Quando o tema se esgota em si mesmo, um rodapé pode definir tudo e ir um pouco além.
Adylson Machado
Região Metropolitana I
Inicia-se o aprofundamento da discussão em torno da criação da Região Metropolitana de Ilhéus e Itabuna. Fórum realizado nesta sexta 8, no auditório da FTC, abriu a temporada de debates, com o condão de conscientizar lideranças em todos os níveis para a importância que representa nossa RM, pensada para envolver 27 municípios.
Ao final do evento foi lida a “CARTA DE ITABUNA”, dirigida ao Governador Jaques Wagner, para que viabilize os estudos técnicos para a proposta de lei complementar a ser encaminhada à Assembleia Legislativa.
Cumpre registrar que há em mãos de Sua Excelência uma indicação do Deputado Coronel Santana sugerindo a criação da Região Metropolitana de Ilhéus e Itabuna, ali denominada “do Cacau”.
Região Metropolitana II
O fórum foi em muito enriquecido com as análises técnicas dos geógrafos Maria Adélia Aparecida de Souza (USP) e Aldo Aloísio Dantas (UFRN). A preleção da Professora Maria Adélia realçou a dimensão que o peso político assume – fundamental ao processo de criação e instalação de uma RM – não só quanto à iniciativa como a própria concepção e manutenção de um projeto de tal envergadura.
Desta forma, seu sucesso ou fracasso decorrerá da formulação das políticas públicas concebidas para serem desenvolvidas no curso da existência da RM.
Registra a Professora Maria Adélia que a criação de Regiões Metropolitanas no Brasil gerou típicas monstruosidades, em muito amparadas em concepções ultrapassadas, razão por que espera que a de Ilhéus e Itabuna seja um modelo para o País.
E alerta: não deve repetir os erros do passado.
Ausências
Alguns deputados, prefeitos e vereadores não compareceram, tampouco justificaram a ausência. Também a sociedade civil organizada não se fez presente, o que demonstra existir ainda um certo desconhecimento em torno do tema, o que será superado com iniciativa com a ocorrida.
Roberto Brito – ainda que para compor a mesa, até que desfeita – foi o único deputado federal. Coronel Santana e Augusto Castro, os únicos estaduais. Capitão Azevedo e Cláudio Dourado, os únicos prefeitos, salientando-se que Ilhéus se fez representar na pessoa de José Nazal, chefe de gabinete do Prefeito Newton Lima (que propôs a continuidade do debate, com a realização de evento semelhante em Ilhéus). Wenceslau, o único vereador de Itabuna. Se alcançarmos pré-candidatos a prefeito de Itabuna, apenas o próprio Wenceslau e Leninha.
Não temos justificativas para as ausências de Geraldo Simões, Josias Gomes, Rosemberg Pinto, Félix Jr. etc. e a citação dos ausentes e dos presentes tem o condão de registrar os fatos.
Para não esquecer.
Muito a caminhar
Inegavelmente o grande obstáculo em projeto de tal magnitude reside na ausência de compreensão não só do que representa uma Região Metropolitana, como de nos despojarmos de vícios da política regional, muito mais voltada para um certo “egoísmo” que para o cooperativismo que a realidade desta “sociedade municipalista” carece.
A declaração atribuída a Gerson Marques, publicada no Pimenta de sexta 8 dá a tônica do quanto pode estar atrasada a consciência regional, ao se enveredar pelo “eu, tudo por mim”. O ilustre ilheense deixa de lado a importância da Região Metropolitana sob o argumento de que a iniciativa da indicação coube ao Coronel Santana.
E certamente o autor da bobagem não está só. Lá e aqui.
Arre!
Só faltou o necrológio
Tamanha a visibilidade de FHC na mídia televisiva em decorrência da morte de Itamar Franco que não estranharíamos a publicação de um necrológio de Itamar com fotografia de FHC.
Maquiavelismo I
Pode haver uma dose de maquiavelismo nas “estranhas” apologias petistas ao ex-presidente Fernando Henrique no curso do seu aniversário de 80 anos. Não seria exagero nelas vermos um movimento para amarrar o PSDB ao discurso que lhe assegurou três derrotas seguidas em campanhas presidenciais.
Tudo por que, no imediato, não ficaria bem para o tucanato “bater” ideologicamente no partido onde próceres elogiam o “cérebro” da administração tucana.
Ficando acuados em seu discurso, que não repercute no eleitorado a ponto de assegurar uma vitória, mais prevalece a práxis petista no imaginário da população.
Maquiavelismo II
Ou seja, o PT – e o governo na esteira – ganha ao manter o PSDB imobilizado na redoma ao culto de um passado impopular ao tempo em que acua de certa forma a oposição que se faria. E quando o próprio FHC afirmou recentemente que o partido precisa repensar o seu discurso e retomar a direção em relação aos destinatários é “convocado” a ficar onde sempre esteve.
