Daniel Thame | www.danielthame.blogspot.com

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– Os traficantes aí de carro, de moto, na boa e a gente aqui fodido…
– Você é otário, que dá dinheiro pra eles…
– Então você também é otário, porque também compra as pedras na mão deles…

E os dois "otários" flagrados nessa conversa deitados numa calçada no centro de Itabuna, visivelmente sob o efeito do crack, foram vistos logo depois perambulando pelas ruas, como dois zumbis, pedindo alguns trocados a quem encontravam pela frente.

Um aparenta 12 anos, outro 14. Adolescentes, como dezenas de outros adolescentes que podem ser encontrados pelas ruas ou então reunidos numa área próxima ao Centro Comercial de Itabuna, muito apropriadamente apelidada de "Cracolândia".

Obviamente que não se tratam de otários, mas de vitimas de uma droga relativamente barata, de efeito devastador, que se alastrou como uma praga incontrolável, a partir de São Paulo, para atingir grandes, médias e pequenas cidades Brasil afora e Brasil adentro.

Itabuna não é exceção.

Embora não se disponha de dados oficiais, o consumo de crack atinge nível alarmantes e é a base de uma infinidade de pequenos furtos e roubos, onde celulares, relógios, eletrodomésticos e roupas são levados para serem trocados por pedras de crack, uma pedra que "exige" sempre mais do seus usuários.

É o crack também a motivação para um sem número de assassinatos, geralmente consumidores que não conseguem pagar o débito com traficantes e morrem por causa de 5, 10, 15 reais.

É, além disso, uma das razões para que Itabuna seja considerada uma das cidades brasileiras em que os jovens estão expostos aos maiores riscos de violência. Uma reação de causa e efeito.

O crack é menos um problema de polícia e mais um problema social, que está a exigir uma ampla mobilização por parte das autoridades e da sociedade civil organizada.

Um problema que atingiu tamanhas dimensões que não se resolve apenas com repressão, embora ela seja necessária, especialmente no que concerne o combate ao tráfico, que muitas vezes é feito abertamente, diante de uma inacreditável cegueira policial.

É preciso que se realizem ações efetivas, que se criem oportunidades para que os jovens não adentrem o caminho sem volta das drogas e do tráfico, que se dote a periferia carente e abandonada de serviços públicos e programas de inclusão social.

E que o usuário de crack não seja tratado como infrator, mas como um doente que precisa de cuidado, atenção.

Porque otário mesmo é quem assiste à deterioração da juventude e permanece de braços cruzados.

Daniel Thame é jornalista, blogueiro e autor do livro "Vassoura", que será lançado em breve