O assessor jurídico Elieseo Marubo, da organização indígena União dos Povos Indígenas do Vale do Javari (Univaja), diz que autoridades que atuam nas buscas pelo indigenista Bruno Araújo Pereira e pelo jornalista inglês Dom Phillips, desaparecidos no Amazonas, ignoraram informações sobre suspeitos.

Ao g1, Elieseo Marubo disse que a organização criou uma sala de situação para ajudar os órgãos oficiais e indicar nomes de suspeitos que já haviam ameaçado Bruno Pereira no passado. Mas, segundo ele, nenhuma das autoridades participou da reunião na manhã desta terça-feira (7).

“Tenho percebido que as autoridades vieram para cá, mas não conversaram conosco. (…) Agendamos com a Polícia Federal, com a Marinha, e com o comando da Polícia Militar do Amazonas, às 8h aqui [desta terça-feira, 7 de junho]. Ainda não apareceu nenhum deles aqui. A intenção seria, a partir dessa sala, iniciar a coordenação dos trabalhos e informar o nome dos suspeitos e indicar onde eles podem ser encontrados”, afirmou.

Bruno Pereira é apoiador da Univaja em trabalhos pontuais. A reportagem procurou a PF, a Marinha e a Polícia Militar para comentar as críticas. A Marinha afirmou que acredita “que a informação esteja equivocada” e não publicou nota.

O coronel do Comando Militar da Amazônia (CMA), André Terra, disse que é preciso ver com quem os representantes da Univaja entraram em contato. Segundo ele, “a preocupação do Exército nesse momento são as buscas, e qualquer informação nesse sentido é de grande importância”.

“É preciso ver quem foi contactado, porque não chegou esse pedido aqui conosco. Se nós formos contactados não tem nenhum problema em participar. Estamos para ajudar”, disse o Exército, em nota.

A PF não respondeu à reportagem até a última atualização.

 

Ameaças

Segundo o assessor jurídico, um dos suspeitos chegou a ameaçar diretamente o Bruno.

“Perguntou quem era o Bruno e disse que queria conhecê-lo para saber se ele era realmente bom de tiro. [Bruno] tinha porte de arma, andava armado e atirava muito bem. Os outros suspeitos já ameaçaram dois colaboradores nossos em razão das atividades e falaram para tomar cuidado com as atividades senão acabariam igual um servidor da Funai que foi morto em Tabatinga no ano passado”, contou.

“Temos bastante prova, bastante materialidade do que possa ter acontecido”. O desaparecimento de Bruno fez com que Elieseo e outras lideranças indígenas reforçassem a segurança pessoal com medo de atentados. Ele também disse que o clima na região é tenso. “Estou andando com quatro seguranças. Em Tabatinga, acabo andando de carro blindado para garantir o nosso trabalho. (…)A Polícia Militar, no entanto, está nos ajudando bastante”, disse.

 

Desaparecidos desde domingo

Bruno Pereira e Dom Phillips foram vistos pela última vez quando chegaram à comunidade São Rafael por volta das 6h de domingo (5), onde conversaram com a esposa do líder comunitário apelidado de ‘Churrasco’. De lá, eles partiram rumo à cidade de Atalaia do Norte, viagem que dura aproximadamente duas horas, mas não chegaram ao destino.

Conforme informações da Univaja, o indigenista vinha sofrendo ameaças.

 

Exército

No fim da manhã desta terça, o Comando Militar da Amazônia (CMA) informou que está somando esforços no local onde houve o desaparecimento. “As buscas iniciaram nesta segunda-feira, na região do Vale do Javari, em Atalaia do Norte, e seguem de forma ininterrupta por meio terrestre e fluvial empregando militares combatentes de selva da 16º Brigada de Infantaria de Selva”, diz a nota.

A Marinha ainda não divulgou novas informações sobre as buscas. Na segunda-feira (6), a instituição destacou que as buscas continuariam nesta terça-feira (7) com um helicóptero, duas embarcações e uma moto aquática. (Com informações do G1)