Por Arnold Coelho
Marrocos entrou para a história das Copas do Mundo por ser a primeira seleção africana a chegar a uma semifinal da competição. A seleção marroquina ficou em quarto lugar na Copa do Catar e todo o continente africano vibrou com tal feito e o mundo, de uma forma hipócrita (para não dizer irônica), bateu palmas para essa “evolução” do futebol africano.
Vou tentar ser breve e mostrar, com a ajuda do Google, que existe uma enorme injustiça com o futebol e o continente Africano. Negros ou afrodescendentes (de origem africana) jogam bola, participam de Copas do Mundo por outras nações e ganham esses torneios. A África, apesar de não ter seleções campeãs, sempre produziu, exportou ou gerou campeões.
Em 1938, na terceira Copa do Mundo, um brasileiro, de origens africanas, como todo negro no Brasil, foi o “cara” daquela Copa, sagrando-se artilheiro e levando o Brasil ao terceiro lugar. Leônidas da Silva, ou o Diamante Negro, simplesmente popularizou o gol de bicicleta no mundo.
Em 1950, na Copa do Brasil, o país jogou a culpa – pela perda da copa dentro do Maracanã lotado (para o Uruguai) – no goleiro Barbosa. Muitos dizem que precisava ter um culpado e a escolha foi pelo goleiro, que por ironia, era negro. Tínhamos outros negros no plantel. O mundo ali começou a conhecer a força do negro afrobrasileiro no futebol.
Em 1958 veio o primeiro título mundial do Brasil (na Suécia) e os protagonistas foram Pelé, Garrincha, Djalma Santos e o maestro Didi (Folha Seca), todos negros e com sangue de origem africana nas veias. Em 1962 a história se repetiu e o negro brasileiro (com DNA africano) virava protagonista e herói de uma nação e o futebol “negro” do Brasil passou a ser idolatrado na África, parando até uma guerra.
Em 1966, na Inglaterra, o mundo conheceu o Pantera Negra Eusébio, jogador português nascido na então Província Ultramarina de Moçambique durante a época colonial. O negro Eusébio desbancou Pelé naquela Copa e foi o artilheiro da competição, colocando Portugal no cenário internacional do futebol.
Os negros afrobrasileiros voltaram a ser protagonistas em 1970 com o Rei Pelé e sua trupe, formada por Jairzinho, Brito, Marco Antônio, Paulo César e Zé Maria. O DNA africano ganhava mais uma Copa e um afrodescendente se imortalizava como Rei do Futebol.
Em 1994 ganhamos o tetra com os negros, morenos ou de origem afrodescendente (termo que surgiu para amenizar o racismo no Brasil). Romário, Márcio Santos, Aldair, Mazinho, Cafú, Mauro Silva, Ronaldão, Paulo Sérgio, Müller, Ronaldinho e Viola trouxeram o quarto caneco para o país “mais negro” fora do continente africano.
Em 1998 a seleção francesa ganhou o seu primeiro título mundial com um time cheio de negros, ou multiétnicos, como eles gostam de denominar. Na época parte da imprensa francesa e opinião pública olharam com desconfiança para a conquista, pela grande quantidade de descendentes de imigrantes do continente africano. Em 1998 grande parte dos jogadores dos Azuis eram negros, entre eles Thuram, Desailly, Karembeu, Vieira, Trezeguet e Henry.
O Ronaldinho de 94 virou Ronaldo, o Fenômeno de 2002, e mais uma vez a seleção brasileira – recheada de afrodescendentes – voou em campo asiático e ganhou o penta, comandada por Ronaldo e a sua turma do pagode, formada ainda por Ronaldinho Gaúcho, Rivaldo, Cafú, Roberto Carlos, Edilson, Denilson, Roque Júnior, Vampeta, Júnior, Dida, Gilberto Silva e Kléberson.
A história se repetiu esse ano na Copa do Catar e os “negros maravilhosos” da seleção francesa (frase dita pelo locutor Luis Roberto), apesar do vice-campeonato mundial, mais uma vez encantaram o mundo do futebol.
A França mais uma vez montou uma seleção recheada de afrodescendentes, como Areola, Mandanda, Konaté, Koundé, Varane, Disansi, Saliba, Upamecano, Camavinga, Tchouaméni, Fofana, Coman, Marcus Thuram, Dembélé, Kolo Muani e Mbappé, que caminha para ser o sucessor de Pelé. O menino de pele escura é filho de um camaronês radicado na França.
Poderia citar negros africanos em outras seleções europeias (Holanda, Bélgica, Alemanha, Portugal, Suíça) que participaram dessa e de outras copas e marcaram a história do futebol, mas o artigo ficaria tão grande quanto o continente africano.
Então, o mundo do futebol é ou não é injusto com a África? O continente pode não ter uma seleção campeã, mas tem muitos campeões mundiais de origem negra com DNA africano.