Por José Antonio Loyola Fogueira

28 de junho, dia do orgulho. Que orgulho as pessoas comemoram hoje? Existe mesmo algo que se tenha orgulho nesta data? Sim, posso afirmar com todas as letras do alfabeto e todas as cores que passam no Arco-Íris porque temos que comemorar essa data e comemorar com orgulho as vidas das pessoas nominadas popularmente como gays, lésbicas, bissexuais, travestis, transexuais e uma infinidade de expressões de sexualidade e suas identidades de gêneros, sempre são tomadas de assalto e colocada no lugar que convém ao outro. Essa ação é mais comum quando olhamos o advento do racismo – primeiro se nomeiam os sujeitos, tipificam as suas atitudes na perspectiva de desqualificá-los e então são nomeados como párias sociais.

A heterossexualidade dentro da norma da sociedade mundial nomeia a população homossexual a partir do seu campo histórico de existência sem levar em consideração a existência do outro e suas experiências culturais sociais, filosóficas e religiosas. Como então a heterossexualidade tem a capacidade de nomear aquilo do qual não faz parte pouco entendi e na maioria das vezes não está disposta ao debate e a construção de novos conhecimentos. O Supremo Tribunal Federal (STF), ao tipificar os crimes cometidos com cunhos homofóbicos e violentos na qualidade de crime semelhante ao de racismo não fez para ter bom ou agradar uma determinada população, essa tomada de ação se dá pela inoperância de décadas da nossa assembleia legislativa nacional comumente conhecida como “Câmara dos Deputados” – sim, já existiam e existem projetos que debatiam as violências contra a população LGBTQIA+ em nosso parlamento.

Por que então um tema sério e crítico nunca foi levado ao debate pelos senhores deputados? Eu posso afirmar por falta de representatividade política e pressões externas que comandam a casa do povo brasileiro.

Alguns temas de importância para a sociedade brasileira encontram grande resistência para que sejam pautados e postos em votação, como o estupro de menores, legalização do aborto, descriminalização do uso pessoal da maconha, revisão da menoridade penal, as lutas feministas, a luta da população LGBTQIA+. São pautas críticas que o parlamento brasileiro não quer que sejam debatidas ou votadas, mas por quê? Se esse debate e estas votações se fazem necessárias para o avanço cultural e social de uma parcela população brasileira.

Os grupos que tomam assento nas cadeiras do parlamento brasileiro defendem prioritariamente o direito das grandes corporações que comandam a economia do Brasil em detrimento do avanço cultural e social da sua população. Uma situação típica deste conflito de interesse é a bancada de religiosos fundamentalistas que tentam tornar a bíblia um livro sagrado em pé de igualdade com a Constituição brasileira, desrespeitando a laicidade do estado brasileiro. Dito isto podemos pensar em ano de eleições municipais que a leitura política de mundo parte da do microcosmo municipal, então meu mundo é a partir de onde eu habito – meu município – e para tal devemos nós, população LGBTQIA+, nos lançarmos na disputa política para também termos assento onde se debatem os destinos de nossas vidas, que são as câmaras municipais deste vasto país.

A Aliança Nacional LGBTI+(https://aliancalgbti.org.br/votocomorgulho/) entidade que congrega vários grupos em luta da mesma causa, ou seja a liberdade de expressão da sua sexualidade e do seu gênero, vem desde 2022, através do programa Voto com Orgulho, monitorando e contabilizando em todo o território nacional as candidaturas desta população. Em 2022 fomos menos de 200 candidatos, em 2024, para os cargos de vereadores, prefeitos e vice prefeitos já passamos a quantidade de 300 candidatos. É um aumento significativo, que nos leva a termos orgulho de nossas lutas e nossa contribuição social para a melhoria do local onde vivemos, nossas cidades. Só haverá progresso social de fato através das lutas diárias; a violência não cessará da noite para o dia sem o suor, a lágrima e o sangue de muitos que tombaram. Mas muitos permanecem de pé e na luta, para que tenhamos orgulho de nossas existências.

Um dos pilares de sustentação de uma sociedade é sem sombra de dúvidas o pilar político. Assim sendo, não podemos nos furtar de fazermos parte de todo o processo social e político de nossas vidas.

Para muitas pessoas a política está comprometida a tal ponto que chega a ser desestimulante participar, debater, escolher, votar, acompanhar mandato. Sim, porque o processo eleitoral não termina com o depósito do voto na urna. Ele começa é após a eleição. É com 200 dos nossos políticos, que se dá o verdadeiro exercício da cidadania – ou seja, a fiscalização dos mandatos não é simplesmente votar, é cobrar que o seu voto tenha validade, tenha peso nas políticas sociais a serem desenvolvidas no nosso município. É essa força que move todos eleitores que a cada quatro anos vão a urna e depositam seu voto, exercendo o seu direito de cidadão, Toda mudança que queremos que aconteça em nossas cidades começa pelo exercício do voto e esse voto temos que depositar com orgulho.
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Jose Antonio Loyola FogueiraMembro fundador do Grupo Humanus; Representante Municipal da Aliança Nacional LGBTI+; Coordenador de Movimentos Sociais da REDE Sustentabilidade/Itabuna-Bahia;
Céo da Rede Coração Positivo+; Mestrando UFSB; Pedagogo UESC.