Quando o tema se esgota em si mesmo, um rodapé pode definir tudo e ir um pouco além.
Adylson Machado
Sobre aquele cheiro estranho no mar
Enquanto aquele cheiro estranho no mar da Bacia de Campos ainda rende notícias, acumulando multas para a Chevron (aquela do golfo do México) e que levantou em nós a suspeita de boicote, o Brasil vai (re)ocupando o espaço da construção naval, que em tempos de neoliberalismo tupiniquim – leia-se, PSDB/PFL sob o comando de FHC – fora praticamente extinta.
Com o simbólico batismo de “Celso Furtado” – o economista que tinha o desenvolvimentismo como mola mestra para o Brasil – foi lançado ao mar a primeiro petroleiro dos muitos encomendados pela Petrobrás em estaleiros nacionais.
O pensamento tucano-pefelista não via futuro em gerar empregos no Brasil.
O que divulgam
Novas sanções ao Irã, iniciativa da União européia. A imprensa divulga com todas as letras.
O que não divulgam
O Brasil na linha de frente dos que enfrentam a “ordem mundial” estadunidense-europeia. Mantendo sua histórica linha de atuação, de respeito ao ordenamento internacional e à autodeterminação dos povos. Enquanto ensaiam a invasão do Irã (coisa que Israel anda louco para que aconteça), na reunião dos denominados BRICs (Brasil, Rússia, Índia e China), ocorrida em Moscou no dia 24 consensuou, dentre outros temas, em bloquear a pretensão dos EEUU e da Europa no Oriente Médio, como registra o www.conversaafiada.com.br.
Os dados da reunião, em que pese disponíveis no http://blogs.rediff.com/mkbhadrakumar/2011/11/25/brics-blocks-the-us-on-middle-east/ não foram por aqui divulgados com a ênfase merecida.
A considerar-se o texto haverá dificuldade para a perpetração da invasão pretendida. A não ser que façam letra morta, de vez, do que resta de ordenamento mundial.
Ou seja, não respeitar o veto que a Rússia dispõe no Conselho de segurança da ONU.
Algo não está dito I
A prisão de Marcos Valério pode estar eivada de vícios. O inquérito que a sustenta tramita desde 2005 e o próprio Valério nele já fora ouvido e, ao que parece, não há nenhum fato novo em relação ao até aqui apurado.
Caso verdadeira a informação, não há justificativa para o decreto da preventiva, mormente se considerarmos a cautela hoje vigente para tal decretação, a teor da Lei 12.403/2011. Se viola a lei Valério terá liberdade amparado em habeas corpus.
Sem ofertar defesas a assunto que não conhecemos de perto (o inquérito e a decisão judicial em si) ficamos apenas a matutar em torno do porquê da prisão.
Algo não está dito II
Não seja negado o que representa de sensacionalismo a prisão de Valério, determinada pelo juiz de São Desidério, na Bahia. No entanto algumas indagações não estão ocorrendo na imprensa, principalmente a de que Marcos Valério nunca se negou a atender intimações para depor, tem domicílio certo e profissão definida e compareceu espontaneamente às dezenas de inquéritos aos quais responde.
Algo não está dito III
Por outro lado, a demanda estaria apoiada em grilagem de terras. Bastante singular que a medida judicial venha o correr cinco/seis anos depois de iniciada a apuração.
Para nossos botões, teria algum escândalo a pipocar precisando ser acobertado ou ter a atenção desviada.
Não nos esqueçamos de que Valério foi testa de ferro de Daniel Dantas. Ou que o julgamento do chamado mensalão está próximo! E tem algo a ver com o valerioduto tucano de Minas, enquanto espoucam problemas com o governo do tucanato paulista.
Mas que tem alguma coisa, tem!
Evento internacional
O Mercado Cultural, em sua XI edição, também se fez acontecer em Itabuna, mais precisamente em Ferradas na quarta 30, uma conquista do produtor cultural Ari Rodrigues, que trabalha com o projeto em outros municípios baianos, com encerramento programado para Salvador, de 2 e 7 de dezembro.
A essência da iniciativa diz respeito à interação em vários níveis (musical, teatral e folclórico) entre culturas distintas de diferentes continentes, dando “espaço a talentos” e ampliando “o engajamento cultural, promove trabalhos artísticos, dá visibilidade à cultura e oferece oportunidades de intercâmbio artístico e cultural, além de possibilitar o desenvolvimento profissional” – assinala o catálogo 2001 do evento.
Em Ferradas, por exemplo, estiveram presentes Europa, África e América do Sul, representados por grupos e artistas da Argélia e França (Houria Aichi & I’Hijâz’Car), Guiana Francesa (Chris Combette) e Burkina Faso (Papa Zon), além de Marcelo Ganem (Brasil).
Participação
Singular a convivência do público com códigos musicais que lhe pareceria até estranhos, como a música de Houria Aichi & I’Hijâz’Car (esq), de tradição instrumental-melódico árabe-muçulmana.
