Domingos Matos
Outro dia, depois de me dar conta de que já não via mais alguns amigos como gostaria, aceitei o convite para ingressar no Facebook, enviado por um desses que se distanciaram. O que há demais?, pensei. E lá fui. Seria bom testar a nova onda dos relacionamentos sociais, desses mediados por um sistema eletrônico – logo eu, que resistira bravamente ao velho Orkut…
Primeiro dia.
Algumas pessoas descobriram que eu ingressara na rede, aceitei vários convites de contatos. Fiz “amizade” com vários desconhecidos, mas que já estavam em minha caixa de email, que foi devidamente lida pelo sistema. Para ser amigo, basta estar na rede de emails de um ou outro “amigo” comum. Legal, não?
O contrário é que pode ser bastante cruel: não estar no Face de alguém é o fim. “Não sei quem é fulano. Ele não está no meu Facebook”. “Como iria lembrar seu aniversário? Você não está no meu Facebook, meu bem.” Acredite. Já ouvi isso de uma usuária fiel.
Ainda no primeiro dia, vi algumas mensagens, que eram direcionadas por e para pessoas que não me diziam o menor respeito. E a máquina lá, mandando eu dizer se havia “curtido” algo. Não curti nada.
Segundo dia.
Bem, não houve segundo dia.
Fiquei com medo de, numa bela noite, depois de um dia de trabalho, chegar em casa e chamar a polícia para minha esposa.
Talvez eu seja um ET, mas ainda adoro receber um beijo e um abraço. Como aceitaria um abraço de alguém que não está em meu Facebook?
P.S.: abro a caixa de email e vejo agora uma mensagem: “Você não tem retornado ao Facebook”. Vade retro!!!
Domingos Matos é jornalista e blogueiro; editor do jornal Agora e d’O Trombone, além de futuro ex-usuário do Facebook