Candidatos que fizeram concurso público na cidade de Conceição da Feira, a 120 quilômetros de Salvador, denunciaram irregularidades no certame que aconteceu em dezembro do ano passado. Após denúncias, o Ministério Público e a Polícia Civil começaram a investigar o caso.
A maior reclamação dos candidatos é de que os primeiros colocados do concurso são todos parentes de vereadores da cidade. Os moradores também reclamam de irregularidades na fiscalização das provas.
A técnica de enfermagem e pedagoga Julineide Cerqueira fez duas provas, para os cargos de serviços gerais e pedagogia. A mulher reclama da postura dos fiscais de sala, que segundo ela, se concentravam na porta do local e também não acompanhavam os candidatos que queriam ir ao banheiro.
“Depois do concurso, vi os comentários de outros participantes que houve fragilidade na banca. Eles disseram que não teve fiscalização para ir ao banheiro, pessoas conversando na sala e não teve chamada de atenção”, contou.
“O que mais ficou gritante foi depois do resultado. Os familiares dos vereadores da bancada do prefeito, que são nove, todos em boas colocações. Parentes da vice-prefeita também e pessoas ligadas à gestão municipal”, reclamou Julineide.
A professora Gláucia Souza Conceição é uma das candidatas que reclamam do resultado do concurso. “Eu fiquei na 10ª colocação, sendo que eram duas vagas e cinco suplentes. A tristeza foi ao conhecer algumas pessoas que prestaram o concurso e ver que pessoas íntimas, não minhas, mas de pessoas da prefeitura, ocuparam uma colocação que você percebe que não era para estar naquela colocação”, contou.
Mariana Ramos fez a prova para o cargo de orientadora social, após estudar por três meses, e também não conseguiu se classificar.
De acordo com o promotor de justiça Marcel Bittencourt, o Ministério Público vai apurar as denúncias do concurso público.
“Imediatamente, o Ministério Público começou a investigação para apurar uma possível frustração da licitude do concurso, e isso constitui alto de improbidade administrativa, motivo pelo qual o Ministério Público instaurou o inquérito civil para apurar essas notícias de supostas fraudes que teriam acontecido nesse certame, com vazamentos de gabaritos ou vazamento de controle da prova, que por ser um material sigiloso, evidentemente, não poderia ser disponibilizado para quem quer que fosse”, contou o promotor.
Segundo Marcel Bittencourt, caso a fraude seja confirmada, os candidatos classificados que forem apontados como participantes do crime devem ser expulso da lista.
“Anular o concurso. Se as pessoas que foram beneficiadas por essas fraudes forem precisamente identificadas, elas serão expulsas da lista de classificação do concurso e as demais que não participaram do suposto congonho, serão aproveitadas regulamente pela administração pública, desde que aprovadas, mas se não for possível estabelecer os que foram precisamente beneficiados dos que não foram, o concurso será anulado por fraude”, disse Marcel Bittencourt.
Em nota, o procurador do Município Ricardo Dantas, disse que a prefeitura realizou um processo de licitação e nesse período duas empresas se inscreveram. Ele falou que a prefeitura vai abrir uma sindicância para apurar a situação do concurso.
A reportagem procurou a empresa Suprema, responsável pelo concurso, mas ela não quis se pronunciar sobre a denúncia dos candidatos. A empresa contou que está há cinco anos no mercado, já realizou mais de 20 concursos, nas cidades de Candeias, Feira de Santana e no estado do Espírito Santo.
Segundo a empresa, o edital do concurso foi lançado no dia 28 de agosto do ano passado. As inscrições aconteceram entre 2 a 27 de setembro. Foram oferecidos 128 vagas e cadastro reserva.
Cerca de 10.172 pessoas se inscreveram no concurso público, que foi realizado no dia 15 de dezembro. Cerca de três mil pessoas fizeram a prova na cidade de Conceição da Feira e outras sete mil tiveram que se deslocar para Feira de Santana. O caso vai ser investigado na delegacia de Conceição da Feira. (Com informações do G1)