Adylson Machado
A credibilidade do IBGE é patente, mas não o exime da possibilidade de ter sido enganado em algumas de suas conclusões, amparadas em vícios "municipais" que pretendiam dados que atendessem a interesses, mormente quando o populacional passou a ser referencial para fixar os índices das transferências de recursos financeiros intragovernamentais. Ainda que pontuais – podemos admitir – existiram.
Por conta disso, em passado não longínquo, nos rincões do Brasil – não os descarto até nos não-rincões – distorções elaboradas fizeram crescer populações, restringir outras.
Pequeno município não muito distante de Itabuna teve, no censo de 1970, a população reduzida drasticamente, fazendo o coeficiente do FPM despencar de 1.8 para 1.6. Quando as pesquisas se iniciaram naquele agosto, todos os recenseadores, sob controle do então prefeito – indicados a dedo, dentre os de sua confiança – foram utilizados como apêndice da campanha eleitoral, casa a casa, relegando ao segundo plano o registro dos dados populacionais.
Em tempo de censo demográfico do IBGE/2010, no particular, voltam-se as atenções para a "disputa" entre Itabuna e Ilhéus, quando se espera a possibilidade da grapiúna superar a praieira em habitantes.
Ainda que Ilhéus tenha sido beneficiada das mais diferentes formas (apoio explícito do governo estadual, passando pela vigorosa propaganda televisiva na cacunda da obra amadiana nas novelas globais), a distorção sempre se afigurou flagrante e, de certa forma, inexplicável. Ilhéus já chegou a ter população em torno de 30 mil almas superior a Itabuna, recentemente. A propósito, determinado prefeito ilheense poderia explicar porque o número de habitantes de Ilhéus superou o de Itabuna, na dimensão em que ocorreu, e os métodos por ele utilizados que, certamente, permaneceram durante algum tempo.
De lá para cá muito melhorou o processo censitário, para evitar manipulações locais. Em especial, no que diz respeito aos critérios de recrutamento dos recenseadores, efetivado através de seleção pública nestes últimos tempos.
Com o evidente aperfeiçoamento na forma de recrutar, não fora os avanços tecnológicos que remetem ao quase imediato monitoramento dos dados coletados (antes registrados em planilhas, a lápis) Itabuna pode aguardar o retorno da realidade no que diz respeito à sua concentração populacional que não pode ser, ou continuar, tão desigual como a registrada nas últimas décadas em relação a Ilhéus.
Adylson Machado é escritor, professor e advogado, autor de "Amendoeiras de outono" e " O ABC do Cabôco", editados pela Via Litterarum