Mais um importante passo foi dado esta semana pela direção do Hospital Materno-Infantil Dr. Joaquim Sampaio, localizado em Ilhéus, sul do estado, para iniciar a implantação de um serviço histórico na região: o atendimento especializado à comunidade trans do sul da Bahia. A enfermeira Domilene Borges (diretora geral) e o médico Samuel Branco (diretor médico) estiveram na Maternidade Climério Oliveira, em Salvador, e conheceram o funcionamento do serviço. Considerada referência nesse modelo de atendimento, a Maternidade Climério de Almeida este ano realizou até aqui sete partos de homens trans.
Os diretores do HMIJS estiveram acompanhados de Andrea Marques, da Divisão da Gestão do Cuidado; e de Fabiana Brandão, da área técnica de Saúde LGBT da SESAB. Domilene ressaltou a importância da construção da parceria das duas unidades para a troca de fluxos e protocolos. Para além dessa pauta foi possível estabelecer também uma parceria para casos de gravidez molar (uma falsa gestação), visto que a maternidade Climério Oliveira tem larga experiência no diagnóstico e tratamento e é referência no estado da Bahia.
Apoio e acolhimento
O Sistema Único de Saúde (SUS) tem em uma das suas diretrizes a consolidação da Política Nacional de Saúde Integral de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais. Há meses, a direção do Hospital Materno-Infantil vem dialogando com representantes da comunidade LGBTIAPN+. O movimento se fortaleceu em julho, durante o encerramento das comemorações do Orgulho LGBTIAPN+ no Hospital Materno-Infantil Dr. Joaquim Sampaio. Colaboradores do hospital promoveram um abraço coletivo em representantes do movimento, uma forma de acolhimento.
Fundador do Coletivo Vale, o filósofo Tomas Santos comandou uma roda de conversa com a participação da comunidade e dos colaboradores da instituição sobre as dificuldades de acesso à saúde, os obstáculos, as condutas inadequadas e atendimento discriminatório que acabam por afastá-los dos serviços de saúde. Um documentário sobre a gestação e parto de um homem trans foi exibido.
Momento histórico
Na oportunidade, Tomas definiu o encontro como histórico e enriquecedor. Declaradamente autista, homem trans e educador, Tomas Santos também é um dos mais procurados palestrantes para falar sobre o tema. Ele lembrou que ainda hoje a violência impera sobre esta realidade. Um trans vive em média 38 anos. Se negro e da periferia, esta média cai para 27. A ativista Miretty di Biachio, disse estar muito feliz em poder ver tudo isso sendo construído. “No passado não podíamos sequer entrar em uma unidade de saúde. Hoje estamos tendo a oportunidade de estar não só adentrando mas, também, ajudando a construir um SUS muito mais humanizado”.