Por Walmir Rosário
E naquela bucólica Macuco, Nininho levava uma vida tranquila, como qualquer garoto de sua época, estudando, brincando e jogando futebol. E foi justamente no futebol que ganhou seu segundo apelido: Sputnik, por ser um atacante ágil e habilidoso, como o primeiro satélite russo lançado ao espaço. E assim ele ficou conhecido no mundo futebolístico.
A casa de Nininho ficava em frente a um campinho, na cidade alta, onde jogava com os filhos de sêo Ildefonso Lins – Ernandi, Amail Lismar e Manuel Lins. E ali as pessoas da cidade baixa, viam os meninos jogar, e ele já se destacava. Aos 13 anos, Paulo Portela, diretor do Brasil Esporte Clube, o time forte da época, o colocava na reserva, e sempre o mandava para o jogo. Destacou-se no futebol.
Aos 17 anos, Nininho recebe a indicação do craque Santinho para o Fluminense de Itabuna. Em 1955 veio treinar no Flu itabunense, ano em que já participou do campeonato, mesmo ainda morando em Macuco. Na sua estreia pelo Fluminense marcou muitos gols e se destacou como um dos artilheiros ao lado de Santinho, Humberto César, Carrapeta, Brício, e outros craques.
E o centroavante Nininho, agora, Sputnik, se destacava pelos gols que fazia. Os zagueiros não dormiam direito quando sabiam que iriam marcá-lo no dia seguinte. Era rápido e abusado. Partia para cima dos zagueiros, fazendo o um-dois, tocando e recebendo na frente, até chegar na cara do goleiro. Aí ficava fácil marcar os gols e ser o artilheiro festejado.
E o menino franzino não tinha medo de gente grande. Driblava, marcava gols bonitos, do jeito que a torcida gostava. Craque e ainda por cima artilheiro de gols inesquecíveis. Reconhecido como um craque do futebol itabunense na década de 1950, Nininho ou Sputnik foi convocado para a brilhante Seleção Amadora de Itabuna.


NININHO, O SPUTNIK
E na seleção em 1955, 56, e 57, teve seu melhor desempenho. Em 57 foi quando a seleção realmente se entrosou e ganhou o primeiro Intermunicipal. Na verdade, foi o segundo título de Sputnik no ano, pois ganhara o Torneio Antônio Balbino meses antes. Em 57, foi o artilheiro do campeonato, jogando demais naquele certame. Foi aí que teve oportunidade de ir para o Rio de Janeiro.
Na verdade, em abril de 1957 Nininho teve a grande chance de sua vida, ao ser convocado para a Seleção de Itabuna, para a disputa do torneio Governador Antônio Balbino, do qual se sagrou campeã do certame. O torneio foi uma novidade e encheu de orgulho os itabunenses, pois era a primeira participação da Seleção de Itabuna em uma competição como essa, em Salvador, a capital baiana.
E foi tudo muito especial: se comemorava o aniversário do governador Antônio Balbino e a iluminação do Estádio da Fonte Nova. Festa nacional, com a presença do presidente Juscelino Kubitschek, o ministro da Guerra, Marechal Henrique Lott, e o próprio governador homenageado. E a Seleção de Itabuna tomou conta da festa ao se sagrar campeã.
Em Salvador, na quinta-feira (4 de abril) Itabuna joga contra a Seleção de Feira de Santana, que saiu à frente no marcador, até que Nininho, o Sputnik marca o gol de empate. Decisão por pênaltis, na série de cinco pra cada time, batidos por um só jogador. Na primeira série, 5X5; na segunda, 5X5; na terceira, cinco gols de Santinho e quatro gols de Feira de Santana. Todos os pênaltis de Itabuna foram batidos por Santinho e o goleiro itabunense Carlito pegou um.
No sábado – 6 de abril –, Itabuna disputa a final contra a Seleção de Alagoinhas e vence pelo placar de 2X0, gols do capitão Zequinha Carmo. E aí foi aquela sensação maravilhosa, de ganhar o primeiro torneio. E os jogadores foram condecorados com medalhas pelo presidente da República, o governador do Estado e pelo ministro da Guerra, que entregou a medalha a Nininho.
E a seleção campeã chega a Itabuna num avião da Real e é recebida por uma multidão no aeroporto Tertuliano Guedes de Pinho. Nininho e seus colegas foram tratados como heróis, com o comércio fechado em homenagem à seleção vitoriosa. Na praça Adami, palanque e muitos discursos. Os jogadores se sentiam queridos pelos torcedores. Uma vitória inesquecível para Nininho.
O reconhecimento financeiro pela vitória chegava em forma de presentes, oferecidos pelos dirigentes, já que como amadores não recebiam salários. Aos atletas eram oferecidos empregos, para que pudessem conciliar a prática do esporte com o trabalho. No segundo semestre de 1957, A seleção de Itabuna participa e vence o Campeonato Intermunicipal Amador da Bahia. É campeã!
Nininho recebe várias propostas de emprego para continuar em Itabuna, mas pretendia jogar fora: O sonho do Sputnik era jogar e brilhar no Maracanã. E foi!
Walmir Rosário é radialista, jornalista e advogado
1 comentário
O homem mais importante da minha vida : meu pai!