AdylsonQuando o tema se esgota em si mesmo, um rodapé pode definir tudo e ir um pouco além.  

Adylson Machado

                                                                              

Pavão

O Papa Bento XVI se diz “preocupado com as igrejas pentecostais” (www.advivo.com.br de 23 de setembro). Pareceu-nos preocupação com “os outros”, porque deixa de olhar para o pentecostalismo católico. Coisa de pavão, que não olha para os próprios pés.

A não ser que seja maniqueísmo mesmo!

Primeiras & Melhores

p&mA quarta edição da revista Primeiras & Melhores, lançada oficialmente na terça 20 no auditório da CDL-Itabuna, não só apurou sua qualidade gráfica, trabalho que referencia a equipe que a elabora. Encorpou-se em seções que serão definitivas, como “Desenvolvimento e Meio Ambiente”, “Pesquisa & Estatística”, “Geografia & História”, “Arte & Literatura”, “Mercado & Marketing”.

Destacamos a crítica de Aécio Santos sobre “Abrupta Sede” (Via Litterarum), livro de contos de Emmanuel Mirdad, e “Itabuna Independente”, texto do historiador Aurélio Schomer sobre os bastidores da emancipação de Itabuna, extraído do livro “Itabuna, Paixão e Orgulho de Ser Itabunense”, a ser lançado pela Via Litterarum.

A propósito do texto de Schomer parece-nos definitivamente sepultado o mito da formação etimológica do topônimo Itabuna a partir do “ita, pedra; nêga Buna”, por nós deletreado em “Como Pilatos no Credo”, na terceira edição da Primeiras & Melhores”.

Temos que PRIMEIRAS & MELHORES se insere no universo das leituras obrigatórias, pela qualidade e aprofundamento dos temas abordados.

Movimentos em defesa do inevitável

Caso não aconteça uma hecatombe a ferrovia Oeste-Leste, o aeroporto internacional e o porto de Aritaguá, que integram o complexo intermodal da região cacaueira, são favas contadas. Nesse contexto, para evitar a plena saturação do perímetro urbano de Itabuna, atual via de tráfego da BR-415 com a praieira, a rodovia Ilhéus-Itabuna será duplicada para se constituir na grande avenida ligando as duas cidades, tendo por limites dessa duplicação a cidade de Itabuna e o distrito de Banco da Vitória, uma vez que o acesso ao porto e ao aeroporto não poderá contar com a Jorge Amado, sob pena de estrangular de vez a malha viária urbana de Itabuna.

Daí porque, dos grandes aneis e semianeis que interligarão as BRs 415 e 101, ao Sul e ao Norte, um deles cruzará a Jorge Amado na altura de Banco da Vitória para acesso ao complexo portuário.

A Ilhéus-Itabuna se constituirá apenas em pista de interligação intermediária entre Ilhéus e Itabuna, acessando os cruzamentos das federais para evitar a concentração de veículos pesados na malha urbana das duas cidades.

Isso é inevitável. Razão por que movimentos “em defesa” da duplicação podem ser chamados tão somente de movimentos em defesa do inevitável.

Zona azul

O presidente da Associação Comercial de Itabuna-ACI, o médico e empresário Eduardo Fontes, defendeu esta semana a retomada da atuação do sistema “zona azul” como meio de melhor ordenar o caótico trânsito de Itabuna.

Temos que, como solução imediata e paliativa, o apelo de Eduardo Fontes se justifica e encontrará eco.

Dizemos ser paliativa porque Itabuna exige um profundo projeto de engenharia de tráfego que passa por evitar o estacionamento de veículos em alguns de seus principais corredores viários como única solução para o trânsito. O que significa excluir Avenida do Cinquentenário, São Vicente de Paulo, Ruffo Galvão e Nações Unidas (apenas para ilustrar) como espaços destinados ao estacionamento, tornando-as corredores livres para o tráfego de veículos.

A solução

O mesmo sistema de “zona azul” atenderá ao estacionamento, não mais no centro da cidade e principais corredores de tráfego, mas em grande espaço destinado exclusivamente para este fim, com 20, 30, 40 ou 50 mil metros quadrados de pátio (construído e ampliado proporcionalmente ao atendimento das necessidades da cidade).

Como uma área de tal porte não se encontra disponível no centro da cidade o grande pátio seria implantado mais perifericamente.

Acesso ao centro ocorreria através de coletivos circulares do próprio sistema “zona azul”, levando e trazendo os motoristas dos veículos que se utilizem do estacionamento.

Para nós, melhor o sistema “zona azul” ser implantado com essa vocação que, pura e simplesmente, aprofundar o caos que é atualmente estacionar no centro da cidade.

Até porque não é rotatividade a solução do problema. O problema é de espaço mesmo! 