Ou a africanidade do registro oral da história tribal da casta griot (da qual descende) traduzido por Papa Zon (dir) e seu koran.
Ou a encontrar a afinidade com a música de Chris Combette, transitando entre o samba e as diversas facetas do caribenho, no que denomina de “alquimia de culturas”.
Inegavelmente, o ponto alto da noite para o ferradense, foi a apresentação de Papa Zon, seguida da de Chris Combette, que levantou o público. A empatia estabelecida pode mesmo ser traduzida pela afinidade cultural entre a gente ferradense e a origem comum dos que se apresentavam.
Ferradas no mundo
A inserção de Ferradas no catálogo do XI Mercado Cultural a torna também palco e centro de interação entre diferentes continentes, fazendo-a não só o berço de Jorge Amado, mas uma referência grapiúna no cenário internacional.
A isso o povo de Ferradas se fez presente.
Recorde!
Considerando a declaração atribuída ao presidente da OAB local, Andirlei Nascimento, referindo-se à presença de “cerca de 2 mil pessoas no ato público” contra a corrupção (Pimenta de sexta 2), a manifestação itabunense é, até o momento, a maior reunião de pessoas em atos desta natureza no Brasil.
A foto publicada na Carta ao Leitor do A Região, deste fim de semana, no entanto, ainda que refletisse a concentração, não alimenta possibilidade de 200 pessoas.
Quem lá esteve que confirme a declaração de Dr. Andirlei e desminta a fotografia do A Região.
De uma forma ou de outra, não deixa de ser recorde!
Pensando em 2012
Os ensaios de afunilamento das propostas de consolidação de forças contra o PT local (leia-se, Geraldo Simões) tomaram força esta semana. Declarações do PSDB, através do ex-deputado federal e membro do diretório nacional do partido, João Almeida, trilham para apoio à reeleição de Azevedo.
A razão está na formação de uma aliança que viabilize uma vitória da oposição. Que na Bahia também envolve o PMDB, não fora a natural presença do DEM e do PPS.
Pensando em 2014
Como já observamos em texto anterior, essa eleição de 2012 extrapola seus limites. É que a disputa municipal contribui para a formação de espaços político-eleitorais para fortalecer o processo das eleições estadual e nacional, ou seja, de governadores e presidente da república.
Prédio da Câmara
Anunciada com pompa e circunstância, a construção da sede própria do Legislativo local empacou.
Exemplo a ser seguido
“As más notícias, algumas necessárias, não podem se sobrepor às boas”. A mensagem de Ramiro Aquino no seu “Ramiro na Squina”, no Diário Bahia deste fim de semana, traz a imperiosa recomendação de que a exploração pura e simples da desgraça (o que se tornou lugar comum Brasil a fora) não pode superar a ordem natural das coisas. O que significa dizer que não só de notícia ruim deve ser feito o noticiário.
O imaginário de nossa gente está sendo construído no sangue e na desdita alheia. Há uma idéia de que isto é que dá ibope.
A proposta de Ramiro não é busca por otimismo e sim uma contribuição para uma vida melhor.
Questão de saúde
Há estudos sobre o tema – a exploração do ruim como centro do noticiário – que recomendam uma mudança neste comportamento, em razão dos malefícios que causa.
Não podemos exigir que somente sejam divulgadas as boas notícias. No entanto, centrar-se nas más é um desserviço ao semelhante: da criança, ainda em formação, ao adulto, que já sabe das coisas.
Canhoto da Paraíba
Nascido Francisco Soares de Araújo (1926-2008), a circunstância de ser canhoto lhe trouxe o nome artístico. Natural de Princesa, na Paraíba, terra da famosa “revolta” de José Pereira, nos estertores da República Velha, em 1928, o compositor e instrumentista encontra o respeito do universo musical brasileiro, recebendo homenagem pessoal do então Presidente Lula, no Palácio do Planalto, em 2004, quando da retomada do Projeto Pixinguinha.
Aqui dois momentos de sua execução: “Pisando em Brasas” (de sua autoria) e “Saxofone Por Que Choras?” (Severino Rangel de Carvalho – o Ratinho), que integram o álbum “O Violão Brasileiro Tocado Pelo Avesso” (1977), produzido por Paulinho da Viola.
Cantinho do ABC da Noite
O mestre do ABC da Noite leva tudo ao limite do riso. Há instantes em que fica observando a conversa, sem dar uma palavra, à espera de uma oportunidade para mais um improviso. Como no dia em que falavam da idade de um freqüentador, que costumava negá-la como informação, até que interrompeu:
– É, Cabôco, aquele ensinou o ABC a Matusalém!
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Adylson Machado é escritor, professor e advogado, autor de “Amendoeiras de outono” e ” O ABC do Cabôco”, editados pela Via Litterarum