.
Aqui e acolá
A sociedade cobra da riqueza adquirida da noite para o dia dentre os que exercem funções públicas. A isto se denomina patrimonialismo – transformar a coisa pública, do povo, em instrumento de vantagens pessoais – prática sedimentada muito mais na corrupção que na legítima acumulação material.
Para enfrentar isso, temos defendido que a sociedade organizada exerça o poder concreto de fiscalização, amadurecendo o processo de democracia participativa direta, imediata, acompanhando as ações dos agentes públicos (funcionários) e políticos em particular (vereadores, deputados, senadores, prefeitos, governadores e presidente da república).
Associações de moradores, de bairros, conselhos municipais etc. constituir-se-ão, no instante em que a cultura da cidadania ocupar o espaço que lhes é inerente, nos fiscais da execução orçamentária.
Lá e cá, aqui e acolá
Dois resultados se vislumbrarão: a denúncia aos órgãos competentes – judiciários e não-judiciários – para a apuração cível e criminal e o alijamento da vida política dos que não se portarem conforme os ditames da moralidade, negando-lhes o voto.
Poderíamos começar pelo comecinho: olhando o patrimônio pessoal de nossos estimados políticos, eleitos ou pretensos candidatos. Nisso se faz presente não dispensar nem familiares, aqueles que podem assegurar para o político a manutenção da nefanda prática do patrimonialismo.
Começando por 2012, que já está ali…
Vereança no horizonte
Nos sensibiliza a informação de que Tiago Feitosa, filho de Geraldo Simões e Juçara Feitosa, estaria no legítimo embate político em busca de uma vaga na Câmara de Vereadores de Salvador. Particularmente, considerando que o menino Tiago não disporia de redutos eleitorais no universo soteropolitano, imaginamos que o consiga com os méritos do pai, pelo menos. Ou com a transferência de votos pelo Deputado J. Carlos.
No mais, seria despejar dinheiro vivo que, acreditamos, o menino não disporia para a campanha.
Ou, quem sabe, disponha!
Dinastia
Em que pese a evidente possibilidade de exploração político-eleitoral de uma candidatura de Tiago Feitosa – aqui ou em Salvador – sobre o indicado pelo PT local para 2012, se Geraldo Simões, ou Juçara Feitosa (nome de densidade eleitoral comprovada, ainda que derrotada por Azevedo na ainda não deglutida campanha de 2008, por votação superior a dez mil votos), não vemos como estranha a iniciativa.
Afinal, direito inalienável possui Tiago. Negar-lhe seria pretender crucificá-lo por ser filho de GS, quando é da própria história política regional a sucessão familiar. Félix Jr., Sérgio Souto, Juthay Júnior, ACM Neto, Paulo Magalhães, Antônio Carlos Júnior. Neste 2010 Raimundo Veloso lançou o filho a estadual, assim como Fernando Gomes ensaiou seu pupilo Sérgio em 2006.
A veia política, a vocação e a vontade de cada um servir ao povo seguindo os passos de pais, tios não pode ser descurada.
Ao povo compete a seleção. E avaliar a qualidade da herança.
A discussão
Carlos Chagas, na Tribuna da Imprensa on line 15: “Existem na Constituição, perto de 100 artigos ainda não regulamentados. Um deles é o que determina à lei ordinária criar mecanismos para defender o indivíduo e a família dos excessos da programação de rádio e televisão. Por que nada se fez, em 20 anos?”
Para os controladores da informação, encastelados em um punhado de proprietários dos meios de comunicação, isto é censura. Povo só para consumir, não para pensar e exigir o que lhe seja melhor.
Não à toa temos reiterado posicionamento, da imperiosa necessidade de votação de uma legislação infraconstitucional para regulamentação dos artigos 221 e 222 da Constituição.
Carta Capital
A semanal CartaCapital de 17 (n. 622) na sessão Brasiliana exalta o documentário “Um Dia de Vida”, de Eduardo Coutinho, exibido na Mostra Internacional de Cinema, em São Paulo. Edição de 91 minutos sobre 19 horas de gravação de conteúdos levantados em um dia de programação televisiva brasileira.
A coluna recomenda a leitura, vinculando-a ao texto acima. (O Trombone facilita: clique AQUI para ler)
Exemplo
A rede nos anuncia as Meninas da Feira, de Feira de Santana, grupo composto por Celiah Zaiin, Josy Ramyller, Camila Gonçalves, Kelly Ventura e Carla Janaína. Interpretam diversas vertentes da música brasileira na noite da Princesa do Sertão. Celiah Zaiin, segundo a divulgação, constatou em seus estudos musicológicos a ampla variedade de canções na diversidade musical que enriquece a cultura local.
