Por Walmir Rosário
Posso assegurar que Itabuna formou a melhor seleção amadora da Bahia em toda a história dos campeonatos intermunicipais. Os que não viveram essa época áurea do futebol podem pesquisar à vontade, que encontrarão dados mais que suficientes para confirmar essa assertiva. E isso tudo aconteceu numa época em que se praticava um futebol de gente grande, de craques natos, forjados nos campinhos de pelada de suas cidades.
Àquela época, como a comunicação ainda não gozava da tecnologia dos dias atuais, as partidas realizadas fora da cidade eram acompanhadas pelos itabunenses ouvindo as emissoras de rádio. Primeiro, a Rádio Clube (20-10-1956), em seguida a Rádio Difusora (21-04-1960), e depois a Rádio Jornal (27-10-1963). Com todas as dificuldades, as emissoras transmitiam as partidas da nossa seleção para um público ávido pelo futebol.
E não era pra menos: Em 1957 a Seleção de Itabuna ganhou seu primeiro Campeonato Intermunicipal (além do Torneio Antônio Balbino, em Salvador). Após uma parada de três anos, em 1961 o Intermunicipal volta a ser realizado e o selecionado itabunense fatura o Bicampeonato, desta vez contra Feira de Santana. No ano seguinte, em 1962, Itabuna se sagra Tricampeã do Intermunicipal contra a Seleção de Alagoinhas.
Em 1963, os gloriosos itabunenses continuam a trajetória vencedora contra a Seleção de Santo Amaro, ganhando o Tetracampeonato; e repetem a dose no ano seguinte, em 1964, desta vez contra Feira de Santana; e fechou a conta em 1965, faturando o Hexacampeonato em Alagoinhas, encerrando um ciclo que jamais foi batido até hoje. Foram seis títulos seguidos, praticamente com a mesma comissão técnica e jogadores.
A Seleção de Itabuna era uma equipe vencedora. Os torcedores itabunenses, ao perguntarem o resultado dos jogos, diziam apenas e com muito orgulho: Ganhamos de quanto? Qual foi o placar? Jogar na Seleção de Itabuna era o orgulho dos jogadores, que vestiam o manto sagrado azul e branco com a mesma altivez da camisa verde e amarela da Seleção Brasileira.
A exemplo das equipes do interior, os jogadores não contavam com grandes estrategistas ou preparadores físicos, mas conseguiam se superar com o amor à camisa. Eram assim que entravam em campo Asclepíades, Plínio, Itajaí, Luiz Carlos, Abiezer, Nininho, Santinho, Carrapeta, os irmãos Riela, Piaba, Ronaldo, Gagé, Florizel, Humberto, Zé Reis, Carlito, Carlos Modesto, Albérico, Zequinha Carmo, Wanda, Bel, Valdemir Chicão, dentre outros.
E esses jogadores eram comandados por Gérson de Souza (o Marechal do Hexa), Costa e Silva, Gil Nery, Carlito Galvão, Demóstenes de Carvalho, Yêdo Nogueira, José Maria Gottschalk, Hemetério Moreira, Raimundo Campos, José Carlos de Brito Carmo, José Anselmo de Souza, Zelito Fontes. Eram técnicos e dirigentes que sabiam liderar e inflamar os brios dos jogadores por anos a fio.
Para ter uma base, as equipes daquela época sempre se renovavam, trazendo jogadores de outras cidades. O goleiro Plínio de Assis, que jogava no Flamengo, lembra que todos trabalhavam e não havia a mordomia dispensada aos jogadores de hoje. E o desempenho não era ruim porque, ao contrário dos craques atuais, os jogadores não cansavam, embora trabalhassem o dia inteiro e estudassem à noite.
E Plínio comparava a atividade do jogador amador com outra qualquer em que se mesclava a remuneração com o amor ao que se faz. Outra lição deixada por Plínio é que os times da atualidade não conseguem manter uma boa equipe por muito tempo, justamente porque falta compromisso por parte do atleta. E para arrematar, a força de vontade e o amor superavam as deficiências nos times amadores.
Nas equipes amadoras e na Seleção de Itabuna sempre tinham aqueles que gostavam de sair para tomar uma cerveja antes do jogo, porém o amor que sentiam pelo Itabuna superava as deficiências. Em campo, frisava Plínio, os jogadores sabiam que tinham de ganhar de qualquer maneira. Os que bebiam ou não treinavam como os outros tinham consciência de suas responsabilidades. E assim o Itabuna ganhava os jogos.
Poucos torcedores se arriscavam a escalar a melhor Seleção de Itabuna de todos os tempos, mas Plínio deixou a sua preferida: Asclepíades no gol, a lateral-direita com Humberto; a zaga com Ronaldo ou Piaba e Abieser; a lateral esquerda com Leto ou Vavá Barros; o meio de campo com Tombinho, Carlos Riela ou Lua; a ponta-direita com Humberto César ou Gagé; o ataque com Florizel e Zé Reis; e a ponta-esquerda com Fernando Riela.
Para os que acharam estranho Santinho não estar escalado nessa seleção, Plínio explica que o fenômeno Santinho não merece ser indicado para apenas uma posição, pois jogaria nas 11, caso fosse escalado. Outro reparo que Plínio faz é em relação a jogadores como os goleiros Luís Carlos, Carlito ou Roque, além de Valdemir Chicão, Zequinha Carmo, e tantos outros que passaram pela grande seleção.
Walmir Rosário é radialista, jornalista e advogado