Documentário

O documentário “ABC da Noite: Sintaxe urbana do cotidiano ‘alencarino’” (10 min), com roteiro, produção e direção de Aline Meira para avaliação de sua graduação em Jornalismo da Facsul-Unime, de imediato demonstra apurado cuidado técnico. Um trabalho de fôlego que exige ampliação (leia-se mais robustez), no tempo para aproveitar o material colhido e a dimensão do tema, já que, por orientação do curso, estava limitada a exatos 10 minutos.

No conteúdo, inova ao trabalhar o jornalismo sob uma leitura literária.

Deve ter “arrebitado” narizes dos que somente enxergam jornalismo pela tradução textual do frio lide.

Ocupando espaço

A anunciada pré-candidatura do deputado federal Josias Gomes a prefeito de Ilhéus faz parte daquilo que denominamos de famosas “mijadinhas caninas” – aquelas que visam delimitar território. O PT ilheense, dividido internamente entre grupos influenciados por Josias e Geraldo Simões, pode sucumbir ao projeto do governo do Estado para administrar a aliança partidária voltada para 2014, o que passa por composições com os diversos partidos aliados, dentre eles o PP de Jabes Ribeiro, definitivamente candidato em Ilhéus.

Dificilmente Jabes não contará com o apoio petista em Ilhéus, que será permutado com outros apoios do PP ao PT em outros municípios – Geraldo de olho no caso específico de Itabuna.

Nesse aspecto pesa evidentemente o apoio de GS a Jabes em Ilhéus, que será reforçado pelo Governador.

O que fazer? Josias sabe-o muito bem. Para não fugir do apoio inevitável, e assegurar uma participação do PT na chapa majoritária (vice), lança sua candidatura e a “cederá” na hora certa. Desde que possa indicar o vice de Jabes.

Pré-candidatura para inglês ver!

Então…

Nessa hora, para assegurar o apoio do PP ao PT itabunense, Geraldo Simões entregará de bandeja a cabeça de Alisson Mendonça a Jabes.

Herói I

José Carlos “Badega” Veridiano retorna ao PT depois de breve experiência no PMDB, onde conviveu sob coordenação política de Fernando Gomes nas eleições de 2010.

Afirmando que seu retorno não será “pró Josias nem Geraldo” e sim “pela militância” (entrevista ao Pimenta no dia 22) entendemos suas declarações como uma típica postura de herói pela retomada do PT histórico.

Isso porque, todos sabemos, a militância ou está com Josias ou com Geraldo.

Herói II

Ao admitir reconhecer que não tem “condições financeiras para sair candidato” mas que o será “se condições forem dadas mais adiante” das duas uma: como herói da militância será por ela custeado; ou…

No fundo, no fundo, o retorno de “Badega” em muito contribuirá, caso encontre aquelas “condições”, para o quociente eleitoral do PT em 2012.

Entrar no seleto grupo de eleitos é outra coisa!

Cumprindo o projeto

Geraldo Simões confidenciou há dias que recuperaria os “companheiros” perdidos conquistando os “companheiros” dissidentes do fernandismo.

É a cara de parcela das novas filiações do PT.

E aproveitou para conquistar a burguesia local também, que gente fina é outra coisa!

Não tardará residir no Helena Chaves.

De marajanato

Itabuna não perde oportunidade de estar no noticiário. Da dengue ao alto índice de mortalidade entre jovens, “precipitados” da vida pelo crime e pelas drogas, a terrinha não perde oportunidade de ser manchete.

Um tema, no entanto, é renitente e teimoso: os altos subsídios do chefe do Executivo. Novamente o que ganha um prefeito de Itabuna escandaliza. Ainda que bruto (sem incidência do Imposto de Renda) valores em torno de 18 mil reais já se tornam uma agressão, sem falar que a eles são acrescidos outros 50% para corresponder às despesas com o cargo. E ainda pode haver as tais diárias.

Um deles (Fernando Gomes) chegou a ostentar o título de “Marajá”, recebendo à época remuneração superior a do presidente dos Estados Unidos.

Já houve milagre!

Interessante que iniciativas para reduzir subsídios se não são criticadas nem mesmo merecem reconhecimento. Quando Geraldo Simões assumiu em 1993 procurou marcar sua visão administrativa com duas medidas de impacto: colocou uma placa na porta do Gabinete onde proibia a entrada de corruptos (outros tempos, outros tempos!) e reduziu os subsídios de prefeito em um terço, trazendo-os dos 9 para os 6 mil ducados da época. Na esteira da redução os secretários e demais comissionados, que tinham vencimentos atrelados aos subsídios, acompanharam o chefe do executivo na medida moralizadora.

Apesar desse mérito Geraldo nunca foi lembrado pela iniciativa!

Com pouco se faz, quando se quer

Durante a mesma gestão, revolucionou a aplicação do dinheiro público ao fazer esgotamento sanitário em cinco bairros quando os recursos disponibilizados o eram para dois, substituindo o tradicional pelo condominial.

