O Festival Literário Sul – Bahia (FLISBA) ocorreu entre os dias 24 e 26 deste mês e inaugurou a estação das flores e veio promovendo uma “ Primavera Literária” como estampou em seu tema. Além das flores que chegaram, o FLISBA apresentou diversas discussões sobre literatura, o acesso ao livro e à leitura, bem como os desafios da produção literária no sul da Bahia. O evento vai se transformando em um movimento em defesa da literatura e do acesso à leitura.

O festival foi realizado por meio das redes sociais, especialmente, do canal do Youtube – Festival Literário Sul-Bahia. Foram seis mesas de discussões, além da mesa de abertura e de outros momentos que estabeleceram uma sintonia com diferentes linguagens artísticas, envolvendo artes plásticas, música, cinema e teatro.

O FLISBA foi organizado em tempo recorde, os preparativos foram iniciados em 31 de julho deste ano e em menos de dois meses o FLISBA estava ocorrendo nas redes sociais. Foi uma semente que rapidamente floresceu dando frutos. Os organizadores são pessoas que moram em diferentes cidades, mas todos e todas com origem no sul da Bahia. Algumas pessoas envolvidas na organização do evento estão morando fora do sul da Bahia, como o escritor Geraldo Lavigne de Lemos e Sophia Sá Barretto, que estão morando, respectivamente, em São Paulo e em Portugal.

A abertura do FLISBA (24/09) reuniu três academias de letras do sul da Bahia: Academia de Letras de Itabuna (ALITA), Academia de Letras de Ilhéus (ALI) e a Academia de Letras e Artes de Canavieiras. A presidente da ALITA, Silmara Oliveira, sintetizou e disse o que representava o evento como “o encontro da literatura em primeiro lugar, proporcionado pelo FLISBA, que representa o pensamento assim de muitas pessoas atenadas na arte, cultura e conhecimento. É vasto o mosaico de poetas, ficcionistas, contistas ensaístas da região sul da Bahia”.

Ainda na mesa de abertura, a emoção foi marcada pela homenagem do FLISBA ao Teatro Popular de Ilhéus (TPI), representado por Romualdo Lisboa, que foi surpreendido com o aparecimento repetino de Amaurih Oliveira, um dos atores que passaram pelo grupo Teatro Popular de Ilhéus e mora atualmente na cidade do Rio de Janeiro e pelo ator Thiago Carvalho, que mora em Salvador e pertence ao grupo de Teatro Finos Trapos. O representante do grupo Finos Trapos ingressou durante a mesa para registrar a importância do TPI para as artes na Bahia e no Brasil. O Grupo Finos Trapos fez residência na Tenda do TPI em Ilhéus.

 

Em seguida, teve uma mesa que abordou os centenários de João Cabral de Melo Neto e Clarice Lispector. A mesa foi mediada pelo professor Ramayana Vargens e teve exposições de Aurora Souza, Raquel Rocha e Gideon Rosa. A mesa foi simbólica. Teve-se um encontro de gerações, assim como do encontro do teatro com a literatura e com o cinema. Foram mais de duas horas de análises.

No final da tarde foi realizado o Slam Sul da Bahia, que trouxe o estilo da poesia falada e reuniu jovens de diferentes cidades do sul da Bahia. O vencedor do Slam Sul Bahia foi Daniel Felipe, o “Ladrão de Livros”, que circula nos ônibus declamando poesias no sul da Bahia. A sensação deixada é que os jovens gostam de poesia e a poesia pode ser usada como um instrumento pedagógico para diferentes áreas. O segundo lugar foi ocupado por Marília Martins , de Eunápolis e a terceira posição por Robert Araújo ( MC Roty), de Potiraguá.

Para Magnus Vieira, um dos organizadores do FLISBA, além de ser estudante e gestor cultura, “ Slam Sul Bahia é um elemento de valorização da diversidade do fazer poético, tendo em sua essência a acessibilidade da literatura. Nasce no Flisba, o desejo de renovação e inovação, por isso o slam chega para ficar e agregar valor à cultura literária sul baiana”.

Pela noite do primeiro dia, o debate girou em torno da “Literatura e Meio ambiente”. Muita emoção com a abertura da mesa com a música “ Serra do Jequitibá” cantada e composta por Marcelo Ganem, que foi acompanhada pelos seus toques maestrais no violão. A mesa foi medida por Tácio Dê e contou ainda com as presenças dos escritores Pawlo Cidade, Walmir do Carmo e Ruy Póvoas. Foi uma mesa que mesclou passado e presente, tonando as exposições interdisciplinares.

Para Walmir do Carmo, um dos escritores presentes na mesa, foram abordadas “as questões ligadas ao meio ambiente e literatura, citando nomes nacionais que inserem o meio ambiente nos seus escritos a exemplo de Euclides da Cunha, Euclides Neto, Graciliano Ramos, Jorge Amado, Cyro de Matos. A mesa foi compartilhada com as canções de Marcelo Ganem que são verdadeiras pérolas de louvação à natureza.”

