Quando o tema se esgota em si mesmo, um rodapé pode definir tudo e ir um pouco além.
Adylson Machado
Desconhecimento ou descaso
As vinhetas da TV Santa Cruz permeando o ano que antecede o centenário de Jorge Amado cometem uma injustiça: nenhuma sinaliza para Ferradas, terra de origem do escritor.
E, mais que isso, nem uma mísera cena da pracinha e do busto do ferradense, onde se fez presente quando da inauguração, nos anos 80.
Olha lá!
Jogavam o estadunidense Shaun Murphy e o inglês Ricky Walden neste sábado 17 no Snooker Brasil Masters, partida transmitida ao vivo pela BandSports. De repente, não mais que de repente, agradecimentos enviados a “Itabuna, na Bahia”.
A terra de Rui Chapéu e Bombaim lembrada não só por infestação de dengue ou pelos altos subsídios de prefeito.
Conferência
Nos dias 30 de setembro e 1º de outubro serão realizados, na FTC (abertura) e no Colégio Coopedi, os trabalhos da II Conferência Municipal de Cultura de Itabuna para formulação do Plano Municipal de Cultura e a escolha de delegados para a Conferência Territorial. Espaço aberto ao debate voltado para a formulação dos Planos de Cultura, coordenado, em nível municipal, pela Fundação Itabunense de Cultura e Cidadania.
Cultura
Durante o V Fórum de Dirigentes Municipais de Cultura da Bahia – que reuniu gestores, entidades de classe e artistas em Ipirá – a itabunense ACATE (Associação Cultural Amigos do Teatro de Itabuna) se fez presente através da atriz e produtora cultural Eva Lima.
Que aproveitou a oportunidade e procurou informações de Frederico Lustosa, do IPHAN, sobre a liberação de um milhão de reais destinados ao Museu de Itabuna. O dirigente ficou de verificar, uma vez que disse desconhecê-la.
Aproveitou também para cobrar de Albino Rubim (foto 1), Secretário de Cultura do Estado da Bahia, o compartilhamento da gestão do Centro de Cultura Adonias Filho com a classe artística, dentro da nova política do Governo Estadual, que visa suprimir a pura interferência política na gestão dos espaços culturais.
No evento a Ministra da Cultura Ana Buarque de Holanda se fez representar por João Roberto Peixe (foto 2), do Sistema Nacional de Cultura.
Longevidade brasileira
Ao lado de Oscar Niemeyer (15.12.19070) Dona Canô (16.09.1907) integra o panteão dos mais longevos deste Brasil.
A filha ilustre e a mais antiga moradora de Santo Amaro da Purificação, por seus próprios méritos, tornou-se referência, não só por ter gerado Caetano e Bethânia.
Lançamento
Do Mestre e Doutor Harrison Ferreira Leite chega ao universo jurídico uma relevante contribuição para o estudo do Direito Financeiro, com ênfase no orçamento público: “Autoridade da Lei Orçamentária” (Livraria do Advogado), lançada na quinta 15 no auditório do Fórum da Justiça Federal em Ilhéus.
Obra imprescindível para os especialistas, considerando a densidade da avaliação que realiza sobre um tema relegado a segundo plano, distorcido pela Doutrina e interpretações Pretórias.
O jovem professor da UESC e UFBA traz ao mundo jurídico, em texto leve enquanto profundo, uma verdadeira revolução conceitual em torno do tema.
De Karl para Itabuna
Disse-o Karl Marx, contraditando Hegel (que admitia a ocorrência de personagens e fatos de grande importância, em dupla oportunidade), que a História se repete, “a primeira vez como tragédia, a segunda como farsa” (“O 18 Brumário de Luís Bonaparte”, Capítulo I), referindo-se à tomada do poder por Luís Napoleão, sobrinho do Bonaparte. O período em que esteve no poder foi um verdadeiro desastre.
Em terras tupiniquins, análises mais imediatas – daí porque desprovidas das avaliações imprescindíveis – parecem tornar circunstâncias em axiomas. Nessa esteira, particularmente em Itabuna, imaginar-se que o surgimento deste ou daquele nome, desta ou daquela pretensão político-eleitoral, faz do pretendente um “Napoleão”.
Coisas distintas
Conta-se que alguém, em acalorada discussão, valorizando o esforço individual, afirmara que “Lincoln, um lenhador”, fora presidente dos Estados Unidos, sendo refutado de que o fora, sim, mas “nenhum outro lenhador” alcançara a galhardia.
Afastavam os contendores um fato relevante: Lincoln não se elegera presidente pela circunstância de ser lenhador (até porque à duras penas estudara e se formara advogado) – como Lula não o foi pelo fato de ser operário – mas por ser um líder nato. Tanto que disputou e venceu no complexo processo da eleição norte-americana.
No entanto, a ilustração vem a lume para melhor compreender-se a razão por que os que analisam os momentâneos da política municipal em cada um dos instantes particularizados, apesar de reconhecerem os méritos individuais dos muitos que se oferecem ao sacrifício cívico de administrar esta terra, tecem restrições à vocação, muitas vezes inusitada destes muitos desprendidos.
Uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa, diria o antológico Vicente Mateus.
Não há discriminação
Há mesmo os que nunca passarão de uma candidatura a vereador, que se tornam expressões político-eleitorais alimentando colunas e capas de jornais e revistas, como se o mérito individual fosse sinônimo de mérito eleitoral em política.