Restaria ao PSDB continuar a dizer que os governos do PT são continuação do de FHC. E perdendo eleições.
Leitura
Ainda que mantendo o Ministro Alfredo Nascimento, dos Transportes, a ação da Presidente Dilma Rousseff foi precisa ao defenestrar a cúpula do segundo escalão envolvida em denúncias. O Ministro que se cuidasse. Foi-lhe dado o benefício da dúvida. Que não se sustentou diante da denúncia do milagroso progresso patrimonial do filho.
Outrossim, outro recado estava dado: o PR não é tão grande e muitos de seus deputados e senadores não são Pagot, Luiz Tito, Mauro Barbosa, “Juquinha” da Valec e companhia.
Se gritar na região…
O singular desenvolvimento patrimonial de um filho de político escancara uma nova forma de “laranja”: o família. Quando o povo observar o avanço de certos “herdeiros” que nunca trabalharam na vida e não tiveram herança, descobrirá que apenas se tratava desta nova classe social: o filho de político que está no poder.
De empreiteiras a restaurantes passando por consultorias. Apenas varia – o que difere uns dos outros – a dimensão da variação patrimonial, que em alguns casos chega a 86.000%, como no caso do filho de Alfredo Nascimento.
No momento não recomendaríamos, para evitar decepções com alguns políticos locais, que lhes fosse olhada a evolução patrimonial da prole.
Tratativas inimagináveis
A última aliança imaginada por um itabunense seria a formada por Geraldo Simões e Fernando Gomes. E não é que a dita cuja foi anunciada, em estado adiantado de configuração! Se o “embaixador” Raimundo Vieira (foto) intermedia é certeza de que a pretensão caminha a passos largos.
Já escrevêramos que os contatos de GS com a cúpula do PMDB em Brasília, tendo por interlocutor o deputado Lúcio Vieira Lima, visando uma aliança com o PMDB local, dependeriam da última palavra de FG.
Se isso está ocorrendo está muito mais fácil de acontecer o inimaginável: a dobradinha GS-FG no mesmo palanque.
Os interesses
Viabilizada a aliança tudo fica claro. E mais que isso, a convergência dos interesses. Assim, a composição do futuro governo reunirá de Eduardo Barcelos a Maria Alice, de Marcão a Jorge Vasconcelos e Fernando finalmente verá equipamentos públicos em profusão instalados no Loteamento Nossa Senhora das Graças, abrindo espaço para um novo canteiro de obras.
E para não esquecer da chapa: cabeça com o PT, a vice com Fernando. Que poderia aproveitar a onda feminina.
Veremos os seguidores que se estapeavam em defesa de FG e GS abraçados entre lágrimas de confraternização.
O único detalhe: ainda não perguntaram ao eleitor.
Mais um péssimo exemplo
No imbróglio da exoneração do Ministro dos Transportes uma cena digna de ópera bufa não fosse regra geral no Brasil: o cargo é do partido (PR) que luta para indicar um novo nome, preferencialmente entre seus políticos. Ainda que uma pasta que devesse exigir um técnico por excelência, a busca por um “quadro” faz o cotidiano.
Desfaçatez absoluta a mostrar quão difícil é gerir a administração pública quando parcela significativa pensa que o público é a privada… ops! O privado.
Tocando na ferida
A cada novo exame da OAB e seu orgástico índice de reprovação – considerável alimento financeiro para cursinhos preparatórios e para a própria OAB e seu negócio denominado “inscrição” (mantendo uma rede cativa, com um típico “cadastro de reserva”), uma interessante observação nos foi trazida por Carlos Chagas, na Tribuna da Imprensa on line, de 7 de julho, sob o título “Lições de Platão e Aristóteles”.
“Mil laços ligavam Aristóteles a Platão, a começar por este ter sido mestre daquele, apesar de divergências filosóficas e científicas. Ambos fundaram escolas de saber, a Academia, um, e o Liceu, outro. Pois nos dois centros de estudo prevalecia a máxima de que se os alunos não conseguiam captar as lições dos professores, o erro e a culpa seriam de quem ensinava mal, não de quem deveria aprender. Alguma coisa estava errada na arte de ensinar.
Coisa parecida parece estar acontecendo nos exames elaborados pela Ordem dos Advogados do Brasil, obrigatórios para o exercício da profissão. A cada ano que passa aumenta o índice das reprovações, chegando agora a 95%. Não seria o caso de indagar se a responsabilidade não é das questões mal formuladas ou maliciosamente apresentadas?”
