Por Walmir Rosário
Guardem bem essa data: 28 de julho de 1973. Dia da Cidade de Itabuna e inauguração do Estádio Luiz Viana Filho. A cidade repleta de autoridades, como o governador Antônio Carlos Magalhães, o secretário do Bem-Estar Social, Bernardo Spector, os presidentes do Vitória, do Bahia, da Federação Bahiana de Futebol, o prefeito José Oduque e o presidente do Itabuna, Charles Henri.
E para inaugurar o estádio, que ficou conhecido como o “Gigante do Itabunão”, dois jogos foram agendados: o primeiro, entre o Itabuna Esporte Clube o Vitória, no sábado (28-07-1973), e o segundo, entre Bahia e Cruzeiro, este no domingo (29-07-1973). Uma festa esportiva pra ninguém botar defeito, com público de várias cidades baianas, além da imprensa de diversos estados brasileiros.
Até hoje sinto bastante não estar presente à efeméride esportiva grapiúna, pois à época morava em Paraty (RJ), de onde ouvi resenhas e parte do jogo pela Rádio Sociedade da Bahia. Claro que não lembro exatamente o que ouvi, mas faço escrita das palavras dos colegas radialistas, Geraldo (Borges) Santos, Yedo Nogueira, Ramiro Aquino, Roberto, Juca e Jota Hage, por meio da Rádio Jornal de Itabuna, cuja gravação ostento com carinho em minha biblioteca.
Pra começo de conversa, o Itabuna era um time de respeito, com jogadores vindos da vitoriosa Seleção itabunense hexacampeã baiana, bem reforçada com novos jogadores regionais e do Rio de Janeiro. Mas, a bem da verdade, encarar aquele poderoso esquadrão do Vitória era dose pra elefante, como se dizia bem antigamente.
E o jogo entre Itabuna e Vitória valia mais do que o placar de 2X2 anotado ao final da partida. A histórica inauguração do estádio de gramados suspensos, como enaltecia a mídia esportiva, tinha a grandeza do que aconteceria no jogo, como, por exemplo, quem marcasse o primeiro gol seria consagrado para o resto da vida. E esse feito coube ao ponteiro-direito Osny, o endiabrado camisa 7 do Vitória.
Outro aspecto importante dessa inauguração era o privilégio de estar presente no jogo 12 do teste de número 146 da Loteria Esportiva, sob os olhares dos apostadores de todo o Brasil. E ao anunciar o placar, o narrador Geraldo Santos não cansava de enfatizar em qual coluna se encontrava – um, do meio ou a dois, E terminou na coluna do meio, com o placar de 2×2.
E nessa transmissão, a Rádio Jornal ostentava como patrocinador exclusivo o novíssimo Centro Comercial de Itabuna, equipamento urbano considerado o mais moderno do Sul da Bahia. Num dos reclames, Geraldo Santos dizia: “Marque o maior tento de sua vida, compre uma loja no Centro Comercial de Itabuna, a obra do século”, como queria o bom marketing da época.
Após uma parada no jogo para os jogadores baterem uma falta, lateral ou escanteio, Geraldo Santos indicava aos possíveis clientes que poderiam adquirir uma loja na Construtora Fernandes, na avenida Amélia Amado, ou junto ao empreendedor Plínio Assis, na praça Otávio Mangabeira. E o Plínio era aquele mesmo que foi goleiro do Flamengo e da Seleção Amadora de Itabuna.
Enquanto isso, o jogo continuava pegado, com vantagem do Vitória nas jogadas, principalmente de Osny, Mário Sérgio, André e Almiro. Segundo o comentarista Yedo Nogueira, o jogo ainda se encontrava na fase de estudo, reconhecimento do terreno. E o narrador prometia dar um rádio Philips de presente ao jogador que marcasse o primeiro gol no Estádio Luiz Viana, uma gentileza da Loja Rosemblait
Aos sete minutos do primeiro tempo eis que André, ainda o “Peito de Aço”, invade a área, dribla o goleiro Luiz Carlos, que derruba o centroavante na grande área. Pênalty, marca o árbitro Saul Mendes. O serelepe Osny se prepara para bater a penalidade máxima, chuta com maestria e o resultado foi bola no canto esquerdo e o goleiro caindo no canto direito. Gol do Vitória!
Coluna 2 do jogo 12 do teste 146 da Loteria Esportiva. Em outro lance, enquanto o Itabuna se prepara para bater um escanteio, Geraldo Borges convida os ouvintes de toda a região para assistirem ao super show do cantor Roberto Carlos e Banda RC7 no novíssimo Estádio Luiz Viana Filho, no próximo dia 2 de agosto. Em campo, Reginaldo bate o tiro de canto e a zaga do Vitória rebate para o ataque.
Exatamente aos 16 minutos do primeiro tempo, enquanto o comentarista Yedo Nogueira analisa que o Itabuna está sem qualquer esquema de jogo para entrar na área do Vitória, André volta a receber outra bola e marca gol. O Segundo do Vitória. Imediatamente os jogadores partem em direção do bandeirinha Wilson Lopes para reclamar do mais claro e límpido impedimento e são ameaçados de expulsão pelo árbitro Saul Mendes. Só faltou dizer “gol legal”, como Mário Vianna, com dois enes.
E a partida continua na coluna 2 no jogo 12 do teste 146 da Loteria Esportiva. Aos 30 minutos Osny chuta raspando a trave de Luiz Carlos. Aos 33 minutos Déri invade a grande área e pega o goleiro Agnaldo, do Vitória desprevenido e marca o primeiro gol do Itabuna, fazendo delirar na arquibancada a torcida alvianil.
E o gol deu ânimo aos jogadores do Itabuna e numa jogada de ataque, Rafael passa pelo marcador, a bola é rebatida por Valter (Vitória) cai nos pés de Perivaldo, que passa a pelota a Jaci que dá o passe para Déri marcar o segundo gol. A torcida, animada pela bateria da Escola de Samba da Mangabinha, comemora pra valer. Itabuna 2, Vitória também 2. Coluna do meio na loteca.
Vem o segundo tempo e Geraldo Santos abre a transmissão com o grito de guerra “Vamos lá Itabuna”, os times se estudam, como no início de jogo, mas ao que tudo indica, os técnicos Paulinho de Almeida, do Vitória, e Tombinho, do Itabuna, pedem para os jogadores apenas tocar a bola. E assim o placar continuou selado nos 2X2 e Déri também é agraciado com um rádio Philips da Loja Rosemblait.
No dia seguinte o jogo foi entre o Cruzeiro e Bahia, e não passou de 1×1.
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Walmir Rosário é radialista, jornalista e advogado