Cumpre registrar que em Feira deságuam o Sertão e o Recôncavo e o trabalho das Meninas da Feira, traduzindo a ancestralidade regional, da vivência quilombola à influência holandesa e portuguesa, viabiliza um imaginário recheado de códigos que alcançam a sensibilidade individual certamente em muitos prismas.
O trabalho se nos desperta a certeza de que a cultura de cada espaço está viva, aguardando apenas o manuseio.
Exemplo aqui em Itabuna
Por seu turno, Itabuna dispõe de expressões eternas no universo de sua cultura. De Zélia Lessa a Sabará, na música; de Jorge Araujo a Yara Lima, no teatro. O celeiro que representou a segunda metade dos anos 60, quando esta terra foi extensão da Escola de Música da UFBA, áureos tempos do suíço Ernst Widmer (foto à direita) e da itabunense Zélia Lessa. Ainda hoje nos debruçamos com trabalhos significativos, como o elaborado, no âmbito da música, pela octogenária Filarmônica Itabunense.
Quando por aqui mourejou Mário Gusmão (anos 80) o teatro vicejou com o grupo Em Cena, fazendo surgir uma geração de ouro donde saíram Betão, Jackson Costa, Eva Lima, Alba Cristina, Mark Wilson, Marcos Cristiano, Marcelo Augusto.
De Buerarema Zé Henrique, Gal Macuco, Zé Delmo, Ramon Vane, Jorge Martins, no Grupo de Arte Macuco.
Marquinhos Nô, Sílvia Smith, Matheus Saron, Marcelo Lobo, Aldenor Garcia, Elaine Bela Vista, Lucas Oliveira, Jailton Alves esforçam-se nestes últimos anos sustentando a tradição.
A arte da dança justificará um capítulo à parte.
No entanto, algumas experiências recentes, em que pese promissoras, com público cativo, esbarram na dependência do poder público local, em muito debruçado na iconização de certos dirigentes.
Tapando o sol com peneira
Não deixa de ser hilária a exegese ofertada por juristas a serviço da Presidência da Câmara para cercear o ingresso de editores de blogs como homens de imprensa. Não pela ausência de conceituação do que seja jornalismo em razão do meio de divulgação da informação.
Mas pelo fato, concreto, de que de nada adianta impedir o acesso se não há como impedir a divulgação da informação pelo blog. Assim, o bom senso recomendaria: se não podemos impedir a divulgação não o faremos em relação ao ingresso no recinto.
O resto é bizantinice. Ou truculência, quando não se percebe que o exercício do poder tem e exige limites, os quais não controlamos.
Como dói
Ouvindo entrevista do Presidente da Câmara de Vereadores de Itabuna à TV Cabrália, que acompanhou a sessão e o desenrolar da leitura do relatório da CEI, descobrimos que o ilustre edil somente está vereador porque não dispomos de um promotor como aquele que quer acabar com a carreira de Tiririca em São Paulo.
Isso porque não conseguimos perceber nem 20% de palavras postas em consonância com a sintaxe portuguesa.
Concordância nem se fale. O Português triste e publicamente assassinado e o microfone tentando fugir para não testemunhar.
Sugestão
Ver certos programas de televisão, ouvir certos programas de rádio AM e ler certas revistas e jornais exige advertência do Ministério da Saúde: há risco de diminuir a capacidade intelectual.
DE RODAPÉS E DE ACHADOS abre espaço, através de comentários à coluna, no sentido de que o leitor dê nome, identifique o programa de televisão, o de rádio e a revista ou jornal perigosos à saúde intelectual.
A partir da segunda quinzena de dezembro começaremos a publicar os resultados. Mais precisamente, as observações do leitor.
Quo vadis Itabuna
Não estamos a lembrar o famoso filme, direção de Marvyn Leroy, com Robert Taylor, Débora Kerr, Leo Genn e Peter Ustinov, do início dos anos 50, ambientado na Roma de Nero (séc. 1 d.C.). Mas uma indagação (o quo vadis latino é interrogativo. Não dispunha a língua mater de sinais de pontuação) em torno desta “triste Bahia” em que se transforma Itabuna, mais seiscentista no plano moral que a de Gregório de Matos revelada no famoso poema, musicado por Caetano Veloso, em 1972 (veja no vídeo abaixo), ainda que sem um Mendonça Furtado.
Não que se imagine que não busquem apurar desmandos gravíssimos na Câmara de Vereadores e na própria sede do Executivo municipal. Mas por causa de uma quase certeza de que nada acontecerá, ou, quando muito, muito pouco ocorrerá. É o que temos visto, pelo andar da(s) carruagem(ens).
Quo vadis. Quosque tandem abutere patientia nostra.
Faltam-nos Cíceros e suas catilinárias.
Depois de tudo
Rir pra não chorar!
Adylson Machado é escritor, professor e advogado, autor de “Amendoeiras de outono” e ” O ABC do Cabôco”, editados pela Via Litterarum