Implantou uma nova sistematização de tráfego usando inteligentes soluções para desafogar o trânsito urbano, rompeu com o “monopólio” do transporte coletivo – redimensionando o sistema de transportes e licitando parte das linhas – fazendo com que uma nova empresa trouxesse competição.

Determinou a gratuidade no transporte coletivo aos domingos e feriados, fez a “cidade mais feliz” alimentando a autoestima de seus moradores e deu um chega pra lá na bandidagem, ao não acobertar esquemas anteriormente protegidos.

Ainda enfrentando o tratamento do governo estadual quase emplaca um sucessor, não fosse o “laranja” que dividiu os votos progressistas e fez retornar FG a partir de 1997.

Desse período, ficou notado por um jornal local tão só como “prefeito que pintava meios-fios”.

“Pouso de Ministros”

Em sua segunda gestão, a partir de 2001, iniciou o processo de municipalização da Saúde, tornou o HBLEM um referencial para a região e nele iniciava a implantação do primeiro centro de cirurgia cardíaca do interior da Bahia. Postos de Saúde construídos e inaugurados, outros recuperados e o sistema de prestação de serviços de saúde passando por um procedimento licitatório.

Reduziu a mortalidade infantil e os índices de desnutrição, criou um programa de primeiro mundo para as gestantes, o “Viva Maria” e conveniou com o Banco Mundial para construção de 900 casas populares como solução para a Bananeira.

A coincidência com a eleição de Lula em 2002 permitiu Itabuna tornar-se “pouso de Ministros” tantos vinham a essa terra.

Alocou recursos para a nova Amélia Amado (6,9 milhões à época), refez a malha de distribuição de água, iniciou o projeto para construção da barragem do Colônia (outros milhões destinados no orçamento da União), asfaltou dezenas de quilômetros de ruas e avenidas em vários bairros e mesmo ousou trazer uma fábrica de computadores para cá, tomando a iniciativa de alugar o galpão para que se instalasse, onde fora espaço da antiga Mercury, nos caminhos para Ferradas.

Como também iniciava o processo de implantação de uma extensão da Universidade Federal da Bahia em Itabuna.

Negociou os precatórios trabalhistas e a eterna dívida para com a família Faskomy (pelo espaço onde fora construído o prédio da Prefeitura, por José Oduque).

Sempre alimentou Carnaval e São João, estabelecendo especial instante de geração de emprego e renda.

Equipe

Nada disso se faz caso o gestor não disponha de uma equipe, bem coordenada, competente e comprometida com o projeto administrativo.

Os companheiros eram a sua equipe.

Querendo entender

Estes últimos rodapés foram despertados no escriba a partir de “O VLT, o BRT e Kombi”, texto de Cláudio Rodrigues publicado no Pimenta de 20 de setembro.

Isso porque, se já nos causava espécie o afastamento de Jane Borges das hostes geraldistas, para não falar de nomes como João Manuel Afonso em tempos mais pretéritos, nos revela Cláudio Rodrigues que Eduardo Barcelos também se afastou de Geraldo Simões.

Como diria o gaulês supersticioso Abracourcix, do “Asterix” de Uderzo e Goscinny, “os céus” estão caindo na cabeça do PT itabunense, leia-se Geraldo Simões.

Haja dissidente do fernandismo para suprir tal quadro! Certamente parte da equipe de um futuro governo petista em Itabuna.

Do erudito ao popular

A “6ª Sinfonia” de Beethowen não é reconhecida pela crítica como das suas mais aprimoradas peças, diante da Terceira, da Quinta e da Nona. Mas temos por ela um carinho particular, talvez pela particularidade de que a arquitetura melódica de um de seus temas parece estar unido a um período daquelas serenatas da juventude, onde o Trio Irakitan e seu repertório ocupavam precioso espaço.

No devaneio do escriba o 2º movimento da “Pastoral” (Beethowen) e “Prisioneiro do Mar” (Luiz Arcaraz, Dom Marcotte e Ernesto Cortázar, versão de Galvez Morales).

Cantinho do ABC da Noite

cabocoO Beco do Fuxico cruza com a Rua Rui Barbosa e o ABC da Noite situa-se quase na esquina desse cruzamento. Ponto de referência, a ele chegam os tradicionais freqüentadores e outros na esteira da fama, ansiando tornar-se parte da semiologia alencarina.

Como aquele que aportou, um tanto balançado. Fala pastosa e embolada, mais para papagaio aprendendo a falar, denotando, ao pedir uma batida, já haver tomado algumas em outros espaços. Cabôco Alencar não dispensou o personagem e a geografia:

– É o que dá ter comércio na encruzilhada. Toda hora chega um despacho!

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Adylson Machado é escritor, professor e advogado, autor de “Amendoeiras de outono” e ” O ABC do Cabôco”, editados pela Via Litterarum