Em Itabuna, mais de 2 mil pessoas já foram convocadas para receber o cartão que dá direito ao Auxílio Recomeço, no valor de R$ 3 mil. O projeto, de autoria do Executivo, visa prestar assistência financeira aos moradores afetados pelas enchentes de dezembro.

A lista mais recente, com 200 nomes, foi divulgada na noite desta quinta-feira (10). No entanto, a polêmica em torno do benefício continua, pois a cada dia surgem mais pessoas que se queixam de não ter recebido, a essa altura, sequer, a visita de um assistente social, responsável por fazer a vistoria e “carimbar” o acesso do morador ao benefício.

Moradores do Loteamento Brasil Novo que o digam. Eles se uniram aos vizinhos do Urbis IV para reivindicarem o direito de fazer parte do projeto e, consequentemente, receber o cartão “Auxílio Recomeço”.

Muitos alegam, como já foi dito, que, embora tenham sido cadastrados, não foram visitados por uma equipe da Assistência Social. Outros ainda garantem que nem tiveram seus nomes registrados.

Ao Blog O Trombone, um grupo de moradores dessa comunidade relatou seus dramas e aflições. Desde dezembro, após o local ser invadido pela água do rio Cachoeira e sofrer com destruição, os habitantes lutam para voltar à sua rotina. Juntaram o pouco que restou ao que conseguiram com doações de amigos e vizinhos menos prejudicados, e tentam reconstruir suas vidas.

O Brasil Novo também foi castigado pelas chuvas de dezembro

Mas, na contramão da fé e da força de vontade das vítimas de uma enchente tão histórica quanto a de 1967, está a falta de recursos para comprar o que se perdeu, principalmente, os produtos mais caros, como geladeira e fogão, ou materiais para reconstruir o cômodo deteriorado ou o imóvel todo, como é o caso de muitos.

A reportagem ouviu alguns depoimentos. São donas de casas, autônomos e assalariados em geral que ainda sofrem para superar a madrugada do dia 25 de dezembro, quando foram surpreendidos pela enxurrada.

Tudo o que eles pedem é igualdade de direito e que sejam alcançados pelo benefício. Vale ressaltar, que entre os que se voluntariaram para registrar seu desabafo, está uma moradora do Urbis IV, bairro cujo drama foi divulgado há poucos dias por este blog.

Luzia, como se identificou, alega que seu nome ainda não saiu na lista e se desespera. “Eu quero lutar junto com meus vizinhos para ver se consigo, porque  eu estou precisando muito. Estou com o quarto todo deteriorado, e minha casa também. Preciso muito de ajuda”.

A mulher mora no Caminho 13, casa 8 e, segundo ela, a água chegou até o teto de sua residência. “Veio a assistente social me inscreveu, depois veio outra, mas até agora eu não recebi o cartão. Não saiu meu nome ainda”, diz.

 

Confira os demais relatos:

“Meu nome é Daiane, sou moradora da Quadra H, Brasil Novo, casa 17. Minha reivindicação é essa: aqui no meu setor as agentes de saúde fizeram aquele cadastro e enviou à prefeitura. Na sexta-feira, ela [a agente] mandou um áudio, dizendo que na terça-feira a assistente social viria aqui em casa e que era para eu estar em casa com os documentos. Na segunda-feira, ela mandou um novo áudio dizendo que a prefeitura  havia deslocado os assistentes sociais que viriam aqui no bairro para outros bairros, e até hoje não foi feito nada. Nós aqui não recebemos assistência nenhuma da prefeitura, não recebemos cesta básica,  não recebemos colchões. Infelizmente, até agora nada. Questionei à  agente de saúde e ela falou que o problema já foi passado para lá e que infelizmente eles não podem fazer nada. Então, a minha reinvindicação é essa. O que a prefeitura tem a nos responder, porque até agora, não tem como nosso nome sair, se ninguém fez o nosso cadastro. Então, o que eu preciso é isso, é de uma resposta da prefeitura, é de uma posição. Porque nós fomos atingidos, perdemos muitas coisas. Eu perdi três guarda-roupas,  centrífuga, tanquinho,  perdi cama box, o piso do meu quarto cedeu, tive que fazer compras de materiais, pagar mão de obra. Então, eu preciso que a prefeitura nos ajude com esse cartão Recomeço”.