Presepada I
O circo que a OAB arma em defesa de seu inconstitucional processo de avaliação de curso – nisso está se tornando o exame da Ordem, usurpando na propaganda uma competência do MEC, a teor da Lei de Diretrizes e Bases da Educação – chega ao desplante de se achar no direito de denegrir a imagem de Cursos de Direito reconhecidos e autorizados por lei.
A denúncia da Coordenadora do Curso de Direito da Unime, em Itabuna, professora Fernanda Viana, demonstra a irresponsabilidade da OAB, a serem confirmados todos os fatos (inclusive a assunção pela OAB da divulgação).
Presepada II
Afirma a coordenadora que o curso de Direito da Unime ainda está em seu oitavo semestre e o único aluno da instituição a participar do exame é ainda um “treineiro” do 7º semestre – aquele que participa de uma avaliação para adquirir experiência.
No entanto, a instituição foi jogada às traças ao ser incluída na relação das 10 baianas que não teriam conseguido aprovar um só aluno, como divulgou o Pimenta na terça 5 (Dez cursos de Direito são reprovados pela OAB na Bahia).
Dedução
Ou seja, para aumentar o “caixa” a OAB aceita inscrição indevida e atribui ao Curso uma responsabilidade que não existe. Como este caso, milhares pelo Brasil a fora.
E a OAB se jactando de “fiscal de curso”. Que pode custar uma ação de indenização por danos à imagem da instituição de ensino.
Anúncio incômodo
Em Itororó a administração municipal anuncia a substituição da rede de distribuição de água: PVC em vez de amianto.
Em elementar conclusão temos que em Itororó se bebeu água durante décadas contendo agente cancerígeno.
Melhor que não alardeasse.
Ativismo
Dissemos neste espaço (“Ativismo IV”, domingo 3) que nos parecia estar o Ministério Público assumindo uma dimensão ativista no exercício da defesa de deficientes visuais que buscam reconhecido um direito que não se encontra amparado em lei estadual (a quem compete legislar sobre transporte intermunicipal), correndo o risco de explorações várias, inclusive político-partidárias e de se transformar em “espingarda de Satanás”.
Deficientes, em Buerarema, fecharam a BR-101 e só admitiram suspender a mobilização caso a Polícia retivesse ônibus da empresa de transportes que eles entendem estar “desrespeitando” a lei.
Enquanto a empresa vai se tornando vítima da errônea interpretação da lei, a mobilização vai ocorrendo sustentada na “recomendação” do MP. A distorção se aprofundará em outras atitudes mais graves.
Aí a “espingarda de Satanás” disparará a esmo.
Chocolate baiano
Iniciativas demonstram acerto dos muitos que produzem chocolate, caminhando para tornar a Bahia uma fonte produtora agregando valor ao cacau, antes mera “plantation”.
A 3º Festa do Chocolate, em Ilhéus demonstra estarem no caminho certo.
E la nave va
Denuncia este O TROMBONE (O Perigo dos Tapumes) a derrubada de mais um prédio itabunense que deveria estar preservado. A memória registra aquele espaço como primeiro endereço do Banco do Brasil em Itabuna, nos anos 20 do século passado.
Enquanto Fellini celebrou a arte do cinema com o antológico trabalho, por aqui não conseguimos nem o surrealismo como opção artística, e nosso barco comanda a destruição da memória.
Aqui o surrealismo é.
Pérola
Lembra Alfama, se fora fado e não valsa; se Amélia Rodrigues e não Cássia Eller. Pérola do cancioneiro nacional, cantada por tantos, de Orlando Silva a Roberto Carlos, página imprescindível em qualquer serenata.
E o clipe ambientado com precisão e a voz acompanhada por violão e bandolim. Exagero apenas na apresentação, dispensável, quando melodia e versos falam por si.
Com o leitor divina “A Deusa da Minha Rua”, de Newton Teixeira e Jorge Faraj.
Billy Blanco
Uma homenagem aqui se torna imperativo: Billy Blanco, morto esta semana. E não o fazemos pelo viés de reconhecê-lo como quem contribuiu para a bossa-nova. Mas pelo clássico “Pistom em Gafieira”, de sua autoria.
Cantinho do ABC da Noite
Bem vindos todos são ao ABC. Há, no entanto, indignação do proprietário diante de certos lugares comuns, citados por pretensos “intelectuais de almanaque”.
Um desta estirpe bebericava e expunha erudição, sob o olhar atento do vendeiro, que reagiu à vinheta:
– O homem é produto do meio…
– …das pernas, Cabôco – interrompeu Alencar finando o discurso do sociólogo, sapiente na “leitura” das batidas ingeridas.
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Adylson Machado é escritor, professor e advogado, autor de “Amendoeiras de outono” e ” O ABC do Cabôco”, editados pela Via Litterarum