Por Domingos Matos
O fim do contrato de um professor com o Estado está comovendo a comunidade escolar do Centro Territorial de Educação Profissional (Cetep) do Litoral Sul II e do Colégio Estadual Presidente Médici. Contratado pela modalidade Regime Especial de Direito Administrativo, o chamado Reda, o professor Adelson Menezes teve o vínculo encerrado no último dia 13, após o período de quatro anos.
Ocorre que, para os alunos, Adelson Menezes não é “um” professor, mas "o" professor. Apesar de ser contratado para lecionar disciplinas ligadas à área de Ciências da Natureza (as famosas Exatas), ele conseguiu unir toda a escola em torno de diversos projetos de leitura, interpretação, escrita e reescrita de textos, no sentido amplo.
Mais que isso, ajudou, diretamente, a diversos estudantes a ingressar no ensino superior, com seu método extensivo – e encantador. “Gosto de trabalhar com projetos. Desenvolvemos o de leitura, que teve uma grande repercussão, um de matemática e, recentemente, desenvolvi outro, voltado para a afetividade, buscando melhorar as relações intra e interpessoais dos alunos, minimizando episódios de violências na escola”, afirma Menezes.
Os futuros profissionais em formação no Cetep não compreendem – e não aceitam – a interrupção desse sonho que é adquirir o conhecimento de forma prazerosa, em razão do que eles imaginam ser apenas uma formalidade burocrática. O que, por sua vez, pode ser encarado como mais um indicativo do poder que adquiriram com o conhecimento a que tiveram acesso: o questionamento cidadão faz parte do amadurecimento intelectual.
Valeu a pena
Os projetos desenvolvidos pelo professor Adelson são: “Leitura vai, escrita vem: colhendo produções no chão da escola” (Língua Portuguesa e Redação); “Matematizando o cotidiano com qualidade e ousadia” (Matemática); e “Promoção de vivências e afetos como ferramentas de valorização das relações sociais e das individuais do aluno” (promoção da saúde emocional).
O professor ganhou prêmios e certificações por seu trabalho, mas diz que o envolvimento dos alunos, o carinho que tem demonstrado e a forma como eles tem demonstrado esse carinho, compensa todo esforço. “Valeu a pena tudo que investi, de livros a materiais, tudo que me dediquei, quando vejo que despertei nesses alunos a vontade de conhecimento e, até, quando vejo a qualidade do que eles tem escrito, nessas mensagens que passam ao governador e que também me mandam. Na verdade, fico emocionado com tudo isso”.
O que é possível
Diante do fim do contrato de quatro anos, a única forma de o professor no momento seria a contratação na modalidade Reda Emergencial. Para isso, deverá haver uma solicitação da escola ao Núcleo Territorial de Educação e deste à Secretaria Estadual de Educação. Um complicador é o número de professores excedentes na rede – aqueles que ficaram sem regência de classe porque se fecharam escolas, por exemplo. Porém, o apelo de toda uma comunidade escolar deve ser levado em conta pelo governo.
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Domingos Matos é jornalista e pai de um designer em formação no Cetep