Por Walmir Rosário
Ultimamente temos lido boas notícias para a cacauicultura brasileira, uma esperança para o Sul da Bahia. Entre elas a elevação do preço do cacau no mercado internacional, consequentemente, mais dinheiro no bolso do cacauicultor, embora o preço do dólar em relação ao real tenha sofrido leve queda. Mas os senhores podem ficar sossegados que não tratarei de economia, pois não possuo conhecimento suficiente para tal.
O que pretendo é deixar bem evidenciada a mudança ocorrida no Sul da Bahia – a região cacaueira –, em que uma notícia alvissareira em anos passados, sequer é tratada na mídia como simples informação. Caso o cidadão que não faça parte da cadeia produtiva do cacau não busque os veículos de comunicação especializados na matéria, a notícia continuará desconhecida. E olha que o cacau já foi nosso principal produto econômico.
Atualmente, o cacau sequer aparece nas discussões presentes na sociedade, após a Ceplac ser internada na UTI, sem direito a boletim médico com informações sobre sua enfermidade e qual a reação ao tratamento. Ao que parece, entrou em estado vegetativo e não teve os aparelhos que a mantém nesse estado desligados por interesses outros desconhecidos do grande público.
É triste, porém real, que a instituição responsável pelo soerguimento da economia de uma imensa região receba o tratamento há muito dispensado. Uma antiga locução a designaria com absoluta realidade: “morrendo à míngua”. O que foi criado para ser um amplo hospital para a atividade cacaueira, num exemplo chulo, se transformou numa enfermaria na qual vemos, a cada dia, morrer os técnicos responsáveis pela sua sobrevivência.
Pecados foram cometidos e não há como escondê-los, o que não justificaria condenar a instituição a arder eternamente no fogo do inferno, com meu pedido de perdão a tamanha e estapafúrdia comparação. Se a instituição não mais se justifica, que seja extinta de uma vez e repasse suas obrigações e o que resta do pessoal a outras empresas estatais, inclusive suas instalações, abandonadas em dezenas de cidades, muitas delas ocupadas pela marginalidade.
Impossível acreditar que a Ceplac não soube se adequar aos novos tempos. Conversa fiada. Basta uma olhada nos seus antigos projetos e programas para constatar as propostas de mudanças, calcadas na diversificação das atividades econômicas regionais. O incentivo às cooperativas, à verticalização da cacauicultura com a produção do chocolate “caseiro”, isso após o melhoramento genético e o uso de práticas agrícolas adequadas.
E todas as iniciativas visaram consolidar o agrobusiness regional por meio da exploração vertical dos imóveis rurais com gestão empresarial, incentivando a produção, com qualidade e baixo custo, para competir num mercado cada vez mais globalizado. Também demonstrou que o importante não era produzir muito, e sim produzir dentro de padrões adequados e compatíveis como o tipo de atividade.
Antes e depois do nefasto ataque da vassoura de bruxa nos cacauais do Sul da Bahia a Ceplac trabalhava com afinco para abrir a mentalidade do cacauicultor, muitos dos quais se conscientizaram para a necessidade de evoluir. Os que entenderam passaram a mudar os métodos de produção, salvando suas galinhas dos ovos de ouro, com investimentos dentro das possibilidades individuais.
Outros, entretanto, sucumbiram, por motivos diversos cuja avaliação não cabe nesse escrito. A produção de cacau fino é hoje uma afortunada realidade, cujos preços são de fazer inveja, com ganhos muito acima dos publicados do cacau comum – dito superior – nas bolsas de Londres e Nova Iorque. Prêmios e honrarias são concedidas a nossos cacauicultores que embarcaram nesse nicho e navegam em mar de almirante.
Aos poucos, e a olhos vistos, conseguimos enxergar uma mudança benéfica no comportamento regional dos que acreditaram na cacauicultura como um excelente ramo de atividade. Aprenderam que precisam conviver amigavelmente com os fatores da natureza, especialmente os climáticos, para conseguir os resultados pretendidos na cultura, driblando ou se antecipando aos vários fatores adversos.
Pela experiência adquirida nos ensinamentos da Ceplac de outras instituições, os novos cacauicultores continuam enfrentando as adversidades climáticas, os baixos preços no mercado internacional, a infestação da vassoura de bruxa, os índices de endividamento, até mesmo a má vontade do mercado em importar cacau africano de qualidade duvidosa. Muitos ainda continuam nessa dependência, seja por imobilismo ou descrédito no que faz.
Os cacauicultores que passaram a ver o seu produto como chocolate, e não como simples commodity, estão bombando num mercado crescente, cujos consumidores estão ávidos pelas boas novidades. Uma dúvida que aflige a poucos é se a contribuição da Ceplac, mesmo com os poucos cientistas que restam não poderia acrescentar mais benefícios à atividade? Já imobilizada, como está, apenas gasta os recursos escassos da sociedade.
Walmir Rosário é radialista, jornalista e advogado