O segundo dia, 25/09, foi marcado pelas discussões sobre os “Desafios e possibilidades da produção literária na Região Sul da Bahia” com mediação de Cláudio Zumaeta e exposição de Gustavo Felicíssimo, representando a Editora Mondrongo; Ivan de Almeida, Cogito Editora; Marcel Santos, responsável pela Editora A5 e Romualdo Lisboa , liderando a Editora do TPI. Marcel Santos propôs uma maior aproximação das editoras e sugeriu uma plataforma para a comercialização.

Ao cair da tarde de sexta-feira, primeiro fim de semana de primavera, foi exibido o documentário “Cacau para sempre”, da cineasta Raquel Rocha. O documentário fez uma defesa do sistema cabruca enquanto estratégia de preservação da vegetação nativa, bem como sinalizou para a estruturação da civilização do cacau.

Pela noite, já na quarta mesa, o debate foi sobre “Literatura e as novas Mídias”. Sophia Sá Barretto conduziu a mediação de Portugal e os expositores foram Fabricio Brandão, Igor Luiz, Indy Ribeiro e Roger Ferreira. Indy Ribeiro durante a sua abordagem apresentou, ao vivo, a sua avó que declamou poema. A mesa deu voz ainda a Roger Ferreira, do distrito de Taboquinhas em Itacaré. Igor Ferreira falou de Coaraci e Fabrício Brandão, editor da Diverso Afins evidenciou o papel das redes sociais para a literatura. A mesa bem que poderia ser compreendida como uma metáfora, pois, nada melhor que tratar de literatura e redes sociais em um evento que surge no contexto virtual.

 

Ainda não tinha acabado o segundo dia do FLISBA, os organizadores e os participantes foram vivenciar o SARAU, cuja parte da programação teve lançamento de diversos livros; apresentação do espetáculo “Teodorico Majestade – a última live de um prefeito” do Teatro Popular de Ilhéus; e por fim, diversas poesias foram sendo apresentadas por poetas de diferentes cidades do sul da Bahia.

O terceiro e último dia do FLISBA (26/09) foi marcado pela mesa de escritores regionais, que mediada por Anarleide Menezes, os poetas foram declamando poemas e tendo seus poemas declamado por Anarleide Meneses. Foi uma mesa composta pelos escritores regionais e com forte presença feminina: Clarissa Melo, Geraldo Lavigne, Heitor Brasileiro, Iolanda Costa, Lia Senna e Luh Oliveira. Uma mesa que com diversas abordagens demonstrou a universalidade da escrita do sul da Bahia.

A programação do FLISBA teve ainda o “ Momento Artes Plásticas”, que reuniu a exposição de algumas telas da escritora Jane Hilda Badaró e comentários de Anarleide Menezes que exerceu a curadoria do momento.

Em seguida, dois grandes escritores da literatura do cacau foram trazidos à baila, Jorge Amado e Adonias Filho. A mesa foi medida pelo professor André Rosa e presidente da Academia de Letras de Ilhéus e teve as apresentações de
Daniel Thame, Raymundo Sá Barretto, Ramayana Vargens e Silmara Oliveira.

O FLISBA foi encerrado com um misto de saudade no Teatro Candinha Dórea. O encerramento coube ser conduzido por Sheilla Shew e Tácio Dê, que foram conduzindo as apresentações da noite. Teve a performance de Walmir do Carmo, a apresentação musical da dupla Silvano e Carla e da banda Mulheres Perfumadas. A noite foi um encontro do teatro com a poesia e com a música.

Para Carla Valéria, “participar da primeira edição do Festival Literário Sul Bahia para nós da dupla Silvano e Carla foi de uma honra e emoção inexplicáveis. Mesmo sendo totalmente online, o sentimento era de um teatro lotado e cheio de amor” concluiu a cantora.

O FLISBA também teve uma programação infantil mediada por profissionais que atuam com a literatura infantil. Foram realizadas oficinas e momentos de contações de estórias com a professora e poeta Cátia Hughes; professor e ator Jorge Alessandro; professora Mírian Oliveira e Tia Carina Martins.

Apesar da constante instabilidade da rede de internet, o FLISBA foi visto por mais de duas mil pessoas e toda a programação prevista foi realizada. O FLISBA nasceu como evento, mas tem prospectado uma atuação permanente para discutir e implementar ações na área da cultura, especialmente, na literatura e no acesso à leitura e a preservação da memória. Entre as ações do Coletivo estão programados o lançamento do e-book primavera literária na próxima semana; a articulação de um e-book para o Slam Sul Bahia, a realização de lives, o lançamento de uma Carta Compromisso com a literatura e com o acesos à leitura, oficinas entre outras ações que estão sendo programadas.