O homem que foi flagrado em um vídeo agredindo uma mulher com vários socos no rosto, em Ilhéus, sul da Bahia, e que era considerado foragido da Justiça, se entregou à polícia na tarde desta quarta-feira (21).
Carlos Samuel Freitas se apresentou na 7ª Coordenadoria Regional de Polícia do Interior (Coorpin), em Ilhéus. Ele chegou ao local com três advogados.
À tarde, ele passou por exame de corpo delito. Em seguida, foi transferido para o presídio da cidade. Além disso, ele deve participar de uma audiência de custódia nos próximos dias. Ainda não há data prevista.
O crime aconteceu no centro de Ilhéus. Um vídeo que mostra as agressões circulou nas redes sociais, no dia 14 de outubro. Mesmo sabendo que estava sendo filmado, o agressor não se intimidou e continuou a bater na mulher.
Carlos Samuel se apresentou com o advogado à Delegacia Especial de Atendimento à Mulher (Deam), em Ilhéus, no dia 15, mas foi liberado após quatro horas de depoimento. Apesar da liberação, a polícia solicitou à Justiça a prisão preventiva dele, assim como o Ministério Público da Bahia (MP-BA).
Segundo o órgão, o pedido da prisão se fundamentou “na necessidade de resguardar a ordem pública, considerando-se a gravidade da conduta concreta (exacerbada violência empregada) e a condição reincidente do autor do fato”.
Além da prisão, a Justiça concedeu medida protetiva para a vítima que aparece no vídeo sendo agredida por Carlos.
Dias depois, através de mensagem de celular, o advogado de Carlos Samuel Freitas informou que ele não iria se apresentar. Na ocasião, ele pediu a revogação da prisão do cliente. No entanto, o pedido foi indeferido pela justiça.
O advogado anunciou nesta quarta que fará um pedido de reponderação, alegando que ele se apresentou de forma espontânea.
Segundo a Delegacia Especializada no Atendimento à Mulher (Deam) de Ilhéus, Carlos Samuel Freitas tem um longo histórico de agressão a ex-namoradas e mulheres da própria família, resultando em ao menos 11 boletins de ocorrência.
MP-BA e Polícia Civil
Sobre os casos de agressão contra ele, a promotora de Justiça da Bahia, Sara Gama, disse que o órgão não recebeu os inquéritos de oito dos casos registrados. Sara coordena o Grupo de Atuação Especial em Defesa da Mulher e População LGBT (Gedem) do Ministério Público da Bahia (MP-BA).
Por meio de nota, a Polícia Civil informou que das ocorrências envolvendo Carlos Samuel, três são de violência doméstica. Os registros foram feitos na Deam de Ilhéus, com inquéritos já remetidos à Justiça.
Outros procedimentos estão em curso na unidade, entre eles o inquérito sobre a agressão registrada em vídeo. Há ainda um registro de crime contra a honra de uma ex-namorada, um de ameaça contra uma mulher fora do contexto da Lei Mara da Penha, além da ocorrência de maus-tratos contra a mãe dele, que feito por uma vizinha em 2017.
Nos três últimos casos, as investigações não puderam avançar, pois as vítimas se recusaram a comparecer para dar mais informações sobre a violência sofrida.
Além dos casos registrados na Deam/Ilhéus, também há duas ocorrências de ameaça a uma adolescente fora do contexto da Lei Maria da Penha e um registro de ameaça e difamação contra um jovem do sexo masculino, em outras unidades da Polícia Civil.
Acerca do inquérito que trata das agressões registradas em vídeo, o suspeito foi ouvido e liberado, considerando que o fato ocorreu no mês de junho, o que anula a possibilidade de flagrante e que, naquele momento, a autorização para prisão ainda não havia sido decretada.
Denunciado pela mãe
Carlos Samuel já foi denunciado à polícia por extorquir e ameaçar a própria mãe. Na delegacia consta que a mãe dele registrou a queixa em 2017.
Em uma dessas queixas, registrada em 2015, a informação é que ele agrediu e manteve uma companheira da época em cárcere privado. Carlos Samuel só foi condenado por violência doméstica uma vez, por um crime denunciado em 2016.
A delegacia não detalhou se a vítima desse crime é a mesma companheira do crime registrado em 2015. Ele chegou a ser condenado em um ano e quatro meses e recorreu à Justiça. A demora para o julgamento do recurso fez com que a situação prescrevesse.
Depoimento e carta
Ao delegado, durante a ida a delegacia, Carlos contou que o caso em que foi flagrado agredindo uma mulher com vários socos, aconteceu no dia 20 de junho. Disse ainda que ele e a mulher tinham um relacionamento há seis meses e moravam juntos. O suspeito também falou que estava arrependido.
Em nota divulgada pelo agressor na quinta, antes do depoimento, ele disse que é “um jovem trabalhador” e que não tem “envolvimento com algum tipo de prática criminosa. Carlos Samuel escreveu também que está arrependido do que fez, e que vai “sofrer as reprimendas judiciais conforme se prevê a lei”.
O suspeito disse que ele e a vítima mantinham uma “relação muito conturbada, eivada de inúmeros casos de ciúme doentio, diversas agressões físicas e morais”. Ele escreveu ainda que, no dia em que deu nove socos no rosto da vítima, estava bêbado, voltando de uma festa, e que as agressões aconteceram porque ele “perdeu a cabeça”.
Agressão
As imagens gravadas por uma moradora mostram Carlos e a vítima perto de um carro, na frente de uma casa.
No vídeo, a vítima insinuou que o suspeito já teria a agredido antes, e que ela estaria com a boca machucada. Ela pediu várias vezes para que o homem deixasse o local.
Ainda no vídeo, é possível ver que o homem fala com a mulher que estava gravando a agressão. Carlos Samuel deu a entender que a pessoa que filmava tinha dito que um homem ia descer da casa para contê-lo e grita: “Cadê o homem que você disse que vai descer? Cadê ele? Manda ele descer que eu quero ver”, disse o suspeito.
Ainda no vídeo é possível ver que a vítima pede que a testemunha não se aproxime. “Desça não, moço, ele não tem nada. É um ‘Zé Ruela’, não tem nada”, disse a mulher, que faz menção que Carlos não está armado.
Logo depois, a mulher volta a pedir que o agressor vá embora, mas não foi atendida. Ele, então, a agride com uma sequência de nove murros no rosto.