“Sou Joelza Costa, moro na Quadra G, número 13,  do lado da rua Esperança, e também estou na mesma situação. Perdi tudo. Ninguém apareceu na minha casa, nem para cadastrar, nem nada”.

“Meu nome é Edmércia, moro no Loteamento Brasil Novo, quadra H, número 16. Minha casa foi invadida pela enchente e perdi algumas coisas, como dois guarda-roupas, colchão, cabeceira da cama, porta, o berço do meu filho está cai mas não cai e aqui estou com minhas coisas tudo fora do lugar,  porque não tem onde colocar. Ainda estou aguardando a assistência social vir fazer a visita na minha casa para poder ver se consigo esse auxílio, porque é um direito de todos nós, né, que fomos atingidos pela enchente. Estamos à espera dessa resposta da assistência social”

“Meu nome é Néa, moro no Brasil Novo e nós estamos nessa situação, perdemos nossas coisas, praticamente tudo. Eu perdi meus dois guarda-roupas, o do meu quarto, e o do meu filho, de casal, perdi minha cama de casal, a cama do meu filho, ainda dá pra dormir, só que o colchão não prestou, mas o vizinho doou um colchão para o meu filho. Perdi ainda meu fogão, só está com duas bocas funcionando, perdi meu armário de cozinha, meu balcão da pia,  mesa com as cadeiras todas, a banquinha do computador, o sofá deu para aproveitar, porque eu coloquei no sol. E a gente está nessa, esperando esse cartão. Eu mesmo trabalho avulso, não tenho emprego, não tenho condições de ir para a rua, comprar um guarda-roupa, uma mesa, porque como é que eu vou pagar? Hoje, a gente ganha, amanhã a gente pode não ganhar. E não é só eu que trabalho avulso, daqui da rua, várias amigas trabalham assim também, meus vizinhos. Então estamos aguardando a  solução do pessoal da prefeitura, o que é que vão fazer com a gente”

“Meu nome é Karine, do Brasil Novo, e eu falo em nome de minha mãe e dos vizinhos aqui. A gente não quer nada mais do que se tem direito, que é o cartão para tentar comprar alguma coisa de tudo que o se perdeu, porque várias pessoas perderam muitas coisas. A gente só quer que venha a vistoria e que eles liberem o cartão, porque com o valor do cartão dá para comprar o que for de mais urgência. Como Néa falou, aqui na rua tem vários autônomos; ela trabalha com salgado, minha mãe com salgado, o outro vizinho com salgado, e várias pessoas que não tem carteira assinada, que não têm condições, que tinham as coisas dentro de casa conquistas com muito esforço e que acabaram perdendo. Então a gente só quer o nosso direito, a gente não está exigindo nada que a prefeitura não tenha como dar, nada dos outros, a gente não quer nada de ninguém, a gente quer o que todo mundo tem direito, que é o cartão para tentar estabilizar a vida de alguma forma, só isso. Então, nós do Brasil Novo, da Urbis IV, iremos nos unir para poder ter direito ao que é nosso, porque foram feitos os cadastros, foram divulgados o número de famílias que tinham feito o cadastro, 3,5 mil famílias, então a gente espera que as 3,5 mil famílias  que fizeram o cadastro recebam o cartão. Tem gente recebendo indevidamente, em casa que está desocupada, em casa que eles alugam e o dono já recebeu, pessoas na mesma casa, várias pessoas recebendo e quem realmente está precisando não está recebendo. A gente só quer justiça, que quem precisa receba”.

O grupo planeja um protesto, caso a prefeitura não dê uma explicação, mande um responsável para conversar com a comunidade ou ainda o serviço social não vá fazer a vistoria.