Leila Vilas Bôas
Perdi mais um menino. Estou de luto. Para muitos só mais "um traficantezinho que já estava na mira", pra mim, tinha um nome, um sorriso, um sonho dentre muitos: ver a filha crescer e se casar!
O que eu, no mergulho da minha experiência veterana, não consigo deixar de refletir e constatar com minhas lágrimas, é que falhamos! Falhamos como sistema de garantia de direitos, falhamos como educação formal, falhamos como mídia, falhamos como adultos que somos, com obrigação de sermos modelo, de protegê-los, de orientá-los, segundo designa o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA). Falhamos, e por isso, perdemos os nossos meninos diariamente, assim tem sido… que missão árdua essa nossa. Será que o próximo será meu??
Jovem é para viver, crescer, amar, ter opções de escolhas. Entretanto, confirmo com muito temor que para os nossos restam poucos caminhos. Diante disso, escolhe-se o que mais seduz, que fortalece a "síndrome do super homem", da "onipotência", tão característica nessa fase… mas eles morrem, nossos super meninos morrem…
As explicações, elucubrações, são tantas, diversas e em tantas direções: quem começou a falhar? Quem é o pai do erro, da falha? Quem será a mãe que parirá a solução? Enfim, hoje não tenho intenção de tentar fazer análises sociológicas ou psicológicas, apenas constato, com a minha dor, que perdi mais um menino, que vi mais uma mãe perder o seu tesouro, mais uma vida sendo ceifada no auge de sua existência.
São necessárias medidas urgentes de todos os atores sociais que estão envolvidos nesta problemática. Tenho a sensação de que vivemos uma onda de "extermínio" de adolescentes neste contexto da nossa cidade. São eliminados, viram estatísticas, se esquece o nome, até o próximo e… a vida continua, desliga a TV meio dia, trabalho, por favor, um café…
Precisamos de ações urgentes para analisar com consistência e construir estratégias para atingir de maneira significativa esse problema, sob pena de que nossa cidade seja lembrada, que nossa sociedade seja futuramente referida como aquela que foi inerte e omissa em relação a essa "carnificina" de jovens.
Os caretas vivem mais. E os adolescentes devidamente assistidos pelas políticas públicas, pela família, pela escola, que recebem condições e vivenciam o auto cuidado, também. Infelizmente, aquele sorriso tímido, porém sincero, se foi antes de poder usufruir de uma vida diferente, com escolhas mais conscientes e lúcidas…
Perdi mais um menino, mas não quero perder minha esperança.
Leila Vilas Bôas é psicóloga das Unidades de Execução de Medidas Sócio Educativas em Itabuna e Ilhéus e trabalhou na Fundação Reconto no período de 2005 a 2009.