Situações como a célebre “zebra” de Geraldo Simões em 1992, ou a ascensão de Fernando Gomes em 1976 ou Azevedo em 2008, são trazidas ao centro do debate como se todos fossem Geraldo, Fernando ou Azevedo e 2012 venha a repetir 1992, 1976 ou 2008. Não é a eleição que faz uma eleição, porém – mais precisamente – as circunstâncias que construíram cada processo.
Assim, caberia observar que nem sempre há um discurso de um governante desgastado no momento, agredindo em “showmício” a juventude e uma sociedade recém ingressa na Democracia, embalada na esteira de um impeachment de um presidente da república (1992); tampouco uma eleição amparada no instituto da sublegenda (três) que aproveitava os votos dos dois outros menos votados para somar-se aos do mais votado, cujo total enfrentava o somatório da outra legenda (1976) ou mesmo o trabalho silencioso de alguém que dispunha de mais carisma e teve a seu favor uma série de erros cometidos pela candidatura que liderou durante razoável período as pesquisas, culminando por fazer concentrar todos os adversários contra si em vez de dividi-los, como divididos estavam até às vésperas do pleito (2008).
Ainda, retomando Marx: “desempenharam a tarefa de sua época” (ib.), dentro das circunstâncias que os favorecia..
Tempos outros
Gostemos ou não delas, sejam tragédias ou não sob nossos olhares e pensares, lideranças políticas não são construídas ou desenvolvidas em gabinetes, tampouco em discursos, ou em razão do exercício da atividade privada (profissional ou comercial), ou mesmo na exposição através deste ou daquele veículo de comunicação.
Carisma – seja-o no plano dos Sete Dons do Espírito Santo, para os pentecostais, seja-o como a arquetípica personalidade maná, na Psicologia analítica junguiana – não se constrói: se tem, se nasce com ele.
Ainda que nesses tempos bisonhos a moderna política partidária tupiniquim tenha encontrado sinônimo no sonho de Midas, o vil metal.
Como técnicos
Todos os brasileiros definimos a escalação de times e seleções, ainda que desconheçamos as circunstâncias internas que estejam a justificar a estabelecida pelo técnico (sempre burro, para nós), que não dispensa a assessoria de médicos, fisioterapeutas, preparadores físicos, psicólogos etc.
Assim, analistas políticos nos imaginamos todos ao vislumbrarmos simpáticas personas, carácteres ilibados, exemplos particulares de dignidade sem indagarmos ao técnico maior (o povo) se ele também pensa como nós ou, pelo menos se concorda conosco.
E, se anuindo, os sufragará!
Do quadro e da moldura
Essa a razão por que este observador deste cada dia mais estranho e desfigurado mundo da eleição vê em alguns dos bons nomes para o debate apenas molduras eleitorais, acessórios à beleza do processo, legitimando cada eleição.
Um junho de 2012, ao final do período fixado na lei para definição das candidaturas, teremos oportunidade de conhecer o quadro e a moldura.
Setembro
Mês da primeira fase da TPE (tensão pré-eleitoral), que tem por sintoma a expectativa criada pela circunstância da definição de filiações e transferências partidárias visando arrebanhar nomes que possam somar votos para a eleição majoritária.
Causa pressão, angústia e dissabores, que se alternam com alegria e euforia. Medicação hodiernamente utilizada: muita conversa. E, por segurança, dinheiro costuma ser muito útil, que ninguém é de ferro.
Em tempos mais pretéritos se alimentava apenas de idealismo e convicções.
Mês de definições
Todos de olho nas filiações partidárias. Muitas contribuirão para a construção do cenário político-eleitoral de 2012.
A disputa se acirra em troca-trocas. De grandes a pequenas agremiações.
O PCdoB cozendo o galo em fogo lento.
Tiro ao pombo
Em nível estadual, como já registramos, a eleição de 2014 passa pela municipal de 2012. A situação de quem está comandando é como a do pombo naquele nada correto “tiro ao pombo” (incluído a partir dos Jogos na Antuérpia (Bélgica), em 1920, hoje vislumbrado em Olimpíadas, por pratos de argila), esporte preferido de considerável parcela de políticos baianos.
Nome do pombo: PT.
Do baú
No tempo das serenatas, expressão singular de arroubos juvenis para conquistas amorosas, cantadas ao pé da janela da que se imaginava aceitar o galanteio, canções latinas mais nos faziam maiores, traduzidas no “castelhano” em tessitura tenora, tornando-nos eruditos pelo falar estrangeiro ilustrado em falsetes a la Miguel Aceves Mejia.
“Granada”, de Agustin Lara, integrou o repertório romântico, em muito ouvida nos autofalantes e vista no cinema da província de cada um e aqui lembrada em dois momentos: com Luciano Pavarotti (acima) e Joselito, “O Pequeno Rouxinol”.
Cantinho do ABC da Noite
A manhã desaguando na indignação encontrava em alguém o arauto de crítica aos políticos e ao governo, levando-o a concluir, em enfático desabafo:
– Nós não temos mais bandeira, Cabôco.
– Temos, Cabôco – informa o vendeiro. E dissertou:
– O tamanduá.
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Adylson Machado é escritor, professor e advogado, autor de “Amendoeiras de outono” e ” O ABC do Cabôco”, editados pela Via Litterarum