Daniel Thame | www.danielthame.blogspot.com
Francisco Everaldo Oliveira Silva, o Tiririca, é um misto de "cantor", animador de auditório e palhaço, que fez um sucesso retumbante tempos atrás, com uma música impagável e hoje sobrevive do que lhe restou da fama, fazendo papéis secundários na televisão.
Um daqueles fenômenos que após os 15 minutos de fama estão fadados ao desaparecimento ou a circularem como fantasmas de si próprios em cirquinhos mulambentos nos vilarejos perdidos no mapa.
Mas, Tiririca não está fadado ao desaparecimento nem aos picadeiros decadentes. Ao contrário, está de novo sob os holofotes, agora naquilo que deveria ser uma coisa séria, mas que às vezes se parece com o mais risível dos picadeiros no mais ordinário dos circos.
Pelas artes da política, essa atividade que deveria servir ao povo, mas que em muitas ocasiões serve para, involuntariamente, fazer o povo rir, Tiririca virou candidato a deputado federal em São Paulo, pelo Partido Republicano (poderia ser pelo Partido do Casseta & Planeta, o Partido do Pânico na TV ou o Partido do CQC, não faria diferença).
Já que é para fazer palhaçada, Tiririca adotou um slogan impagável e grudento: "Vote em Tiririca, pior do que está não fica".
Algo como se dissesse: "nessa merda toda que está aí, escolha pelo menos uma merda engraçada".
Ou, "já que vão te fazer de idiota mesmo, pelo menos eleja alguém tão idiota quanto você".
Pode parecer, mas Tiririca não é propriamente uma piada. Ele foi escolhido pelo PR com uma precisão cirúrgica, porque com certeza acolherá uma imensidão de eleitores que, insatisfeitos com a classe política, votarão nele como forma de protesto ou por sacanagem mesmo.
Assim, Tiririca não apenas será eleito deputado federal como puxará votos suficientes para que seu partido eleja outros deputados federais.
E você, aí, eleitor, achando que Tiririca é mais uma aberração numa eleição em que aberrações saltam aos borbotões no horário eleitoral gratuito.
A prova de que ele é menos um palhaço do que uma estratégia bem elaborada foi o número que ganhou da legenda: 2222, o de mais fácil memorização.
Ao contrário do que brada o palhaço-candidato (ou o candidato-palhaço, vá lá que seja), às vezes pior que está, fica.
Com ou sem o nobre Tiririca.
E se é para fazer piada, vamos lá: "use seu voto como papel higiênico: limpe o país dessa merda toda".
Haja papel higiênico…
Daniel Thame é jornalista, blogueiro e autor do livro "Vassoura"